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Com o envelhecimento da população, empresas são forçadas a bolar novas estratégias

por | fev 1, 2019 | Negócios | 0 Comentários

Filme “Um senhor estagiário”, com Robert De Niro e Anne Hathaway

O número de pessoas com idade superior a 60 anos no mundo chegará a 2 bilhões até 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso representará um quinto da população mundial. No Brasil, as projeções para 2020 são de 20 milhões de idosos e, em 2060, esse número deve quadruplicar, chegando a 60 milhões.

Como no filme “Um Senhor Estagiário”, em que o personagem de Robert De Niro volta ao mercado de trabalho aos 70 anos, encarando desafios e pronto para aprender novamente, quem valoriza a mão de obra mais experiente poderá sair na frente. Isso porque a população jovem diminuirá proporcionalmente e a expectativa de continuar ativo é cada vez mais sólida entre as pessoas.

Nesse cenário, o jornalista Jorge Félix, especialista em Economia da Longevidade e autor do livro “Viver Muito” (Ed. Leya), explica que é possível produzir com menos mão de obra. “A tecnologia permite aumentar a produção com menos braços e os empregos que serão ofertados são os chamados ‘operários de reunião’. É gente que pensa, inventa, reflete, elabora. Na outra ponta, temos empregos que a máquina não substitui, como os cuidados para idosos”.

Respeito às diferenças

Tássia Chiarelli, gerontóloga e professora da USP, diz que é preciso reconhecer que estamos passando por esse processo de transição demográfica, entender como as pessoas estão envelhecendo e, assim, pensar estrategicamente. “O idoso provavelmente será um consumidor em potencial e uma parcela dessa população continuará no mercado de trabalho. É necessário olhar agora para essa mão de obra que contribuirá com a movimentação da economia”.

Para isso, cada empresa pode aproveitar a diversidade geracional para fortalecer seus valores e construir uma cultura que respeite as diferenças de seus colaboradores. “Contudo, apenas contratar pessoas com idades diferentes não é o suficiente. É preciso provocar interações e aprendizados entre jovens e mais velhos, propor modelos de carreira que atendam às diferenças geracionais, bem como oferecer programas de preparação para aposentadoria ou pós-carreira”, pontua Tássia.

Bons exemplos e alternativas

O planejamento de carreira na velhice tem se tornado mais recorrente no Brasil. “Isso inclui rever as finanças e as oportunidades para continuar produtivo”, explica Fernanda Campos, diretora geral da Stato, Consultoria de Movimentação de Talentos. “A pós-carreira oferece alternativas como consultorias e integração em conselhos administrativos para executivos, por exemplo”.

Fernanda Campos, diretora da Stato

Fernanda também mostra que setores que equilibram a diversidade geracional nos seus quadros têm enxergado vantagens. “Especialmente no varejo, em empresas de serviço e atendimento ao cliente, é perceptível o reconhecimento dos funcionários mais velhos. Os seniores são mais pacientes, têm uma comunicação clara e capacidade de treinar os times mais jovens”.

Formação continuada

Seja em momentos de crise ou de estabilidade no emprego, a educação abre portas para o trabalhador mais velho. Mesmo que a pessoa tenha trilhado uma carreira brilhante, novos conhecimentos podem ser o diferencial para a contratação e a recolocação. “A tecnologia sofre alterações constantes, por isso participar de um curso de atualização pode preparar melhor o idoso para um cargo”, destaca Tássia Chiarelli.

Comprovando essa percepção, alunos mais velhos são cada vez mais comuns nas universidades. Carlos Eduardo Gomes, coordenador dos cursos de Pós-Graduação do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que, em cursos de formação executiva, além dos temas técnicos, o desenvolvimento de aspectos de liderança é o diferencial entre os mais velhos. “Eles já percebem essa tendência. Gestão Estratégica de Negócios e Liderança e Desenvolvimento Humano são os cursos mais procurados por eles”.

Solidariedade entre as idades

A intergeracionalidade é a pauta e a bandeira da startup Pangera, que desenvolve produtos, estudos e serviços que ajudam na promoção de um ambiente de trabalho inclusivo. Rosa Alegria é futurista e uma das fundadoras da empresa. Ela discorre sobre as tendências acerca desse tema no país:

Como a diversidade geracional tem sido incorporada por empresas de outros países? Existe algum exemplo que o Brasil deveria seguir para a construção de um futuro positivo entre gerações no trabalho?

Diversas empresas têm investido na diversidade geracional, mas isso não garante a intergeracionalidade. É preciso trabalhar nessa direção e isso eu tenho visto pouco. Iniciativas como “recrutamento às cegas” podem acelerar a criação de ambientes intergeracionais. Empresas globais como GE e brasileiras como NuBank e Artplan começam a selecionar profissionais sem ter acesso a informações pessoais como sexo, cor, estado civil e idade. Vejo nisso um caminho promissor.

Quais são as tendências futuras da sociedade em relação a esse tema?

Nos próximos dez anos veremos uma quebra acelerada de fronteiras e de hierarquias. Nestes novos tempos é possível criar ou experimentar novas identidades etárias tanto na vida real como no mundo virtual. Nos relacionamentos pela internet um homem pode se fazer passar por mulher e vice-versa.

Essa fluidez também estará no campo da identidade etária, como reflexo das múltiplas oportunidades de estilos de vida: um velho passando por um jovem ou um jovem por um velho. Há uma crescente proximidade entre as gerações determinando uma nova identidade do que é “velho” e do que é “jovem”. O que se espera é que o resultado desse processo favoreça o desenvolvimento da solidariedade entre pessoas de todas as idades.

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