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Marrakech, a cidade sensorial

por | abr 13, 2018 | Turismo, Viagens | 0 Comentários

Deserto de Merzouga

O sol desponta no horizonte e os muezins começam a entoar as primeiras preces do dia nas mesquitas para todo mundo ouvir e acordar, por meio de alto-falantes instalados no alto dos minaretes. Está começando mais um dia em Marraquexe.

Aos poucos, a praça central de Djemaa El Fna vai se enchendo de vida e de vendedores de chebakias (biscoitos de gergelim), de xícaras de chá de menta e de garrafinhas de suco de laranja sanguínea – aquela com a polpa avermelhada.

Nas ruelas da Medina, as milhares de lojinhas vão abrindo e expondo todo tipo de produto feito a mão pelos artesãos da cidade: babuches de couro, travessas coloridas de louça, caixinhas de madeira de todos os formatos, luminárias de ferro trabalhado e cheias de filigranas, echarpes e foulards de seda, tapetes trançados com lã e fibras vegetais, temperos com os mais variados aromas, azeitonas de todas as cores, tâmaras de tudo que é tamanho e amêndoas e pistaches de todo tipo.

A lista de produtos é interminável e, para quem gosta de barganhar e fazer boas compras, os souks (mercados) são verdadeiros paraísos. Cada compra tem de ser feita com muita calma e paciência. Quem tem pressa faz péssimos negócios e pode até ofender sem querer o vendedor. Eles gostam de negociar, de exaltar as qualidades de seu produtos e de baixar o valor inicial bem devagarinho. Se você não quiser participar desse processo, procure as raras lojas cujos produtos têm etiquetas com os preços. No entanto, tenha certeza de que você poderia levar para casa esses mesmos itens pela metade do preço – se tivesse disposição para pechinchar.

Praça de Djemaa El Fna

Mas Marraquexe não é apenas um lugar para fazer compras. A cidade é um centro cultural e religioso, com bonitas mesquitas (como a de Koutoubia) e uma interessante madrassa (centro de estudos do alcorão) – a escola islâmica Ali Ben Youssef.

E, apesar de ficar na entrada do deserto de Merzouga, Marraquexe não é uma cidade árida e seca. Muito pelo contrário – em alguns lugares, chama a atenção a exuberância do verde e a fartura da água jorrando em fontes e torneiras. É que, ali do lado, visíveis ao longe, quando olhamos para o leste, ficam as montanhas do Atlas, cujos picos nevados degelam e garantem o abastecimento e a irrigação das vizinhanças. Três exemplos magníficos dessa opulência verde são o Palácio da Bahia, os Jardins de Majorelle e o horto de La Mamounia.

O Palácio da Bahia é uma construção do século 19 considerada uma das principais joias da arquitetura marroquina. Possui mais de 150 cômodos, todos decorados com azulejos pintados a mão, portas de cedro entalhado e tetos cobertos de afrescos. Entre um pavilhão e outro, tem pátios cheios de laranjeiras, tamareiras, ciprestes, jasmins e hibiscos.

As cores das especiarias de Marrakech

O horto do hotel La Mamounia é um enorme oásis com alamedas ladeadas por oliveiras e bouganvilles e outras 1.200 espécies de plantas. Sua história começou no século 12, e depois ele foi doado de presente ao príncipe Al Mamoun, por conta de seu casamento. Em 1923, o palácio real com arquitetura moura e detalhes art déco foi convertido em um luxuoso hotel, que hospedou nesses últimos 90 anos celebridades como Charlie Chaplin, Edith Piaf, Winston Churchill, Marlene Dietrich e Paul McCartney.

E os Jardins de Majorelle são um verdejante jardim botânico criado no início do século passado e que, a partir dos anos 80, serviu de residência para Yves Saint-Laurent. Hoje, o local abriga um museu com icônicas criações do estilista francês e indumentárias dos berberes – a etnia que há milênios habita os arredores de Marraquexe.

Por toda a cidade, dá para encontrar reminiscências da dominação francesa, que durou de 1912 a 1956. O Grand Café de La Poste é um exemplo disso. A todo momento, você tem a impressão de que o Humphrey Bogart e a Ingrid Bergman vão entrar pela porta do salão, e o cardápio tem delícias como o foie gras no brioche, o tartare de bœuf e o confit de canard. Para refrescar, prove o Agrumenthe, um coquetel sem álcool (estamos em um país muçulmano) feito com suco de laranja e xarope de menta.

O charme europeu também é o destaque nos grandes hotéis da cidade. Todas as grandes redes de luxo estão por lá: o Fairmont, o Four Seasons, o Mandarin Oriental e o &Beyond são espetaculares, mas ficam distantes da Medina, do centro onde pulsa o coração da cidade e onde os nossos olhos não cansam de se surpreender – seja por um encantador de serpentes, um músico, um ilusionista ou um grupo de acrobatas e contorcionistas.

O único hotel que fica ali bem pertinho dessa vibração toda é o La Sultana. Com apenas 28 amplas suítes, é fantástico: é pequeno, intimista, com um excelente restaurante no rooftop e um spa sensacional no subsolo. Ali, quem não se submete ao ritual do hammam não sabe o que está perdendo: a sequência de sauna a vapor, esfoliação, hidratação com óleo de argan e massagem é algo que faz a gente querer viver um pouco mais só para um d ia ter a oportunidade de passar por tudo isso novamente. As diárias neste aconchegante cinco estrelas que faz parte da charmosa rede Small Luxury Hotels of the World custam de US$ 400 a US$ 1.100, e ele fica exatamente ao lado de outra grande atração da cidade: as Tumbas Saadianas – uma série de mausoléus em mármore e com detalhes em ouro e madeira encravada onde estão sepultados os sultões da dinastia mais rica e poderosa da história do Marrocos.

Piscina do Hotel La Sultana

Ah, você ficou interessado no ritual do hammam mas não sabe o que é óleo de argan? Trata-se de uma substância de alto poder emoliente e hidratante extraída dos frutinhos de árvores da família das sapotáceas, que crescem por todas áreas rurais do Marrocos. E, se você sair da cidade, certamente vai se deparar com aquela cena que já virou um clássico: várias cabras trepadas nos galhos de uma árvore de argânia comendo seus frutinhos. Como as cabras fizeram para subir lá? Ah, não se preocupe com isso. Apenas saque sua câmera e faça fotos, muitas fotos!

Outros animais encantadores com quem você não pode deixar de interagir quando for ao Marrocos são os dromedários. Se você não quiser subir num deles, vá até o Café Clock e peça um Camel Burger – sanduba feito com a carne desses simpáticos parentes das lhamas. Para beber, peça um milk shake feito com leite de amêndoas.

Agora, se quiser contar com a ajuda desses camelídeos para encarar as fofas areias do deserto, agende um tour com direito a passeio no lombo de um desses dóceis animais – de preferência na hora do pôr-do-sol. E fique atento na hora de subir e descer de suas corcovas – é quando os tombos costumam acontecer.

A melhor época para visitar Marraquexe é de setembro a abril,Fique atento para não ir lá na época do Ramadan – período de quatro semanas quando os muçulmanos não podem comer nada entre o nascer e o pôr-do-sol. É uma tradição religiosa que todo mundo respeita, mas que acaba deixando as pessoas um tanto irritadiças e estressadas. E muita coisa não funciona nessas datas.

De São Paulo para o Marrocos, a companhia aérea Royal Air Maroc opera quatro voos semanais direto para Casablanca com um moderno Boeing 787 Dreamliner, mas outras boas opções são ir pela TAP e fazer uma escala em Lisboa (voos diários) ou ir com a Iberia (voos diários) e fazer uma paradinha em Madri.

Se você não quiser se hospedar em um hotel de luxo e preferir algo mais típico, saiba que a Medina de Marraquexe é repleta de riads – casas de família convertidas em pequenas pousadas. Nesses locais, não é difícil encontrar opções com diárias de menos de US$ 50, e muitas têm piscina para você se refrescar ao final de um exaustivo dia “camelando” pela cidade.

Esquis e trenós no Marrocos

No auge do inverno marroquino, o país é invadido por turistas alemães e ingleses. O que eles querem? Estações de esqui baratinhas, sem os preços exorbitantes dos Alpes. Isso mesmo, você não está lendo nada errado: o Marrocos é muito requisitado por suas estações de esqui!

A mais conhecida é a de Oukaimeden, que fica na já citada cadeia de montanhas do Atlas, a aproximadamente 80 quilômetros a sudeste de Marraquexe. Lá, as altitudes variam de 2.600 a 3.300 metros acima do nível do mar e as pistas somam mais de 10 km de extensão. Não se surpreenda se, durante a sua descida, surgir ao seu lado uma criança montada num burrico. Aldeias de povos berberes dividem o espaço com os esquiadores em meio à brancura da neve.

A estrutura não é a mesma de Courchevel (na França), de Zermatt (na Suíça) ou de Innsbruck (na Áustria) mas, se você negociar bem, poderá alugar todos os equipamentos necessários esquiar uma tarde inteira por cerca de 250 dirhams – menos de R$ 100!

Outras estações muito visitadas são as de Michlifen e Azrou, na região do Parque Nacional de Ifrane, entre as cidades de Meknes e Fez, no norte do país.

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