Nesta seleção, chefs premiados, espaços aprazíveis e receitas sensíveis encarnam a sazonalidade com estilo próprio e valem uma visita antes do verão se achegar. São sugestões de menus que enaltecem a estação dos dias suaves, de novas flores e de jovens folhas na capital paulista.
Como manda a natureza
Vegetais, algas, grãos e leguminosas trabalhados de acordo com a época do ano. O princípio da culinária dos monges budistas japoneses, ou Shojin Ryori, é evocado por Telma Shiraishi, no Aizomê.
Servido no balcão para até 12 pessoas, o omakase vegano de uma das raras mulheres condecorada chef do Consulado do Japão é colorido, é filosófico, é sublime. Sem contrariar a natureza, vale-se de produtos orgânicos e artesanais para contemplar os cinco elementos do zen (terra, água, fogo, ar e o vazio).
Com caldos, sushis e tempuras revela, em cinco tempos, os cinco gostos (doce, salgado, azedo, amargo e umami), os cinco sentidos (visão, olfato, paladar, tato e audição) e os cinco tipos de preparação (grelhado, cozido, frito, ao vapor e in natura). Um passeio oishii (isso é, delicioso) pelo reino vegetal!
Aizomê
Alameda Fernão Cardim, 39, Jardim Paulista, tels. 2222-1176 e 97247-3862.
Olhar estrangeiro
Foi num passeio pelo Mercadão que Jean-Georges Vongerichten inspecionou os vegetais da estação, provou pastel de palmito com catupiry genérico e não conseguiu entender por que tantas barracas vendiam bacalhau, mas nenhuma vendia apenas frutas nativas.
Verdade seja dita, após três anos longe do Palácio Tangará primeira e única cozinha sul-americana com sua grife o estrelado chefão tinha pressa: das compras passou logo à ação. Em outras palavras, à elaboração de um menu para celebrar a estação.
Com sabores e texturas intensos dos sucos de vegetais, das essências de frutas, dos caldos singelos e das vinagretes de ervas que lhe caracterizam, o francês colocou em cartaz uma sequência de seis tempos. Por ora, destacam-se receitas como o Bubble Tea, um coquetel comestível com caviar e leite de amêndoas aromatizado com alga kombu; a lagosta assada em emulsão de coco, ervas e especiarias com alcachofra fresca e a Linzer, torta tradicional de sua Alsácia que, aqui, ao invés de compota, leva morangos in natura e no sorbet.
Contudo, a depender dos produtos do dia e de sua bênção, o chef residente, Filipe Rizzato, pode inserir substituições.
Tangará Jean-Georges
Rua Dep. Laércio Corte, 1.501, Panamby, tel. 4904-4040.
Brasilidades arejadas
Helena Rizzo e Willem Vandeven não criaram com essa intenção, porém, a degustação do Maní é a cara da estação. Tem delicadeza, tem flor e frutinhos primaveris. Um bom exemplo? A jabuticaba.
Infusionando regionalismos com toques dos cem anos do modernismo da Semana de Arte de 1922, o menu é autenticamente brasileiro. É zero clichê. Ao longo de 12 passos, os chefs brincam com mandioca, milho e feijão; na casquinha servem caranguejo com maracujá, na folha de capeba moqueiam farinha de Uarini, banana, pimenta-de-cheiro e coentro para acompanhar o carapau.
Ao final, “mata atlanticam” a floresta negra com frescor e acidez, ou melhor, com aquela mencionada jabuticaba, amora, trevinhos e cumaru.
Maní
Rua Joaquim Antunes, 210, Jardim Paulistano,
tel. 3085-4148.
Florescer bilíngue
O Metzi é um lar mexicano-brasileiro de forte sotaque oaxaquenho. Em parte pelas origens de Eduardo Ortiz, em parte pela paixão de Luana Sabino por suas receitas. Em cinco atos, seu Pre-Fix Menu faz questão de honrar cada época do ano.
Ainda assim, dificilmente deixa de sugerir preparações simbólicas como a guacamole, o mole (ou um dos milhares de molhos pré-hispânicos realçados por pimentas variadas que originalmente escoltam carnes e peixes), as tortillas, um tamal ou uma enchillada, por exemplo.
Enquanto a temporada permitir, cabe frisar, flores de abóbora, brócolis, couve-flor e abobrinha colorem o cardápio. Quando elas se forem, outras pancs e plantas cumprirão tal papel.
Metzi
Rua João Moura, 861, Pinheiros,
tel. 98045-5022.
Febril e festivo
Ok, não existe primavera na Amazônia. O segundo semestre todinho é de verão amazônico, com estiagem das chuvas, “praias” nos rios e temperaturas febris batendo os 36°C. Porém, no paulistano Notiê, Onildo Rocha serve uma leitura tão fresca da região que poderia ser apelidada de primaveril.
Depois de se aproximar de pequenos produtores e cozinheiros locais, o chef traçou um banquete de dez tempos, estrelando a mandioca. Nele há esferas de tacacá com jambu; croquete de mandioca com queijo marajó; tapioca com ovas e o arubé, que à base da raiz e de pimentas, traz caranguejo e pupunha.
Se os ingredientes da floresta alegram as papilas, as apresentações, marcadas por folhas e floreios, fazem sua festa à parte!
Notiê
Rua Formosa, 157, Centro, tel. 2853-0373.
Gostosuras ao ar livre
No antigo casarão de Cacilda Becker, Luiza Hoffmann encena sua culinária. E aproveita para propor que, nos dias em que a primavera faz questão de exibir seu esplendor, o comensal se demore na varanda. Com um drinque fresco ou um dos vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos selecionados pela sommelière Gabriela Bigarelli, percorra receitas variadas que harmonizam com o tempo.
Vale iniciar pelo sashimi de robalo com laranja na brasa, passar pelo ceviche de lichia com pipoca de arroz selvagem, compartilhar o nhoque de milho com mascarpone e o polvo com arroz de bacon e tomate, para então se açucarar sem dó com a pavlova com creme de açafrão, morangos e tomilho.
Atto
Rua Pais de Araújo, 138, Itaim, tel. 94810-0000.
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