Nova jurada do programa “The Voice+”, Fafá de Belém fala com autoridade de música, de Democracia e da beleza natural feminina

por | fev 24, 2022 | Entrevista, Pessoas, Pessoas & Ideias | 3 Comentários

Após se consagrar como musa das diretas, como defensora dos povos da Amazônia, como embaixadora do Círio de Nazaré e como uma das melhores cantoras do país, Fafá de Belém encara de peito aberto o desafio de atuar como técnica do programa “The Voice+”

Em plena forma aos 65 anos, Maria de Fátima Palha de Figueiredo segue à toda velocidade. Depois de lançar mais de 30 álbuns, vender mais de 15 milhões de LPs e CDs, entoar o hino nacional em 32 comícios pela redemocratização do Brasil, cantar para três papas no Vaticano, ser avó de duas lindas netas e atuar como atriz no cinema e na novela “A Força do Querer”, a dona da risada mais gostosa do país agora mergulha na função de técnica do programa “The Voice+”, da TV Globo.

Em meio a talentos com mais de 60 anos buscando uma oportunidade para mostrar sua arte e sua musicalidade, Fafá de Belém brilha com seus cabelos brancos, como uma fada com o poder mágico de transformar aposentados em popstars.

 

Foto Aryanne Almeida

 

Adepta da beleza natural, sem plásticas, botox e tinturas, por dentro ela é uma jovem, que segue atrás de novas sonoridades e interpretações instigantes. Em seus mais recentes lançamentos, enriqueceu o repertório com canções de autoria de novos compositores e incorporou revelações da música para o seu time de parceiros profissionais. Nas redes sociais, possui quase 1 milhão de seguidores no Instagram, mais de 370 mil no Twitter e 1,2 milhão no Facebook, além de 126 mil inscritos em seu canal no Youtube.

Mulher de fé, Fafá está há mais de dez anos à frente da Varanda do Círio de Nazaré, convidando celebridades, teólogos, filósofos e personalidades públicas para essa bonita festa que reúne centenas de milhares de devotos em Belém, sempre no mês de outubro.

A cantora é também embaixadora da Unicef para a Amazônia, por ações e serviços prestados contra a devastação ambiental e a prostituição infantil. Nesta entrevista à 29HORAS, ela fala de música, de idade, de pandemia e até de política, com observações sérias e pertinentes entremeadas por deliciosas e sonoras gargalhadas. Veja a seguir os principais trechos dessa conversa:

 

Foto Fernanda Gomes | Divulgação

Foto Fernanda Gomes | Divulgação

 

No seu álbum mais recente, “Humana”, de 2019, você canta “Que fase doida, o que vem depois? Se você acha que o ano passado foi tenso, sabe de nada, inocente!” Fazer profecias é um dos seus dons?

Quem fez essa premonição foi a Letrux, que compôs a letra. Em 2018, eu estava muito preocupada com uma onda conservadora, retrógrada e obscurantista que assolava vários países, como os Estados Unidos, a Espanha e o Brasil. Os retrocessos estavam desmantelando várias conquistas da sociedade e estimulando o ódio e a violência. Aí decidi fazer um novo disco analisando um pouco isso: em que momento a gente se perdeu? A música da Letrux serviu como uma luva para esse projeto, e eu não imaginava que tudo aquilo fosse se concretizar.

 

Além de “Alinhamento Energético”, que traz esses versos citados acima, seu mais recente álbum traz também uma composição de Ava Rocha (filha do cineasta Gláuber Rocha). Já no seu trabalho anterior “Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso”, você se uniu a Felipe Cordeiro para explorar a nova música paraense. Como tem sido trabalhar com artistas de outras gerações? Você enxerga alguma similaridade nessa sua associação a jovens músicos com a trajetória de Elza Soares, que em seus últimos trabalhos era produzida e acompanhada por revelações da cena musical paulistana?

Muito me honra você me ligar à Elza, uma mulher fabulosa que sofreu muito por causa de seu comportamento livre, por suas posturas diante da vida, sempre defendendo com unhas e dentes aquilo que acreditava. Quando ela encontrou os jovens da vanguarda paulistana, desde “Do Cóccix até o Pescoço”, sua obra ganhou um novo frescor, alcançando ouvintes das novas gerações.

No meu caso, essa busca começou quando ouvi “Meu Coração É Brega”, de Veloso Dias, e decidi gravar um álbum com as cores, as sonoridades e a energia de Belém do Pará. Aí apareceu o DJ Zé Pedro, que produziu “Do Tamanho do Meu Sorriso”, Paulo Borges, que dirigiu o show, e Felipe Cordeiro, que trouxe as guitarradas. Eles me apresentaram muitas coisas novas, e eu sempre gosto de saber o que está rolando pelo mundo e conhecer novidades. Essa inquietação faz com que eu me sinta viva. Eu sou o que eu construo, diariamente. Ficar sentada, parada, é o que envelhece!

 

Ainda nessa onda de renovação, como tem sido o trabalho de técnica do “The Voice+”? Como surgiu o convite para esse programa, que tem um nome que poderia muito bem ser o título de um dos seus álbuns, já que você é dona de uma das vozes mais belas e possantes do país?

Adorei ser chamada de ‘The Voice’! Obrigada! Quando soube que ia ter mais uma edição do programa para pessoas com mais de 60 anos, enlouqueci. Queria muito ser uma das técnicas do programa. Aí rezei com muita fé para Cidinha, Nazinha e Fatinha [Nossa Senhora de Aparecida, Nossa Senhora de Nazaré e Nossa Senhora de Fátima] e, depois do Círio, veio o convite. Foi uma felicidade enorme para mim, um presentão. Acho o programa muito bem bolado, com um formato inteligente. É uma atração que valoriza a voz e coloca em segundo plano a aparência e outros aspectos mercadológicos do artista. Na minha cabeça, para ser um bom cantor, o mais importante é isso mesmo: o material vocal, o timbre, a afinação, a potência e a musicalidade. E o fato de o programa abrir essa oportunidade às vozes com mais de 60 anos é algo fantástico. Não existe idade-limite para realizar um sonho, para ter desejos, para apostar em novos projetos. Enquanto houver saúde, alegria e vontade, a vida deve ser vivida em toda sua plenitude. É preciso tirar o manto de invisibilidade que a sociedade insiste em colocar sobre as pessoas mais velhas.

 

Fafá de Belém ao lado dos colegas Carlinhos Brown, Ludmilla e Toni Garrido, jurados do "The Voice +" | TV Globo Foto | Divulgação

Fafá de Belém ao lado dos colegas Carlinhos Brown, Ludmilla e Toni Garrido, jurados do “The Voice +” | TV Globo Foto | Divulgação

 

E, por falar em idade, quando foi que você tomou a decisão de assumir os seus cabelos brancos?

Já há algum tempo eu vinha considerando essa hipótese de parar de pintar. Em Portugal, me agradava ver tantas mulheres deixando o grisalho aparecer, com naturalidade. Mas aqui ninguém me deixava fazer isso: o empresário, a turma que cuida da minha imagem… Aí um dia a Netflix me convidou para atuar no filme “Um Pai no Meio do Caminho”, com a Maísa e o Du Moscovis. Eu fazia o papel de uma xamã, a Mãe Lua, e em vez de usar perucas e apliques, apenas paramos de tingir e deixamos o grisalho aparente. Ficou muito bom! O meu cabelo sofria muito com a química das tinturas. Agora ele está mais saudável. A pele também melhorou, meu corpo agradeceu esse ‘detox’. E eu me sinto mais livre, não quero mais ser escrava da tinta. Que maravilha ser uma sessentona sem botox e sem tinturas!

 

Mudando um pouco de assunto, você já foi a Musa da Redemocratização e é a dona da gargalhada mais gostosa do país. Mas hoje, nesses dias cinzentos, o que podemos fazer para recuperar a democracia brasileira e para voltarmos a sorrir?

A democracia é algo de que não podemos abrir mão. Ela foi conquistada a duras penas e é fundamental para vivermos de maneira organizada e em paz, com justiça e dignidade. O país depende das nossas escolhas, e as eleições estão chegando. É nessa hora que devemos agir pela mudança. O voto é a nossa arma, e devemos usá-lo de maneira inteligente e responsável. As outras armas devem ficar guardadinhas em seus coldres e bainhas, bem longe disso tudo. Com uma troca no comando da nação, tenho certeza de que as coisas vão voltar aos trilhos e a alegria também vai ressurgir. É importante que voltemos a sorrir o quanto antes. A gargalhada desopila, alivia, desoprime e empodera.

 

Foto  Aryanne Almeida

 

E como salvar a Amazônia? Você, como paraense, conhece muito bem as ameaças que a nossa floresta está enfrentando…

A devastação da Amazônia é uma tragédia  que vem acontecendo há muito tempo, de maneira sorrateira, insidiosa e implacável. Há décadas, quase ninguém dá o devido valor e o cuidado que merece esse tesouro de biodiversidade. Agora dá para ver no exterior e por aqui algumas pessoas e organizações olhando com atenção e carinho para esse bioma tão importante para todo o planeta. Acredito que essa é uma questão muito urgente e que só pode ser solucionada se for tratada com a devida seriedade e ouvindo os povos da floresta – os indígenas, os ribeirinhos. É sobre isso.

 

A quarentena forçada pela pandemia foi um momento único e peculiar da história da Humanidade. Esse período de isolamento e reflexão impactou o seu estilo de vida?

Esses últimos anos foram bem especiais. Todos nós mergulhamos numa viagem para saber quem somos. Para sobreviver, mudamos tudo. Fizemos muita coisa online – como as lives – e nos reorganizamos para manter vivo e em atividade o nosso ‘núcleo duro’ de anos e anos de trabalho, que incluía os músicos e o pessoal da produção, dos figurinos e da comunicação. Depois de resistir a mais essa pancada, tive uma certeza ainda mais firme de que a música é a minha vida. Ela me abriu portas, me ensinou a andar com minhas próprias pernas e sustenta até hoje a minha família e a minha equipe. Enxergo agora com mais clareza que a minha missão nessa vida é trazer esperança e alegria às pessoas. Talvez tenha sido por isso que Deus me presenteou com essa gargalhada retumbante!

 

Por falar em mudanças ocasionadas pela pandemia, você já está viajando? Quando pretende voltar a Portugal, onde você mantém um apartamento?

Estou viajando bem menos do que gostaria. Ainda não me sinto à vontade e segura para sair por aí. Mas estive em Portugal no ano passado. Quando eu pretendo voltar para lá? Sempre que eu tiver cinco dias de folga!

 

Por fim, quando você pretende retomar a sua agenda de shows e o que está preparando para o seu próximo álbum?

Passei dez anos sem gravar, antes de “Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso”, e mais três antes de “Humana”. Entro no estúdio sempre que alguma música ou alguma ideia nova me leva para lá. Ultimamente, ando ouvindo muita coisa boa e já estou começando a sentir uma vontadezinha de gravar. Mas o meu foco neste momento é no “The Voice+”. Para subir num palco de novo eu sinceramente gostaria de ver o público mais imunizado. Ainda considero arriscado reunir multidões. Brasileiro gosta de cantar alto, de dançar, de abraçar. Aí a máscara cai e como fica? Acho que ainda é um pouco cedo para voltar a fazer shows, mas uma coisa eu garanto: em outubro estarei no Círio de Nazaré!

 

A cantora no Círio de Nazaré, festa católica em Belém, no Pará | Foto Carlos Borges Moire

 

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3 Comentários

  1. Aíla (Piauí)

    Eu amo você, Fafá de Belém, sou tua fã.

    Responder
  2. Sônia Meireles

    É um mar de alegria e sorriso chamado Fafá de Belém, sempre admirável seu trabalho e enche nos de alegria sua Brasilidade!

    Responder
  3. Edilson Tenório

    Artista que nos enche de alegria e fé, Fafá é o mesmo que viajar por um mar de esperança e emoções. Viva a música!

    Responder
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