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Além do lazer, videogames também são uma forma válida de expressão artística

por | nov 6, 2019 | Cultura | 0 Comentários

Um encanador baixinho e bigodudo come cogumelos de origem suspeita, vira um gigante, começa a tacar bolas de fogo e pisoteia pobres tartarugas até a morte na sua cruzada para resgatar sua linda princesa das garras de um monstro. Ok… Mas como a arte entra nessa história?

A franquia mais icônica do mundo dos games, a saga Super Mario, é fruto do trabalho conjunto de milhares de programadores e artistas que dão vida ao mundo alucinógeno do nanico de boné vermelho. Entre eles músicos, animadores, escritores, diretores de arte e um profissional muito particular, indispensável para criação de qualquer jogo, chamado game designer. Ele é quem irá definir as regras que tornam possível a navegação e as interações do jogador dentro do game.

Games são também uma forma de arte

“Gris” é um jogo independente desenvolvido pela Nomada Studio

“Na perspectiva de um jogador, toda a expressão criativa de um game não aparece se não for jogado. O designer é quem define o que o usuário pode ou não fazer, assim ele cria um conjunto de regras para que o jogador possa interagir com esse espaço virtual. Por isso, esse artista deve tornar as regras claras e precisa entender muito sobre o comportamento das pessoas, para que o game alcance um bom resultado”, comenta o designer programador de games Felipe Drude.

As técnicas utilizadas no design de games se expandiram para vários contextos, normalmente não relacionados com jogos, como as galerias de arte e as escolas. A esse fenômeno é dado o nome de gamificação. Cada vez mais, vemos apropriação de linguagens dos jogos digitais em obras de arte contemporâneas. “Paulista Invaders” é um exemplo desse diálogo com o mundo dos games. Visando levantar a relevância do uso da bicicleta como meio de transporte e alertar para a fragilidade do ciclista nas ruas, o MídiaLab-UnB expôs, projetado no prédio da FIESP em São Paulo, uma releitura do clássico “Space Invaders”. A peça interativa pôde ser jogada por frequentadores da Avenida Paulista durante o mês de março de 2013.

Para a idealizadora da obra, a artista e professora titular da Universidade de Brasília Suzete Venturelli, os games são arte, pois evocam emoções e constroem narrativas. “Os jogos trabalham com a sensibilidade. Eles criaram uma nova linguagem que dialoga com as outras que já existiam, como o cinema, a música, o teatro e as artes visuais. Os games são uma forma total de arte e uma mistura de outras artes com programação e ciência. Eles têm todo um corpo de conhecimento transdisciplinar construído e experimentado. É uma nova forma de arte e expressão artística.”

Super Mario Bros é um dos jogos mais conhecidos até os dias de hoje

O MoMa, o Museu de Arte Moderna de Nova York, considerado o mais importante do segmento no mundo, tem em seu acervo mais de 20 games, que podem ser jogados em fliperamas e consoles de diversas épocas. Para Sérgio Nesteriuk, professor do programa de pós-graduação de design da Universidade Anhembi Morumbi e curador do Brasil Independent Game Festival, essa ação do museu garante o respaldo institucional para considerar os games obras de arte moderna. Nesteriuk faz um outro comentário em defesa dos games como arte: “Diariamente são lançados cerca de 600 jogos digitais. Assim como nem todas as músicas gravadas e filmes exibidos são obras de arte, o mesmo acontece com os games. Porém, no caso deles, é mais difícil descobrir quais são esses jogos”.

O professor acrescenta que um agravante para essa situação é o fato de que muitos games feitos puramente com a finalidade artística, e não a comercial, costumam ficar confinados a um gueto, pois entre o nicho dos gamers eles não são considerados jogos de verdade, já que fogem do convencional. Dentro do circuito artístico eles enfrentam uma série de preconceitos, afinal grande parte da crítica encara-os como brinquedo ou produto, em vez de uma manifestação cultural autêntica.

Pacman sendo jogado no prédio da Fiesp, na Avenida Paulista

Contudo, Nesteriuk é otimista e acredita que os preconceitos acerca dos games vão diminuir por conta de um fator geracional. “Já foi assim com o rock’n’ roll, com os quadrinhos e até com as bikes. Antigamente, os pais eram contra as bicicletas, não era bem visto a criança sair e ficar na rua; o que tinha valor era apenas a erudição, como tocar piano e passar as tardes em casa lendo. E hoje os pais estão doidos para que o filho saia para brincar”.

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