É difícil escrever sobre o Uruguai. Não porque não haja o que falar sobre ele, mas justamente pelo contrário. Na verdade, é impressionante como um país com apenas três milhões de habitantes e com uma extensão territorial menor do que o Estado de São Paulo possa ser tão rico e diversificado. Por onde começar?
Poderia iniciar falando de Montevidéu, sua capital, considerada pelo relatório da consultoria Mercer sobre qualidade de vida a melhor cidade para viver em toda América Latina. É lá onde se concentra a maior parte da população uruguaia, com cerca de 1,3 milhão de pessoas.
Foi lá também que o compositor Gerardo Matos Rodríguez escreveu o tango mais famoso da história, “La Cumparsita” – aliás, o Uruguai tem não apenas o tango mais difundido de todos os tempos, como também o seu principal expoente, o músico Carlos Gardel, que, para a infelicidade de nossos hermanos argentinos, os indícios históricos parecem apontar que de fato ele era uruguaio.
É em Montevidéu que está o Estádio Centenário, construído para sediar a primeira Copa do Mundo, em 1930, quando o país conquistou o primeiro dos seus dois títulos mundiais – sobre o segundo, em 1950, no Brasil, não precisamos entrar em detalhes.
Também é na capital que estão os principais museus e pontos turísticos e culturais, como a Plaza Independencia. Nela está localizada a estátua do herói nacional, o General Artigas, assim como o seu mausoléu no subterrâneo da praça. Em frente à praça, o visitante poderá conhecer o edifício Palácio Salvo, desenhado pelo arquiteto italiano Mario Palanti e inaugurado no ano de 1928, com os seus 95 metros e 27 pisos.
A capital uruguaia conserva muito de sua história. A Cidade Velha, que tem início passando-se pelos restos do portão da antiga muralha que circundava Montevidéu em sua época de colônia, é a parte mais antiga da cidade, originária da urbanização que data de 1742.
Ali no início do bairro ficam o Museo Torres Garcia, com a história e as obras do grande artista, e também a charmosa livraria Mas Puro Verso, cujo prédio com arquitetura “art nouveau”, datado de 1917, foi originalmente construído para ser a sede de uma loja de equipamentos médicos.
Descer a pé pelas ruas da Cidade Velha é uma experiência fantástica. As ruas ficam mais estreitas e íngremes e, se você se encontrar em um ponto alto, consegue ver à distância, entre os prédios antigos, o Rio de La Plata e a ponta de alguns guindastes dos cargueiros do porto. Descendo até o final do bairro, chega-se ao Mercado del Puerto, local de turistas e boêmios locais, com restaurantes, bares e lojas.
Além dos pontos já conhecidos pelo turismo, a cidade guarda lugares interessantíssimos que às vezes escapam do grande público. É o caso da simpática livraria Escaramuza, que funciona em uma antiga casa no bairro de Cordón, com uma área no fundo reservada para um café. Também no mesmo bairro está o Mercado Ferrando. Inaugurado em 2017, é um galpão de 2 mil m2 que abriga pizzarias, sorveteria, comidas mexicanas, casa de carnes, entre outras opções gastronômicas.
Aliás, opções gastronômicas não faltam em Montevidéu. O Restaurant García é um clássico grill uruguaio com cortes premium selecionados e uma excelente cozinha; o Jacinto é comandando pela jurada do MasterChef uruguaio, Lucía Soria, e serve pratos com influências ítalo-espanholas; o Autoría tem uma cozinha contemporânea; já o Bruta e o Tribu Montevideo apresentam uma cozinha moderna e autoral.
O charme do enoturismo
O Uruguai, de uns anos para cá, vem ganhando cada vez mais notoriedade pelos seus vinhos. A produção em sua maior parte é focada no público local, por isso a diversão é explorar as vinícolas (ou “bodegas”, como se diz em castelhano) e descobrir rótulos que dificilmente chegam ao Brasil – ou até encontrar rótulos já conhecidos, mas por preços melhores.
Existem muitas vinícolas no Uruguai, mas grande parte concentra-se em duas regiões: Canelones, que fica a cerca de uma hora de Montevidéu, e Carmelo, perto de Colonia del Sacramento. A maioria das vinícolas é formada por empreendimentos familiares, de origem de imigrantes italianos e espanhóis, que passam o negócio de geração em geração.
NA REGIÃO DE CANELONES
Juanicó
Uma das mais tradicionais vinícolas pertence à família Deicas. Seu vinho mais conhecido é o Don Pascual. Ela abre todos os dias para visitação, com passeio nos vinhedos e nas instalações, onde se mostra o processo de produção dos vinhos. Ao final do passeio, acontece uma degustação. juanico.com
Pizzorno
Foi fundada em 1910 e é comandada por Carlos Pizzorno, quarta geração da família. O tour abrange desde uma visitação pelas barricas, até uma degustação que varia entre quatro e cinco rótulos diferentes. A vinícola também tem uma pequena pousada onde é possível se hospedar. pizzornowines.com
NA REGIÃO DE CARMELO
Bodega Irurtia
A vinícola data de 1913, quando o fundador, Don Lorenzo Irurtia, espanhol nascido na cidade de Pamplona, chegou a Carmelo para trabalhar na pedreira que fica no fundo da propriedade. Hoje a vinícola desenvolve vinhos com diversas cepas francesas, produzindo mais de 100 mil garrafas de vinho fino. Oferece visitação e também tem um café na entrada. irurtia.com.uy
Narbona
Uma das mais famosas vinícolas da região, ela é focada em turismo de luxo. Tem um excelente restaurante e uma pousada boutique. Em alta temporada, é importante fazer reserva para visitação por causa da alta demanda. Além dos ótimos vinhos, eles vendem o doce de leite Narbona, conhecido por ser um dos melhores do país. narbona.com.uy
Campotinto e Bodega Cordano
A Campotinto une pousada, restaurante, condomínio de vinhos e produção própria. Ali perto, em um antigo armazém, fica a Bodega Cordano, que vende desde vinhos a produtos feitos na região. Os dois oferecem visitação. posadacampotinto.com e almacendelacapilla. wixsite.com/almacendelacapilla
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