logo
logo

Empresária, cantora e influenciadora, Preta Gil leva reflexões sobre a liberdade do corpo

por | fev 1, 2020 | Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Preta Gil é sinônimo de ousadia, liberdade, autenticidade e franqueza, qualidades que ela expressa em seu dia a dia, nas redes sociais e no Carnaval de rua de Salvador, de São Paulo e do Rio de Janeiro. À frente do Bloco da Preta, a cantora costuma reunir 1,5 milhão de foliões em um único dia. Preta também é referência de lutas importantes do nosso tempo, além de ser uma empresária bem-sucedida e múltipla.

Entre uma agenda recheada de shows, sociedade em agências e marcas, e ativismos nas redes sociais, a função de avó da pequena Sol, de 4 anos, é vista por Preta como “a experiência mais incrível” de sua vida: “Não é algo que você se prepara, mas quando acontece você simplesmente aprende com cada momento e a cada instante”. Casada pela segunda vez e mãe de Francisco Muller, de 25 anos, Preta foi mãe jovem, aos 20 anos, e hoje, aos 45, é uma avó entusiasmada, que está sempre com a neta, inclusive nas redes sociais.

Empresária, influencer digital e cantora, Preta Gil faz de tudo um pouco. Foto: Alex Santana

Quando começou a cantar profissionalmente, no início dos anos 2000, a cantora esbarrou em algumas questões. Tinha que encontrar a sua turma, expressar o que sempre pensou e queria aplicar os conhecimentos técnicos de publicidade em sua carreira musical.

Não é pouca coisa ser filha de Gilberto Gil, um dos maiores músicos brasileiros, e Preta soube aproveitar a rica herança musical e cultural do pai e de todos os amigos que fizeram a MPB ser o que é a partir dos anos 1970. Dele, herdou o ouvido aberto e atento: “O melhor conselho que ele me deu foi que eu precisava encontrar sozinha os meus estilos e as pessoas que somariam à minha música”.

Deu certo. O primeiro álbum de estúdio de Preta Gil , o “Prêt-à Porter”, foi lançado em 2003. A cantora tirou fotos nua para a capa e o encarte do CD, o que rendeu muitos comentários na época, já mostrando a que veio. “Se eu fosse magra, o barulho não seria tão grande”. A partir daí, ela passou a se posicionar fortemente, propondo reflexões sobre a importância de aceitar o próprio corpo e romper com padrões escravizantes de beleza.

Preta foi criança nos anos 1980, quando acompanhava alegremente a disco music, as Frenéticas e o programa do Chacrinha, expoentes culturais importantes no país, que influenciaram o estilo da carioca. A cantora também traz da infância a memória de uma casa viva e cheia de irmãos com múltiplos talentos. “O cheiro de dendê me remete àquele tempo”, lembra com carinho.

Preta, com Gilberto Gil, em seu bloco no Rio de Janeiro

Preta é filha da empresária Sandra Gadelha, é enteada de Flora, casada com Gil há 32 anos, e afilhada de Gal Costa. “Mulheres que são exemplo de força sem diminuir ninguém, elas me ensinaram a ser livre e lutar contra os preconceitos. Foi minha mãe que me mostrou o que é ser antirracista. Ela é branca, mas brigava por nós sempre!”

Vá se benzer

É justamente por causa da luta contra as discriminações que Preta Gil se tornou, entre tantas funções, influenciadora. Com 7,5 milhões de seguidores no Instagram, a cantora não deixa de postar sobre liberdade sexual, sendo apoiadora assídua da comunidade LGBT+, expressando também em suas músicas o direito de amar quem quiser.

Lançou no ano passado o clipe “Só o Amor” com a cantora e drag queen Gloria Groove, impulsionando a narrativa da personagem de Glamour Garcia, atriz trans que interpretou Britney na novela “A Dona do Pedaço”, da TV Globo. Preta Gil ainda trouxe outras mulheres trans da vida real ao clipe, com homenagens para figuras célebres como Rogéria, Roberta Close e Laerte. “Essas são verdadeiras heroínas”, enfatiza. Misturando diferentes mídias e vozes influentes, ela sabe ser estratégica para se fazer ouvir.

A cantora com os irmãos e a mãe, Sandra Gadelha. Foto: Acervo pessoal

As parcerias na música sempre foram diversas, assim como os ritmos escolhidos pela cantora. Entre suas canções há pop, samba, axé e tudo junto. Estilos que estão presentes na música “Vá se Benzer”, em parceria com Gal Costa, lançada em 2017. “Naquele momento eu precisava de uma força materna do meu lado, por isso escolhi a minha madrinha para cantar comigo”.

Para a cantora, a arte é um conjunto de expressões. Seu corpo, seus pensamentos e a direção de arte se transformam em amplificadores de sua música. “Na minha casa nunca teve isso de essa música é boa ou não, não importa… Fomos criados com ouvido aberto, eu canto o que toca o meu coração. A música tem que bater em algum lugar em você, seja no coração, na cabeça ou no quadril”.

Da Central do Brasil à Estação da Luz

Preta nasceu no Rio de Janeiro e tem em Salvador suas origens e referências culturais, já que essa é a cidade de seu pai. “Sou também apaixonada por São Paulo, é um lugar noturno e cheio de energia, me identifico”, diz ela, que hoje está sempre na ponte aérea, e por isso mantém uma casa na capital paulista.

“Lembro que nós viajávamos muito de trem do Rio para Sampa quando era pequena. Mal conseguia dormir observando tudo pelas janelas… Saíamos da Central do Brasil direto para a Estação da Luz, essa foi uma conexão que eu amava”.

Preta com o marido, Rodrigo Godoy. Foto: Divulgação

Em São Paulo, Preta Gil trabalha muito. É sócia da agência Mynd, especializada em marketing de influência e entretenimento, com clientes famosos da música, como Luísa Sonza e Pabllo Vittar. Um do trabalhos mais recentes da empresa inclui um dossiê sobre o comportamento musical do país, com tendências sobre o funk, que é referência de música brasileira no exterior.

“Também sempre fui muito ligada à internet e dizia para todos os meus amigos cantores para estarem nas redes sociais”. Foi uma das primeiras cantoras a ter Orkut e páginas próprias, há mais de uma década. “Segui as atualizações e consegui um olhar privilegiado sobre como os artistas podem se conectar com marcas de forma verdadeira no ambiente digital”, observa.

Seu diagnóstico é que o mercado de publicidade nunca foi tão sincero: “Tudo está junto, o que está na TV e na rádio está na internet. É preciso orquestrar as mensagens e as pessoas esperam espontaneidade e transparência”.

Além da sociedade na agência, Preta ainda tem uma marca própria de esmaltes e administra o Bazar da Preta, brechó beneficente que revende roupas e acessórios de famosos, como Anitta, Kelly Key, Carolina Dieckmann, Danilo Faro e Sabrina Sato, no Rio de Janeiro e em São Paulo, e reverte o valor para instituições filantrópicas.

Sangue e suor de Carnaval

Quatro gerações da família Gil, com filho e neta. Foto: Acervo pessoal

Há 11 anos na capital carioca, o Bloco da Preta iniciou a tendência de grandes blocos de rua comandados por cantores. Hoje, Tiago Abravanel, Elba Ramalho, Léo Santana, Alceu Valença, entre outros artistas de diversos estilos, arrastam multidões pelas avenidas durante o Carnaval. “É incrível ter aberto essa ala, o Carnaval é um evento acessível e democrático, para todo mundo que quiser aparecer”.

As expectativas para a festa deste ano incluem receber mais de um milhão de pessoas também no bloco em Salvador e São Paulo, além de misturar pop, funk, samba e axé na folia de todo mundo. No comando de tanta alegria, Petra Gil é sincera e feliz ao analisar a carreira: “Para mim, palavra de recompensa não é sucesso, é felicidade”.

Jogo rápido

Quais os maiores desafios da sua vida no momento?

O maior desafio é conciliar o tempo dedicado à família e dar conta dos meus muitos compromissos de trabalho. Esse equilíbrio entre as diferentes forças e demandas é um objetivo constante.

Como você descreveria a si mesma?

Sou uma pessoa feliz, sem preconceitos e fiel aos meus princípios e amigos.

Pelo que e como você gostaria de ser lembrada?

Nunca parei para pensar nisso, mas gostaria de ser lembrada como alguém que foi feliz fazendo o outro feliz.

Qual a melhor forma de começar o dia?

Com um beijo de alguém que amo que esteja por perto.

Qual a coisa mais louca que já fez?

Não sei se foi a mais louca, mas aceitar ser rainha de bateria da Mangueira foi sem dúvidas uma ousadia, o Bloco da Preta foi consequência disso. Hoje, me sinto realizada por ter deixado o Carnaval entrar na minha vida dessa forma tão intensa. Viva a Mangueira! Viva o Carnaval!

Veja nosso Ping Pong com a cantora:

0 comentários
Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *