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Parceria entre Rosas de Ouro e pesquisadores traz inovações tecnológicas ao sambódromo

por | fev 4, 2020 | Cultura | 0 Comentários

Muitos sonhos ganham vida no Carnaval. Paetê, crepom e glitter ajudam a dar forma às fantasias daqueles que anseiam pelo momento de fazer loucuras e estar na pele de personagens queridos e debochados. Enquanto os foliões tomam as ruas do país, as escolas de samba transformam o trabalho de um ano no maior espetáculo do planeta. Cada enredo é um recado para o Brasil ao som do cavaquinho e do tamborim. Em 2020, uma mensagem bastante diferente das demais está sendo proferida pela Rosas de Ouro: “Queremos tempos modernos”.

Na contramão da maioria das escolas, que costumam trabalhar com temas ligados a personalidades ilustres, ao folclore e às questões sociais do Brasil, a agremiação paulista vai retratar as revoluções industriais, com ênfase na 4ª, que está começando a acontecer. O surgimento da máquina a vapor no final do século XVIII; o início da produção em massa nos anos 1910; os primórdios da robotização, no pós-segunda guerra, até o surgimento dos softwares e hardwares – todas essas tecnologias compõem a parte histórica do enredo da Rosas de Ouro.

Mestre-sala e porta-bandeira da Rosas de Ouro mostram o enredo do desfile deste ano. Foto: Igor Cantanhede

“Agora, nós vamos entrar na 4ª revolução industrial e a sociedade vai sofrer enormes transformações. Acontecerá um desenvolvimento simultâneo e acelerado da tecnologia em três mundos: o físico, o digital e o biológico”, resume Elcio Brito, doutor em engenharia especializado no desenvolvimento de tecnologias de automação e informação. Carros autônomos, reportagens escritas por computador, órgãos artificiais, robôs ocupando cargos variados, de cozinheiros a CEOs – o que era ficção científica passa a ser real nos próximos anos, mas o novo cenário não é promissor para o Brasil. Segundo um levantamento de 2016 do Fórum Econômico Mundial, o país é o 72° no índice de preparo para a 4ª revolução industrial, atrás de países como Costa Rica, Panamá, Trinidad e Tobago e Colômbia.

Visando nos conectar ao que está por vir, Elcio Brito e dezenas de outros especialistas e cientistas de diversas áreas e instituições lançaram, em 2017, o livro “Automação & Sociedade – Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil”. Apesar da relevância dos estudos publicados, a obra não conseguia levar o debate para a boca do povo. “Nós debatemos a melhor forma de levar isso para frente e surgiu a ideia de usar a arte e a cultura. Então resolvemos buscar o Carnaval e procuramos a escola de samba Rosas de Ouro”, revela Brito.

“Quando eles me apresentaram o tema eu fiquei morrendo de medo, pois era algo muito distante da minha realidade”, rememora o carioca André Machado, carnavalesco da Rosas de Ouro. “Mas, por outro lado, me seduziu por ser algo inédito. Esse desfile tem o poder de provocar a discussão sobre qual será o futuro do brasileiro e o que podemos fazer com essa tecnologia. Se, a curto prazo, as revoluções industriais aumentaram o desemprego, vamos colocar em pauta o debate sobre a tecnologia e pensar como ela pode ser benéfica para todos nós, não ficando restrita apenas aos ricos. Precisamos criar novas profissões para que a população continue ativa”.

Fantasia com QR Code. Foto: Igor Cantanhede

Com a ajuda de especialistas das universidades USP, Mauá e FEI, além de integrantes de outras entidades, a Rosas de Ouro trará uma série de inovações tecnológicas para o sambódromo, como QR Code nas fantasias e nos carros alegóricos (com link para informações sobre o que eles representam), registros dos batimentos cardíacos dos passistas, aplicativos e filtros para o Instagram.

Para simplificar um tema tão complexo, o carnavalesco elaborou a história de um robozinho chamado ROXP4. Criado para ser um brinquedo, ele vivia feliz ao lado de um menino até o momento em que foi substituído por uma tecnologia mais moderna. Obsoleto, ele passa a ter uma visão bastante negativa da tecnologia, pois ela veio para substituí-lo. De repente, o robô encontra um livro sobre a história das revoluções industriais e o desfile anima essa leitura.

“Eu imagino que essa tecnologia possa incrementar o ensino no Brasil e melhorar o acesso para deficientes”, conta Machado, que idealizou o ROXP4 pensando em um companheiro para seu filho Arthur, de 6 anos, portador de autismo. “Assim como aconteceu com o ROXP4 na história, o autista muitas vezes acaba sendo deixado de lado. Pensei nesse robozinho como a companhia para o Arthur, alguém que vai pegá-lo pelo braço e levá-lo a conhecer o mundo. O único problema do deficiente não é a deficiência, é o acesso. A sociedade deve criar os meios para que aquela pessoa se sinta igual às outras”, explica o carnavalesco, que sonha com um Brasil 4.0 no qual a tecnologia possa contribuir para uma sociedade mais justa, capaz de unir as pessoas com e sem deficiências.

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