Nas estradas brasileiras com sua turnê comemorativa “Barítono”, Lulu Santos chega aos 70 anos com um legado artístico glorioso, em paz com a sua voz e pronto para o futuro
Voz masculina entre o tenor e o baixo”. Essa é a definição de um barítono, segundo o dicionário da língua portuguesa. E é também a última descoberta pessoal e profissional de Lulu Santos, que apenas recentemente deixou de lado os tons agudos para cantar no timbre de voz que lhe é natural e confortável: barítono.
“Admiti tardiamente várias coisas importantes sobre mim, entre elas o fato de ser um barítono. Desde que ‘assumi’ essa condição, facilitou enormemente minha vida e arte. O primeiro passo foi em 2000 quando gravei e lancei o álbum Acústico, ali, por conforto e sabedoria, baixei um tom de boa parte do repertório e funcionou perfeitamente. Mas o estalo mesmo aconteceu recentemente, coisa de dois anos atrás, conversando com Caetano Veloso, que concordou comigo que, diferentemente da grande maioria dos cantores populares, em geral tenores, meu registro mais grave me faz um barítono, ainda que um barítono ligeiro. Percebi que se baixasse mais um tom, algumas canções voltariam a ser cantáveis sem sobressaltos ou esforço. Sou barítono com paixão, gosto dos graves, gosto de como minha voz soa assim”, reflete.
Ser cantor é apenas uma das muitas versões de Lulu Santos, que também é compositor, produtor musical e um exímio guitarrista, que merece seu lugar entre os grandes nomes mundiais. Com sete décadas de vida recém-completas em maio deste ano, o artista dono de hits imortais como “Toda Forma de Amor”, “Assim Caminha a Humanidade”, “Tempos Modernos” e “Um Certo Alguém”, acabou de rodar os Estados Unidos com sua turnê comemorativa “Barítono” – nome muito apropriado –, que passou por cidades como Miami, Orlando, Chicago, Nova York e Los Angeles, e estreia agora em junho seu giro pelo Brasil, que se estenderá até novembro. No repertório, ao lado de seus maiores sucessos, estão lançamentos recentes como “Presente”.
No dia de seu aniversário, 4 de maio, para dar início às comemorações, ele fez uma apresentação ao vivo direto do Rio de Janeiro, sua cidade natal, que foi transmitida pelo Globoplay e Multishow. O especial foi recheado de momentos marcantes, como no hit “Toda Forma de Amor”, que ganhou um remix com funk e uma letra mais inclusiva no verso “Eu sou um homem, você é o que quiser”.
Em terras tupiniquins, entre as cidades escolhidas para levar “Barítono” estão São Paulo, São José dos Campos e Volta Redonda, ainda este mês; Florianópolis, Porto Alegre e Rio de Janeiro, em julho; Curitiba, Goiânia e Brasília, em agosto; Belo Horizonte, Manaus, Belém e Aracaju, em setembro; Salvador e Maceió, em outubro; e Criciúma, em Santa Catarina, onde finaliza a turnê em 18 de novembro.
O tempo voa
Luiz Maurício Pragana dos Santos é carioca da gema, nascido em Copacabana, e despertou para a música logo cedo. “Quando tinha cinco anos minha família relocou para os Estados Unidos. Na casa em que morávamos em Rantoul, Illinois, havia um piano no qual se manifestou a minha curiosidade sobre as notas musicais e suas possibilidades”. E não faltaram inspirações em instrumentistas nacionais e internacionais. “Tenho sempre algo a aprender com alguém, foi assim que me formei. A princípio, foi a chamada ‘Invasão Britânica’ do início dos anos 1960 que me capturou, os grupos de pop ingleses e logo após seus pares americanos me engatilharam para o som da guitarra elétrica. As guitarras dos Beatles, Stones, The Who e mais tarde os grandes nomes do blues foram meu farol. No Brasil, Sergio Dias, Lanny Gordin e Pepeu Gomes também foram fundamentais.”
Já sob o nome artístico Lulu Santos, estreou de fato no universo musical em 1982, quando lançou seu primeiro disco “Tempos Modernos”. Antes disso, na década de 1970, ele fez parte da banda de rock progressivo Vímana, que tinha como integrantes Ritchie, Lobão, Luiz Simas, Fernando Gama e o suíço Patrick Moraz, ex-integrante do Yes. Já em 1985, Lulu se apresentou na primeira edição do Rock in Rio, que contou com nomes como Queen, Rod Stewart, Paralamas do Sucesso e Blitz.
De lá para cá, lançou um hit atrás do outro e gravou seu nome na história da música brasileira. Em 2019, o álbum “Pra Sempre” celebrou seu novo momento de vida, ao lado do marido Clebson Teixeira. E depois de tantos anos de carreira, compor continua um processo profundo e não necessariamente mais fácil. “Não é sobre fácil ou difícil, é mais sobre a necessidade de dizer algo em algum momento. Sempre caberá um comentário sobre o que se vive, individual e coletivamente. Tecnicamente também fiquei mais proficiente, me custa menos esforço, tempo e energia para chegar aonde quero. Sei reconhecer melhor meus limites”, define.
Com 10 milhões de discos vendidos, mais de um bilhão de streams nas plataformas digitais de música e milhões de seguidores nas suas redes sociais, o cantor faz um balanço da vida até aqui. “Faço o doce balanço a caminho do mar. Para o navegador, é sempre uma remada depois da outra e quando se vai ver, já foram 70 léguas. Quem diria… Se por um lado, com o uso, algumas peças e juntas comecem a apresentar desgaste, por outro, o mesmo uso e o tempo conferem uma sapiência acerca dos próprios recursos e como otimizá-los”, reflete. E se você pensa que os shows são sempre redondinhos, Lulu destaca sua memória mais curiosa da longa estrada profissional: “A sensação das calças que eu não havia experimentado caindo em cena pelas pernas na última estreia em São Paulo. Pode parecer ridículo, mas você ter que se concentrar em cantar, tocar, operar equipamentos e se relacionar com um público numeroso com as calças caindo não é exatamente simples”, diverte-se.
Tempos modernos
É importante incluir nessa balança mais uma faceta que o aproximou ainda mais do público: a de jurado do programa “The Voice Brasil”, da Globo. Sentado na famosa cadeira vermelha giratória há 11 anos consecutivos, sendo o único jurado a participar de todas as edições, ele destaca a importância do reality show na sua vida pessoal e profissional: “O The Voice é um jogo recheado de aprendizado e amadurecimento, é uma chance de compartilhar e uma oportunidade de repensar meu próprio desempenho vocal, minhas possibilidades e limitações. E muito disso está na meditação que nos traz ao episódio ‘barítono’. Mas sou exatamente a mesmíssima pessoa, sem tirar nem pôr, no palco ou sentado na plateia ajudando outros profissionais. Tenho absoluta certeza de que foi o desempenho do artista de palco que fez com que os diretores do programa me selecionassem para o papel, no qual me sinto absolutamente confortável”, analisa. Lulu Santos ganhou a 3ª temporada do programa, em 2014, como técnico da dupla sertaneja Danilo Reis e Rafael, que originalmente pertencia ao time de Daniel e foi salva da eliminação por ele, passando a integrar seu time até a final.
Em quase cinco décadas de carreira, sem dúvida muita coisa mudou. Hoje em dia, o cenário musical brasileiro parece estar mais aberto para a diversidade, inclusive no pop e no rock, do que nos anos 1980. “É melhor estar e de fato está, é evidente. O pop brasileiro atual tomou um atalho radical da origem rock e se fundamenta nas linguagens eletrônicas contemporâneas e sobretudo no funk. Isso me encanta e um pouco confirma minhas ‘previsões’ sobre os destinos e caminhos do pop, no Brasil e no mundo”, opina.
Sobre parcerias musicais, Lulu garante que já trocou experiência e arte com todos que admira, mas está sempre aberto ao convite. “O que vier pela frente é lucro, mas também não alimento expectativas impossíveis”, brinca. O artista lançou, recentemente, canções com nomes da nova geração, como Vitão, Vitor Kley, Melim, Luísa Sonza e OutroEu.
Legal
Simplesmente, um artista com talento e personalidade. É meu ídolo nos palcos e marca a minha vida com as suas canções desde minha adolescência. De minha parte, “missão cumprida”
Deus te abençoe Lulu Santos.