A diretora audiovisual do projeto que une música e bike, fala sobre sua trajetória e da necessidade de mais segurança nas ruas
Gaúcha radicada em São Paulo, Denise Silveira, de 54 anos, já viajou por vários países para mostrar a relação da bike com as pessoas. As jornadas, desde 2016, renderam a exposição “Ocupação Bicicleta”, exibida no metrô de São Paulo, e “Bicicleta, Identidade Cultural”, na Unibes Cultural.
Diretora de audiovisual da Ciclovia Musical, projeto criado e dirigido por Giane Martins que une música e bike, ela também dirigiu o premiado “Alma de Bicicleta”, filme que é uma criação coletiva de mulheres 40, 50 e 60+ mostrando como superam as dificuldades para pedalar no Brasil, Finlândia, Grécia e Índia.
Denise se tornou uma ciclista urbana devido a um problema nos joelhos: ficou oito meses sem andar e a bicicleta foi a salvação. “Mas não posso percorrer grandes distâncias sem o auxílio do pedal assistido”, diz ela, que hoje atua em várias frentes com a bike, fazendo fotos e filmes, palestras e rodas de conversa em escolas públicas. Saiba mais na entrevista a seguir:
Em sua mostra “Ocupação Bicicleta”, você mostrou a íntima relação das pessoas com a bicicleta em várias cidades europeias. Por que no Brasil estamos tão distantes desse cenário?
Por falta de vontade política dos gestores e falta de educação no trânsito. As pessoas ainda querem chegar mais rápido e chegar primeiro. Eu quero ir devagar, saborear o caminho, conversar com uma pessoa desconhecida, desejar bom dia, ouvir os passarinhos. Sem uma conscientização de que a gente precisa mudar o estilo de vida, ter empatia com o outro e preservar o meio ambiente, vamos continuar estagnados no mesmo lugar.
Quais são os maiores obstáculos para que as mulheres pedalem e o que é preciso fazer?
O maior obstáculo, hoje, é a segurança pública. As mulheres são assaltadas, furtadas, importunadas e assediadas sexualmente a pé, de bicicleta, no transporte público. E quando decidem correr o risco enfrentam a falta de ciclovias, a alta velocidade dos carros e a falta de respeito dos próprios ciclistas. As mulheres que começam a pedalar se inspiram umas nas outras, na amiga, na colega, em um grupo do seu bairro.
Quais são as novidades do projeto Ciclovia Musical, que junta música e bicicleta?
Em novembro haverá a Ciclovia Musical em Salvador, onde vou mediar uma roda de conversa com estudantes ao lado do maestro Carlos Prazeres. Em 2023, teremos edições em outras capitais, e a ideia é que as pessoas possam pedalar juntas e parar para apreciar uma programação de primeiríssima qualidade, que transita por diversos estilos musicais.
Como foi sua palestra na Velo-city, conferência global que ocorreu na Eslovênia?
Meu tema foi “Não podemos atrair mulheres com histórias sobre homens”. O ambiente do ciclismo ainda é muito masculino e não chega até as mulheres. A receptividade foi enorme, eu trabalho nos bastidores e fora do Brasil há um interesse maior nesse aspecto profissional. Aqui, querem nos descrever com estereótipos ou esperam que a gente vire influenciadora. Não espero influenciar ninguém, mas promover informações que permitam que as pessoas possam formar a sua própria opinião e fazer a melhor escolha para elas.
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