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Estada no Matutu, em Minas Gerais, permite imersão profunda na natureza

por | fev 7, 2020 | Turismo, Viagens | 0 Comentários

Para quem anda cansado da muvuca das praias lotadas de todos os Carnavais e deseja escapar dos intermináveis sons dos bloquinhos, felizmente ainda existem alguns paraísos intocados entre as montanhas de Minas Gerais.

Neles, os maestros que comandam as trilhas sonoras são os pássaros das matas e o fluxo das cachoeiras. São ambientes propícios para o relaxamento profundo, a desintoxicação física e mental e até mesmo para que o viajante faça um ajuste fino da sintonia com a própria espiritualidade.

Matutu

A bela visão do Pico do Papagaio, com as cerejeiras em flor. Fotos: Marta Alvim

Um desses recantos perdidos e ainda não corrompidos pelo turismo predatório – que procura pasteurizar tudo e todos em um monocromático padrão – é o abençoado Vale do Matutu (na língua indígena dos ancestrais, Matutu significa Cabeceira Sagrada).

O vale fica a 18 quilômetros de estrada de terra da charmosa cidadezinha Aiuruoca – “Casa do Papagaio” na língua tupi –, que, por sua vez, dista apenas 46 km de Caxambu. O Matutu fica encravado e protegido no fundo do vale que forma uma grande ferradura entre os contrafortes do Pico do Papagaio e o Morro Cabeça de Leão. Toda essa exuberante natureza que contém diversos biomas da mata atlântica fica às margens do parque Estadual Serra do Papagaio, que faz parte de uma franja da Serra da Mantiqueira.

Segundo relatos, a primeira fazenda que ali se instalou foi de migrantes do Rio Grande do Sul, em 1860. O casarão, sede dessa fazenda, resistiu ao tempo e é hoje a sede da Associação de Moradores e Amigos do Matutu. Porém, foi no início dos anos 1980 que um novo movimento migratório se consolidou para dar a atual forma de ocupação da região. Os novos migrantes, entre outras atividades, também fundaram a Comunidade Reserva Matutu, plantaram cerca de 35 mil araucárias nesses quase 40 anos e permitiram que as matas se regenerassem. Dessa forma, rios, cachoeiras e toda a fauna e a flora retornaram ao seu estado quase natural de pureza e magia.

As suítes na Pousada Mandala das Águas, no Matutu. Foto: Marta Alvim

São trilhas e mais trilhas, cachoeiras e matas que podem ser visitadas a pé ou a cavalo, opções para todos os tipos de condicionamento físico. Entretanto, vale a pena destacar que sons altos e baladas não combinam em nada com o espírito do lugar.

Não existem muitas opções de hospedagem e restaurantes no Vale do Matutu. Três excelentes pousadas são a Mandala das Águas, o Patrimônio do Matutu e a Pousada do Matutu. Como é comum na região, elas adotam a arquitetura ecológica e artesanal e servem refeições orgânicas, em geral vegetarianas e/ou veganas. Os restaurantes principais são o Fios da Terra, com cardápio de trutas e pratos com vocação oriental; a Tia Iraci, de comida mineira de primeira; e o Estrela Matutina, com ótimos hambúrgueres vegetarianos.

A Mandala das Águas, gerida com carinho pelo casal Rickson e Marcia, é um lugar especial. À noite, os hóspedes e o próprio Rickson, que é músico, se juntam para conversar ou participar de saraus musicais na sala de estar da sede, equipada com piano e violões. As acomodações são confortáveis e todas têm vista para o Pico do Papagaio e a Cachoeira do Fundo.

A hospedagem no Patrimônio do Matutu reserva uma vivência inusitada: para chegar até lá, o viajante deve percorrer uma trilha a pé de cerca de 40 minutos, enquanto a sua bagagem é transportada à moda antiga por cavalo. A pousada conta com chales e apartamentos acolhedores e charmosos e fica bem no coração do vale.

As demais têm seus diferentes encantos. Em comum, elas compartilham um jeito afetivo e descontraído de receber. Os proprietários estão sempre presentes e os horários das refeições costumam seguir o ritmo de cada pousada. Assim, vale a pena se amoldar ao andamento natural dos eventos e aproveitar a convivência com os donos e hóspedes, que acabam se transformando, ao longo da estada, em novos amigos.

A cachoeira que fica na pousada. Foto: Marta Alvim

Passar alguns dias no Vale do Matutu pode ser também uma experiência quase transcendental, caso essa seja a proposta do viajante. A pureza das vibrações da mata e a energia da região favorecem a meditação e a pacificação da alma, normalmente acelerada pelas demandas urbanas.

Deixe seu corpo ser banhado nas águas claras e lépidas das cachoeiras e corredeiras. Deixe os seus olhos se encantarem com o verde das matas e com as cores vivas das flores. Deixe os seus ouvidos se impregnarem com o ruído alvoroçado dos macacos, dos jacus e do escorrer das águas por entre as pedras dos rios. Nada mais lindo do que ver a noite chegar com o céu cravejado de estrelas frias. E acordar ao nascer do sol, presenciando a serra anunciar mais um dia. Certamente você irá amar esse abençoado recanto do Brasil e também rezar para que ele nunca seja devastado.

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