Ao sul de Portugal, o Alentejo reserva vinícolas que hospedam com conforto e muito sabor

por | fev 16, 2024 | Hospedagem, Passeios, Turismo, Viagens | 0 Comentários

Atravessar a Ponte Vasco da Gama, sobre o Rio Tejo, e dar com os costados no Alentejo tem sido a opção de quem é ávido por paz

Lisboa, todo mundo sabe, hoje é uma das cidades mais agitadas da Europa. A de aluguéis mais altos também, segundo recente levantamento da plataforma HousingAnywhere. Inegável o borogodó da capital portuguesa, com sua vida noturna sacudida, a comida generosa, a arquitetura secular, o fado e tanta história. Mas o que torna Lisboa tão atraente também afasta quem visita Portugal em busca de sossego, discrição e exclusividade.

Atravessar a Ponte Vasco da Gama, sobre o Rio Tejo, e dar com os costados no Alentejo – viagem que dura um pulo de uma hora e meia – tem sido a opção de quem é ávido por paz. A questão nem é financeira: hospedar-se em hotéis de charme, em formosas propriedades rurais da região, está longe de ser um programa econômico. Fugir da muvuca e curtir alguns dias de prazer em meio aos vastos vinhedos e olivais, porém, vale cada centavo de euro desembolsado.

O Alentejo não é exatamente bonito, se o compararmos a outras regiões vinícolas de Portugal, como a dos Vinhos Verdes, de natureza luxuriante, ou o Douro, com suas colinas dando bossa à paisagem. Quente e seco, o Alentejo oferece vistas monótonas e planas em quase toda sua extensão, mas guarda encantos escondidos. Quem sabe das coisas os conhece. Talvez a melhor forma de camuflar-se por lá, unindo vários úteis a inúmeros agradáveis, seja escolher vinícolas que hospedam com luxo e sabor.

Torre de Palma

O hóspede do Torre de Palma Wine Hotel, em Monforte – a duas horas da capital portuguesa, quase na fronteira com a Espanha, em direção sudeste – é recebido com um coquetel no topo da construção que dá nome ao lugar. A torre foi erguida no século 14, quando a propriedade pertencia à Coroa Portuguesa. Hoje não tem o sentido de guarda e, sim, o de contemplação. Dali temos a visão infinita da planície alentejana, dos sete hectares de vinhas e da construção em forma de fortificação que nos abrigará pelos próximos dias.

 

Vista aérea do Torre de Palma, em Monforte – foto divulgação

 

A história contada pelos funcionários bem descreve a paz que se consegue ter no hotel. Uma senhora solitária reservou uma semana de estadia. Alongou-a por mais um pouco e mais um pouco… Quando se deu conta, estava ali por três meses. Passava os dias lendo, deliciando-se com a culinária da equipe do chef Miguel Laffan, dono de uma estrela Michelin, e harmonizando-a com vinhos produzidos na casa com uvas regionais como Aragonez, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Arinto e Antão Vaz.

A produção de vinhos da Torre de Palma é pequena, de até 60 mil garrafas por ano, e seus proprietários não pretendem fazê-la crescer. Não querem perder o caráter artesanal de sua elaboração, com uvas colhidas manualmente e pisadas a pé, vinificadas em uma elegante adega, aberta à visitação guiada para hóspedes e turistas avulsos.

 

Adega do Torre de Palma – foto divulgação

 

Quem não é do álcool tem à disposição aulas de equitação e passeios a cavalo pelas redondezas, workshops de gastronomia e agricultura, voo de balão, observação de pássaros, piquenique no campo, visitas a ruínas romanas e passeios guiados pela natureza. Quem é do bem-bom pode escolher o spa com diversas massagens e tratamentos ou refestelar-se no seu canto. São 19 opções de acomodação, do quarto duplo à suíte master, cada uma decorada em estilo diferente.

 

Quarto do hotel Torre de Palma – foto divulgação

 

São Lourenço do Barrocal

O hotel-fazenda São Lourenço do Barrocal, em Monsaraz, impressiona pelo aspecto pitoresco e pela tipicidade alentejana. Propriedade rural fundada há 200 anos, passou por um sensível trabalho de arquitetura que adaptou antigas instalações em comodidades para o turista, sem prejuízo às linhas originais do lugar. É uma viagem no tempo em que também nos deparamos com o moderno e com o surpreendente.

Os quartos dos trabalhadores que viviam na fazenda tranformaram-se em acomodações para hóspedes. Casas antes dedicadas aos convidados da família foram convertidas em algumas das opções mais luxuosas de estadia. O antigo canil hoje abriga o restaurante principal. Os dormitórios dedicados aos trabalhadores sazonais foram convertidos num spa com assinatura da marca austríaca Susanne Kaufmann.

 

Quarto em São Lourenço de Barrocal – foto Nelson Garrido

 

Boa parte da comida e da bebida servidas no Barrocal é produzida ali: hortaliças orgânicas, mel, azeite, vinho. Os hóspedes participam de colheitas, têm aulas sobre a produção desses víveres ou simplesmente aproveitam seu sabor a cada garfada ou gole. A vinícola é diminuta, dá conta do consumo no próprio hotel. Mas o visitante pode comprar seus rótulos na loja, que oferece não somente o que é feito na propriedade, mas privilegia a tradição gastronômica e artesanal alentejana.

 

Degustação de vinhos e azeites em São Lourenço do Barrocal – foto Ash James

 

Quem gosta de colocar a mão na massa pode participar de workshops de apicultura, arranjos florais, olaria, coquetelaria e culinária ou aprender a fiar lã de ovelha. Fãs de aventura têm a seu dispor passeios a cavalo, de bicicleta, caminhadas e outras atividades. Quem é dos programas culturais engaja-se em roteiros pelo Alentejo, guiados por historiadores.

Herdade do Sobroso

Impossível visitar a Herdade do Sobroso e não ter vontade de ficar. O lugar tem um quê tão acolhedor que tudo o que pensamos, de imediato, é passar dias à beira da piscina, sorvendo refrescantes vinhos brancos ou rosés produzidos ali, embasbacando-se com a vista, agora não mais plana. O Sobroso está na Vidigueira, região alentejana pródiga em relevos e recortes, a 190 km de Lisboa.

 

Piscina do Herdade do Sobroso, no Alentejo – foto divulgação

 

Se a natureza local flechar seu coração, é possível programar um safári fotográfico, pois a propriedade está dentro de uma área de preservação, onde vivem veados, javalis, lebres, patos selvagens e outras espécies. Em ritmo de adrenalina, é possível ainda programar passeios de balão, cavalgadas, trilhas de mountain bike ou corridas de caiaque. O spa, as aulas de ioga e de meditação realinham quem volta exausto das peripécias.

 

Restaurante do Herdade do Sobroso – foto Jeronimo Heitor Coelho

 

A oferta de vinhos é extensa, elaborada com mais de dez castas locais e algumas internacionais, como Cabernet Sauvignon e Syrah. Há várias opções de harmonização no menu do Sobroso, que conta com quitutes típicos: empadas alentejanas, queijos, embutidos e farta culinária local. Você também pode levar para casa azeites, vinagres, compotas, mel e infusões de ervas produzidos na herdade.

Mais Vinícolas do Alentejo que hospedam (ou não)

Há mais opções para quem quer fazer o roteiro vinho-aventura-descanso na região. A Herdade dos Grous é mais uma vinícola de respeito que abriga um hotel de charme com quartos e suítes lindamente decorados. A chique Herdade da Malhadinha Nova tem quartos, suítes e villas modernas e minimalistas para quem preza o sossego e a vida zen.
Estando no Alentejo, procure conhecer outras vinícolas bonitas e importantes, que não hospedam, mas garantem a visita pela qualidade dos vinhos e pela rica gastronomia. Quinta Dona Maria está em um recanto construído no século 18 pelo rei Dom João V para sua amante. Os vinhos são clássicos e espetaculares. Os salões, revestidos com a mais fina azulejaria portuguesa, fazem cair os queixos.

Já a Herdade do Rocim tem arquitetura contemporânea, produz rótulos ousados e foi uma das responsáveis por resgatar comercialmente a técnica dos vinhos de talha, tradição de mais de 2.000 anos no Alentejo. Outra jovem vinícola é a Herdade Aldeia de Cima, notável pelo look clean e pelos vinhos elegantes.

 

Quinta Dona Maria, em construção do século 18 – foto divulgação

 

Visitar a Adega Cartuxa é um passeio que boa parte dos turistas quer fazer, pela fama de seus vinhos, sobretudo o cobiçado Pêra-Manca. E a Herdade do Esporão é outro ponto forte, pelos belos vinhos, pela fina produção de azeite e pelo restaurante estrelado no Guia Michelin.

Para quem é fã da bebida de Baco, visita indispensável também deve ser feita à Herdade do Mouchão, a mais antiga da região, fundada no século 19. Apesar de espartana, sem grandes atrativos para o turista comum, é o berço um dos vinhos mais complexos e simbólicos do Alentejo.

Torre de Palma Wine Hotel
Herdade de Torre de Palma, 7450-250
Vaiamonte, Portugal
Tel. +351 245 038 890
Diárias a partir de R$ 1.600.

São Lourenço do Barrocal
7200-177 Monsaraz, Portugal
Tel +351 266 247 140
Diárias a partir de R$ 3.180.

Herdade do Sobroso
Herdade Do Sobroso, 7960-909 Pedrogão, Portugal
Tel. +351 284 456 116
Diárias a partir de R$ 1.600.

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