Essa é a história de uma gota de chuva. Antes de cair em uma poça de água em São Paulo, o mar era o seu lar. Como uma onda no Oceano Atlântico, ela dançava aos passos da lua até aceitar o convite do sol para viver nos ares. Fez-se vapor, escalou rumo ao céu e, desde então, não parou quieta.
Planando em direção à terra, encontrou suas irmãs e brincaram de rabiscar o anil do céu em tons de cinza e branco. Quando conheceu o verde, foi amor à primeira vista. Na imensidão da Amazônia, despediu-se do céu para visitar uma bela árvore. Regou aquela que viria a ser a sua morada, ajudando-a a crescer, mas enraizada, sentia saudade de voar livremente.
Agradecida pelos momentos que passaram juntas, a árvore soprou a água forte para partir com o vento. Seguiu veloz até alcançar suas irmãs e foram desenhando-se em nuvens nas alturas. Um dia, viram algo inédito: um obstáculo. Grande e durona, a Cordilheira dos Andes, estava ali para evitar que elas sequer sonhassem em molhar o Atacama. Parte das águas cansaram e foram viver como rios naquele mesmo momento; desceram ao pé da montanha e cortando a terra seguiram procurando o caminho de volta para o mar.
Ainda não era o momento da nossa gota voltar para o chão. Como muitas outras, deu a volta para desfrutar mais um pouco a vida leve dos céus. Voou para o sul, deu uma voltinha rumo ao leste. Exausta, viu uma enorme mancha cinza abaixo e pensou que seria bom chover por aí – Quem sabe assim o verde não cresce um pouquinho? Agora, em uma minúscula pocinha, o sol a convida novamente para viver no céu.
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