A bordo de um barco portátil à vela, o velejador se prepara para uma jornada de cerca de três milhas náuticas margeando as calotas polares
Com quase 30 anos de vivência nos mares e sete viagens transoceânicas no currículo, o velejador Beto Pandiani se prepara para enfrentar, aos 64 anos, a travessia mais ousada de sua carreira. Ao lado do também velejador Igor Bely e a bordo de um barco portátil à vela, ele parte em uma viagem de aproximadamente 100 dias pelas águas congeladas do Ártico. A intitulada “Rota Polar” tem saída prevista para o dia 30 de maio, com trajeto partindo do Estreito de Bering, no Alasca, em direção à Groenlândia, em uma jornada de cerca de três milhas náuticas margeando as calotas polares.
Imprevisível, o sucesso da viagem depende do degelo espontâneo da lendária Passagem Noroeste, via atlântica conhecida por seu caráter traiçoeiro. “Muitos navios já naufragaram nesse caminho. Ultrapassá-lo só é possível uma vez por ano, durante os dois meses de verão – e, ainda assim, o descongelamento completo pode não acontecer. A última vez que a passagem se abriu plenamente foi em 2019, e torcemos para que ela esteja livre quando a alcançarmos, em meados de julho. Estamos jogando com o risco”, comenta.
Para acrescentar doses de aventura, o trajeto será enfrentado a bordo de um catamarã – embarcação com dois cascos, sem cabine e sem motor, movida apenas pela força dos ventos. Nos dias de calmaria, sem o impulso da brisa marítima, pedalinhos acoplados ao navio permitirão que a dupla siga viagem. Na mala, apenas o estritamente necessário: alguns pacotes de alimentos desidratados e mudas de roupa com isolamento térmico, para caso seja necessário nadar pelo mar congelado. “Nem água poderemos levar, não há espaço. Vamos usar dessalinizadores manuais para transformar a água oceânica em potável, em um procedimento diário de quase 1h30 de trabalho braçal.”
A ousada travessia será rastreada em tempo real pela marinha canadense, e sistemas de comunicação via satélite permitirão que a dupla se mantenha conectada e alimentando as redes sociais com vídeos, fotos e atualizações de bordo. Ao final do trajeto, todo o material coletado será compilado em um documentário, que deve chegar aos cinemas no segundo semestre de 2023. “Mais que um diário de viagem, estamos comprometidos a produzir um conteúdo educativo. Vamos conversar com cientistas e geluítes do Hemisfério Norte para entender os efeitos das mudanças climáticas na região, e todas as informações que colhermos serão encaminhadas a um grupo de professores brasileiros que as transformará em material didático para alunos do ensino médio. Se minhas outras viagens foram fruto da paixão pelo mar, essa eu quero que seja agente de uma conscientização necessária”, finaliza.
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