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Como a tecnologia de streaming deu novo fôlego para a indústria fonográfica

por | dez 9, 2019 | Cultura | 0 Comentários

Já faz mais de um século que a tecnologia vem mudando radicalmente a nossa relação com a música. Em 1877, Thomas Edison apresentou ao mundo o fonógrafo, que possibilitou pela primeira vez reproduzir gravações de áudio no conforto de casa. Com o invento, surge a indústria musical, que só conseguiu se manter graças a sua capacidade de reinvenção.

O vinil, o walkman, o videoclipe e o mp3 inovaram completamente a forma de se consumir música, e quem não soube se adaptar saiu no prejuízo. Agora, a bola da vez é o streaming.

Primeiro disco de vinil foi lançado em 1948

O Youtube é a plataforma de streaming de música mais popular do planeta. Segundo um estudo divulgado pela IFPI, uma organização internacional que promove os interesses da indústria fonográfica, 77% dos entrevistados acessaram o Youtube para ouvir música pelo menos uma vez por mês. Dados coletados em 19 países (a maioria são os considerados países desenvolvidos, mas a pesquisa contempla também Brasil, Argentina, África do Sul e Rússia) indicam que, em 2019, 89% das pessoas utilizam plataformas de streaming para ouvir música. A pirataria continua, mas agora com índices bem mais baixos do que nos anos 2000: apenas 27% dos entrevistados dizem ter usado métodos não licenciados.

As principais razões apontadas pelos pesquisados são a possibilidade de acesso instantâneo a milhões de canções, a liberdade para ouvir o que eles querem, e o fato de considerarem a forma mais conveniente de ouvir música. “Hoje só quem é muito hipster quer ter o CD ou o vinil. Essa não é a tendência daqui para frente, mas sim a desmaterialização do suporte e o consumo da mídia em tempo real. Houve uma mudança cultural que atingiu as pessoas que consomem e produzem música, elas ganharam muito mais autonomia de fazer escolhas”, comenta Marciel Consani, músico de formação, doutor em Ciência da Comunicação e professor titular da USP.

O antigo Napster, usado para baixar álbuns

Essa mudança não começou com o streaming, mas com o Mp3. Em 1999, surgiu a primeira plataforma capaz de oferecer o download gratuito de música, o Napster. Protagonista de uma série de embates judiciais entre a indústria fonográfica e as redes, o programa de compartilhamento de arquivos fez com que a venda de CDs despencasse.

Em abril de 2003, a Apple lançou o Itunes Music Store, plataforma que permitia comprar música licenciada no formato Mp3. Não foi o bastante para barrar a pirataria. Com o preço do álbum digital muito próximo ao do CD físico, o modelo de vendas era pouco atrativo para os internautas, que já baixavam música gratuitamente.

“A mudança tecnológica revelou-se irreversível e a indústria teve que se adaptar aos novos padrões. O modelo comercial só mudou definitivamente quando a própria indústria que dominava o mercado do disco viu um caminho economicamente sustentável para investir nos novos canais de distribuição”, ressalta Consani.

Primeira geração do iPod foi lançada em 2001, revolucionando o mercado

Foi apenas em 2008, quando uma startup sueca chamada Spotify desenvolveu um novo modelo de streaming de música, que o download ilegal de música começou a decair. Com um acervo de milhões de músicas, a plataforma entregava duas opções ao ouvinte: a versão gratuita, acompanhadas de alguns anúncios; e o plano de assinatura, com o acesso ilimitado após a cobrança de uma taxa mensal de baixo custo.

O empresário musical Ricardo Chantilly está no ramo desde a década de 1990 e conta que, a princípio, houve uma discussão para as gravadoras licenciarem o uso dos fonogramas para o Spotify, mas isso acabou rápido. “Como a pirataria digital era muito grande, os serviços de streaming foram vistos com bons olhos em pouco tempo”.

Atualmente, plataformas como o Spotify dominam a indústria

Já tendo administrado a carreira das bandas Jota Quest e O Rappa, Chantilly afirma que os downloads ilegais afetam mais as gravadoras do que os músicos. “O faturamento dos músicos, principalmente dos grandes artistas, não vem das vendas de CDs nem de streamings. Ele recebe mais em função de seus shows. O CD servia mais como uma ferramenta promocional do artista. Quanto mais ele vendia – ou agora, quanto mais streaming ele tem –, mais shows costumava ter. O show é, e sempre foi, o grande faturamento dos artistas”.

Tudo indica que o streaming de áudio vai se manter hegemônico nos próximos anos. Segundo a Statista, empresa especializada em pesquisas, a receita mundial das plataformas de streaming de música em 2019 deve alcançar os US$ 11 bilhões, com mais de 1 bilhão de usuários em diversas plataformas. As projeções indicam um crescimento contínuo na receita e no número de usuários até 2023. A pirataria parece estar com seus dias contados. Talvez o exemplo mais claro dessa mudança é que o próprio Napster é hoje uma plataforma de streaming de música.

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