Que a Bahia tem um jeito, a gente sabe faz tempo. Mas neste verão o destino mais cobiçado de todo o Brasil ganha ainda mais destaque com a nomeação de Margareth Menezes como Ministra da Cultura do novo governo que se inicia. Uma mulher preta, baiana, pioneira na mistura e no lançamento do que se chama pelo mundo de “afro pop brasileiro”. No começo dos anos 1990, Margareth abriu shows de David Byrne com seu samba reggae e incluiu o Brasil no “african pop” de Salif Keita e Angelique Kidjio.
Em uma entrevista que fiz com ela, em 2019, falamos sobre isso. Margareth perguntava “se tem pop rock, por que não tem afro pop?” E contou do encontro das claves afrobrasileiras com a sonoridade da música pop e da canção no país. Estética que encontramos em todos os seus discos, e nos trabalhos de Carlinhos Brown, na proposta de Letieres Leite e sua Rumpilezz, em Bayana System, em Josyara e em Rachel Reis. Cada um com sua personalidade, mas com essa base do ritmo, da malemolência das ladeiras de Salvador, da aridez poética do sertão, do calor da beira mar.
Por falar nisso, Josyara é baiana de Juazeiro e lançou agora seu segundo disco solo chamado “ÀdeusdarÁ”. A faixa que abre é “ladoAlado” e tem a participação de Margareth Menezes. Josyara conta que ouviu os discos dessa artista referência durante a pandemia, com saudades de casa. O já citado aqui “Afropopbrasileiro”, “Autêntica” e, especialmente, “Kindala”, de 1991. O repertório que encantou o mundo fez a cabeça também dessa jovem compositora baiana. Cantar é político, compor, fazer música, apresentar seus pensamentos num show, num disco, tudo isso muda o mundo. Josyara tem um violão muito forte, comparado ao de Catia de França outra grande referência, mas nesse trabalho, começou a compor a partir de beats eletrônicos, samples, bases rítmicas. Um disco lindo!
Rachel Reis é outro fenômeno desses tempos digitais. Mais jovem ainda que Josyara, essa menina de Feira de Santana estourou com a canção “Maresia”, misturando canção com arrocha e pagodão baiano. Música de festa, boa para dançar. E que traz essa tradição de que fala Margareth, o que ela chama de “protagonismo da mistura”, que vem de Raul Seixas, de Gilberto Gil, de Caetano Veloso. Do rock ao tropicalismo, a presença da Bahia se apresenta nas mais diversas manifestações da música feita no Brasil. Até em Adriana Calcanhotto na eletrônica “Ogunte”, do disco “Maré”. Também em Maria Gadú, cantando “Baianidade Nagô” em ritmo ralentado.
Aproveito para convidar você que me lê para ouvir o “Vozes do Brasil”, na Rádio Cultura de São Paulo. Baixe o app, entre no site, há vários caminhos! No ar às sextas feiras, às 17h, e, aos sábados, às 19h. Fiz um programa especial sobre a Bahia, com toda essa história contada por meio da música. Aproveite a Bahia com trilha sonora. Bom verão para nós!
Acesse todas as músicas no 29HORAS Play. Aproveite!
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