Calainho é um dos responsáveis pela organização do Tim Music Noites Cariocas, festival que apresenta até o dia 9 shows com grandes nomes da música num palco armado em uma locação mágica – o topo do morro da Urca
Da janela de seu apartamento no Alto Leblon, Luiz Calainho admira o Morro dos Dois Irmãos e parte da Floresta da Tijuca. É em meio a essa natureza exuberante que ele formata seus projetos ligados à Economia Criativa. Apaixonado pela cultura e pelas artes, ele é um dos realizadores da edição 2022 do festival Tim Music Noites Cariocas, cuja programação mistura medalhões como Ney Matogrosso, Baby e Pepeu a revelações como Iza e Baiana System em extraordinárias apresentações no palco montado no alto do Morro da Urca – cenário de antológicos shows desde os anos 1980.
Nesta entrevista à 29HORAS ele fala de sua ligação com a música, dos efeitos na pandemia no showbiz e das perspectivas para o futuro do setor de entretenimento. Veja a seguir os principais trechos dessa conversa:
Para “começar pelo começo”, você nasceu na Suíça, mas logo veio para o Rio. O que você tem de suíço? E qual o seu traço mais carioca?
Meu pai era comandante da Swissair e, durante alguns anos, ele morou com minha mãe em Zurique. Foi nesse período que eu nasci. Hoje não tenho mais nada de suíço, definitivamente. O único traço europeu que eu tenho é um remoto DNA italiano, pois meu bisavô era italiano. Vim para o Rio com 3 aninhos e, como todo bom carioca, sou um apaixonado pela natureza, pela música, pelas artes, pelo lado bom da vida. Esta é uma cidade que estimula isso. Outras também proporcionam essa comunhão, mas aqui eu sinto que existe uma energia especial, e por cauda disso o casamento de mar, sol, floresta e cultura é algo único.
No início da sua carreira profissional, você trabalhou em agências de publicidade, no marketing da Brahma e na Sony Music. Qual foi o “turning point”da sua trajetória? Em qual momento você descobriu que tinha o talento e a capacidade necessários para se tornar um empresário em voo solo, um homem de comunicação?
Eu acredito em caminhos disruptivos, em maneiras diferentes de fazer o que já foi feito. Explico bem isso no livro “Reinventando a Si Mesmo – Uma Provocação Autobiográfica”, que eu lancei em 2013 pela Editora Agir. Comecei minha vida profissional na agência Standard e em meados dos anos 80 fui para Brahma. Lá, vivenciei uma fase muito efervescente da empresa, que passou a ser administrada pelo Jorge Paulo Lemann, pelo Marcel Telles e pelo Beto Sicupira. Um dia, recebi um convite para me transferir para a Sony Music e não consegui resistir. Minha paixão pelas artes falou mais alto e troquei na hora o negócio de cervejas e refrigerantes pelo universo da música e do showbiz. Em pouco tempo, me tornei vice-presidente da gravadora. Esse foi o primeiro “turning point’” da minha carreira, como você falou. O segundo veio logo depois, quando a indústria da música foi devastada pela revolução digital. As gravadoras ficaram para trás, vendo tudo desmoronar, sem fazer nada. Foi aí que eu encontrei um outro momento para me reinventar e partir para um voo solo, unindo a minha experiência no mundo corporativo com meu conhecimento do setor cultural. Assim nasceu, em 2000, a holding L21, que tem ramificações em vários segmentos da economia criativa, como o teatro, a música, o rádio e a internet.
Quando jovem, você frequentou a primeira edição do Noites Cariocas, nos anos 1980? Que lembrança tem daqueles tempos?
Fui lá sim, claro! Eu ainda tinha apenas uns 15 anos ou um pouco mais, mas vi shows inesquecíveis por lá: Barão Vermelho, Paralamas… Estive em todas edições do Noites Cariocas. Na primeira, que foi organizada pelo Nelson Motta, participei como espectador. Na segunda encarnação do Festival, entre 2004 e 2011 – de início, também na Urca e, posteriormente, na região do Porto, fui um dos organizadores do evento, assim como agora. Sinto que tenho uma ligação espiritual com o Noites Cariocas, que é simplesmente o mais longevo festival de música pop do país ainda em atividade. O Rock in Rio só surgiu em 1985 e teve em seu line-up vários artistas que foram revelados justamente naquelas loucas noites da Urca.
O que este revival terá de melhor do que as edições anteriores?
Trazer o festival de volta para o Morro da Urca já vai deixá-lo especial. Além da vista maravilhosa, aquela pedra é mágica, tem uma vibração poderosa e peculiar. Mas o mais importante é que o Tim Music Noites Cariocas está sendo um marco da retomada. É o primeiro festival de música que acontece após os lockdowns e quarentenas. O Lollapalooza rolou em São Paulo uma semana depois de nós darmos início à nossa programação. As pessoas estavam sem se encontrar há anos. As emoções estavam represadas, assim como a vontade de curtir um bom show, com uma galera animada e um a stral bacana.
A programação deste ano está meio nostálgica…
O line-up é uma celebração dos 42 anos do Noites Cariocas. Temos shows de atrações que fizeram história no festival e seguem na ativa, como Ney Matogrosso, Paulo Ricardo, Paralamas, Leo Jaime, Capital Inicial e Baby & Pepeu; temos nomes da nova geração, como Iza, Baiana System, Fernando Rosa, Ana Vitória e Diogo Nogueira; e temos também pocket shows com tributos a grandes estrelas da música que brilharam nas edições anteriores do Noites Cariocas, mas infelizmente não estão mais entre nós, como Tim Maia, Cazuza e Cássia Eller.
Podemos esperar que o projeto se eternize e tenha outras edições nos próximos anos?
Essa é a ideia, mas esses tempos bicudos ainda não permitem que a gente garanta que isso vá acontecer, infelizmente. A edição 2022 tem o luxuoso apoio da Tim, que é uma empresa tradicionalmente muito ligada à música, ao entretenimento e à economia criativa.
Por falar em entretenimento, como foi a sua vida nesses últimos anos, com a paralisação total do setor de shows e eventos?
Pois é, nós trabalhamos com aglomeração, com a reunião das pessoas. Nosso setor foi um dos primeiros a fechar e está sendo um dos últimos a voltar. A pandemia caiu como uma bomba em nosso negócio. Esses últimos dois anos foram um período de muita introspecção, de recolhimento – fiquei muito mais próximo da minha mulher e dos meus filhos, de desaceleração e de reflexão. Intensifiquei o meu mergulho na disrupção e pude pensar em novas formas de trabalhar. Pode parecer bizarro, mas acredito que, apesar e talvez por causa de todo o sofrimento que nos foi imposto, hoje estamos mais fortes do que antes da Covid.
O que mais a L21 está preparando para este 2022 de retomada?
Estamos com vários projetos saindo do forno neste momento. No meio do ano, a Aventura Entretenimento vai estrear na Cidade das Artes um espetáculo musical celebrando os 25 anos dos estúdios Pixar, com personagens de ‘Procurando Nemo’, ‘Toy Story’, ‘Monstros S.A.’, ‘Up’, ‘Carros’ e ‘Os Incríveis’. No segundo semestre, a Musickeria vai gravar o Samba Book com canções de Beth Carvalho interpretadas por outros artistas, assim como fizemos há alguns anos com a obra de Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão e João Nogueira. E tem muito mais coisa vindo por aí…
O Blue Note Rio vai voltar? Já cogitou produzir um festival Blue Note lá no alto da Urca?
O Blue Note Rio vai voltar, sim! Nossa expectativa é que a casa seja reaberta no final deste ano. Não vai ser no antigo endereço, na Lagoa. Estamos negociando outro imóvel para abrigar esse templo do jazz e da música instrumental.
Por fim, quais são as suas perspectivas para o negócio do entretenimento?
As perspectivas são as melhores. Se teve uma coisa que ficou muito clara durante a pandemia é que a arte e a cultura são artigos de primeira necessidade. E o patrocínio de festivais, exposições, shows e espetáculos é uma maneira gentil, positiva e eficiente de estreitar a conexão entre marcas e pessoas, de explicitar seus posicionamentos. Tenho visto muita gente cheia de projetos e de entusiasmo nessa retomada. Produtores animados, artistas motivados, público sedento: o ecossistema do setor de entretenimento e eventos está carregado de energia. Vamo que vamo!
Programação de abril do Tim Music Noites Cariocas
DIA 1 (SEXTA)
22h – Pocket Musical Tributo a Cazuza
24h – BaianaSystem
DIA 2 (SÁBADO)
23h – Ney Matogrosso
DIA 8 (SEXTA)
22h – Pocket Musical Tributo a Cássia Eller
24h – Anavitória
DIA 9 (SÁBADO)
23h – Baby & Pepeu 140 Graus
Tim Music Noites Cariocas
Praça General Tibúrcio, Praia Vermelha.
Ingressos a partir de R$ 120.
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