Compositoras brasileiras inspiram apaixonados por música mundo afora e são referências para artistas jovens

por | mar 14, 2024 | Coluna, Cultura, Música | 0 Comentários

A potência das mulheres brasileiras compositoras que escrevem e cantam e inspiram gerações de músicos 

Uma das maiores vantagens em ser uma acumuladora de livros é poder recorrer à biblioteca particular na hora de pensar em um programa de rádio ou em uma coluna para escrever. Este mês falamos sobre compositoras do Brasil – essas artistas incríveis que raramente têm seus nomes citados nas emissoras de rádio, mesmo nas raras frequências que tocam apenas música brasileira.

Elenco neste texto belas edições que contam sobre a vida e a obra de Dolores Duran, Maysa, Dona Ivone Lara, Joyce, Marina Lima, Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, Marisa Monte e um livro especial sobre compositoras da chamada “era do rádio” – essas totalmente invisíveis. Lembrando que a pioneira Chiquinha Gonzaga enfrentou dificuldades para exercer seu ofício e que Dilú Mello, que teve canções gravadas por Inezita Barroso e Nara Leão, é uma ilustre desconhecida até hoje.
Primeiro, recomendo um livro que trata justamente dessas personagens apagadas da história: “A Mulher na Canção – A Composição Feminina na Era do Rádio”, escrito por Denise Mello. Traz Tia Ciata, Maria Firmina dos Reis, Marilia Batista e vai até Maysa e Dolores. Um belo retrato que chega até os anos 1950. Vale a leitura e a busca por essas canções, uma delas é “Fiz a Cama na Varanda”, de Dilú Mello, que também era acordeonista e apresentadora de programas de rádio e TV.

Dolores Duran foi parceira de Tom Jobim na maravilhosa “Estrada do Sol”, foi musa de João Donato e inspiração para muitas compositoras que vieram depois. Marina Lima abriu seu primeiro disco com “Solidão”, clássico de Dolores, em um arranjo todo pop e que serviu como uma declaração: aqui as mulheres compõem e fazem isso muito bem. Maysa foi uma rebelde, cantou a condição feminina em primeira pessoa, largou um casamento (assim como Chiquinha) e seguiu administrando sua carreira e uma multidão de amores.

 

Dona Ivone Lara, a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma grande escola de samba – foto Acervo Dona Ivone Lara

 

Joyce Moreno foi apresentada por Vinicius em seu primeiro disco e é respeitada por seu violão no mundo todo. E quando falo em Joyce, peço a você que vá além de “Clareana” e “Feminina”, seus maiores sucessos no rádio. Ouça sua discografia, se aprofunde nessa viagem e morra de vergonha porque a Europa e o Japão compram mais seus discos do que o Brasil. Dona Ivone Lara ganhou reconhecimento no mundo do samba sendo a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma grande escola. Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan e Marisa Monte já fazem parte de uma geração de cantautoras com caminhos abertos a partir dos anos 1980 com Marina. O Brasil é um manancial. Somente precisa saber buscar. Não se limite às plataformas. Uma tarde buscando velhos LPs pode trazer boas e deliciosas surpresas.

E os livros, como disse no começo desta coluna, são aliados importantes para a bela jornada do conhecimento. Rodrigo Faour escreveu sobre Dolores Duran; Lira Neto fez a biografia de Maysa; Lucas Nobile lançou “A Primeira Dama do Samba” sobre Dona Ivone; Marina Lima fez uma autobiografia deliciosa; Zélia Duncan foi indicada ao prêmio Jabuti com seu livro de crônicas. Tem muito assunto, muitas autoras, muitas vozes. E eu nem falei aqui das compositoras do século 21…

0 Shares

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Share via
Copy link
Powered by Social Snap