Fora do saturado Sudeste, a capital baiana Salvador se revela um dos principais destinos para investimento e negócios no país
Eu nasci em Salvador, mais precisamente no Nordeste de Amaralina. O bairro é a terra de Marivaldo dos Santos, que faz parte do grupo percussivo mais importante do mundo, o STOMP, e fundou o Quabales, um projeto socioeducativo cultural. É terra também de Mãe Selma, Ialorixá; de Márcia Ministra, socióloga, professora e ativista; de Mr. Armeng, rapper e produtor cultural; do TrapFunk&Alivio, coletivo criativo e musical, e tantas outras pessoas que fazem parte dos mais de 80 mil habitantes do bairro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). Tenho orgulho de dizer que sou Nordeste duas vezes. Por ter nascido na região Nordeste e no bairro Nordeste.
Salvador tem suas maravilhas, não podemos negar. As praias são maravilhosas, foi o destino brasileiro mais vendido no ano de 2022 – de acordo com os dados da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) –, é considerada a ‘Cidade da Música’ pela Unesco, a culinária é impecável, tem o melhor carnaval do mundo e muitas possibilidades e potências de se admirar.
E o segredo para o boom da economia criativa na cidade está nos soteropolitanos que conseguem transformar capital intelectual, criatividade e conhecimento em negócios prósperos a partir das tecnologias digitais, ancestrais e sociais. É o caso da Afrosaúde – uma health tech focada em desenvolver soluções tecnológicas para a comunidade negra e que está prestes a faturar seu primeiro milhão. Exemplo também da Preta Comunicação, empresa criativa que, com uma equipe 100% negra, cria soluções em comunicação com narrativas potentes para pequenas e grandes empresas, se firmando na diversidade. E não é diferente com o Solar Gastronomia – um restaurante focado em gastronomia afetiva e contemporânea, localizado no Rio Vermelho.
São exemplos como esses que fazem com que Salvador esteja entre as seis cidades brasileiras com potencial para investimentos estrangeiros, negócios e projetos, segundo o Índice de Confiança do Investimento Estrangeiro Direto (IED), realizado pela consultoria global Kearney, em 2021. Em uma onda de layoffs e de casos incontáveis de empresas que nunca conseguiram dar lucro, os negócios liderados por mulheres e negros são os que não conseguem créditos em bancos e muito menos estão no radar dos investidores de capital de risco. Mas são essas empresas que representam 30% do Produto Interno Bruto do Brasil.
Agora existe uma escolha, uma decisão a ser tomada. Queremos continuar concentrando os investimentos em negócios criativos apenas no eixo Sudeste, ou estamos dispostos a investir nas regiões Norte e Nordeste sabendo que também teremos retorno do nosso investimento? Eu já tomei a minha decisão, recomecei por Salvador.
*Monique Evelle é cofundadora da Inventivos e jurada do Shark Tank Brasil.
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