Casa em rua tranquila no Morumbi, quatro suítes, piscina, terreno com 2.100 m². Preço: R$ 15 milhões. Cobertura nos Jardins com vista para cidade, duas suítes, área com piscina e spa aquecidos, 363 m². Preço: R$ 20 milhões.
Esse é um pedaço do universo do mercado imobiliário de luxo de São Paulo. Por trás de valores milionários e imóveis que parecem ter saído de algum filme hollywoodiano, estão os corretores. Eles são os responsáveis por mediar as relações de compra e venda entre executivos, empresários, artistas e demais figuras que detêm o poder financeiro do país.
Marcello Romero, CEO da Bossa Nova Sotheby’s International Realty, representante da maior grife imobiliária do mundo no Brasil, comenta sobre o segmento: “A crise no alto padrão não é a mesma do mercado imobiliário. Ela acontece não porque as pessoas estão sem dinheiro, mas sim porque elas adiam a tomada de decisão. Sofremos no ano passado com isso. A nossa média de fechar um negócio é de seis meses. Em 2017, chegou a nove, doze meses”.
Da mesma forma, Maria Amélia Alves de Lima, fundadora da Terra Lima Imóveis, observa alguns fatores que podem contribuir para esse adiamento de decisão, como a instabilidade na política e economia e as crises internacionais. “Na incerteza, o cliente, mesmo com dinheiro, não tem o “animus” para investir. Ele prefere esperar. Esse ano de eleições, por exemplo, gera muitas dúvidas. Não sei se a palavra certa seria ‘crise’, mas certamente há uma desaceleração”.
Ainda assim, o segmento de luxo se mantém firme. E os corretores seguem alinhados com as necessidades do público de alto padrão. Para negociar, os profissionais precisam estar em sintonia com o contexto cultural e socioeconômico de seus clientes e fazer parte do lifestyle desse universo. “São pessoas que moram em imóveis muito semelhantes a esses que estão sendo vendidos, ou conhecem os hábitos, os costumes, os códigos de quem está comprando e vendendo”, afirma Marcello Romero. “Tenho corretores aqui que têm casa em Miami, casa em Trancoso, apartamento em Courchevel…”
A corretora Adriana Becker, da Bossa Nova, concorda com Romero: “Eu costumo ir aos eventos sociais que me convidam, acho que isso faz parte do meu trabalho. Também é importante frequentar exposições e festas e clubes como o Paulistano, o Harmonia, o Pinheiros e o Paineiras”.
Além da sintonia com o cotidiano e o perfil do cliente, o corretor deve ter paciência, discrição e muita empatia. Adriana relembra um de seus casos, em que o negócio foi desfeito na assinatura, na frente do escrivão, por conta de uma briga entre marido e mulher. “Isso pode acontecer. Mas o papel do corretor é se manter profissional, porque no fundo estamos lidando com o que vai ser o lar da pessoa. E isso mexe muito no lado psicológico”.
Marlene Jarussi, também corretora da Bossa Nova, ressalta que o maior desafio é lidar com a vaidade que surge entre as partes, quando nenhum lado quer ceder. Ela viveu um caso emblemático quando ajudava um famoso apresentador de televisão a vender um apartamento no Jardim Guedala. “Ele insistia em colocar o imóvel fora do preço de mercado imobiliário e não vendia”, relembra. “Apareceu um interessado que queria por um valor bem abaixo. Mas o dono não quis ceder. Até que um belo dia ele me liga perguntando se a pessoa ainda tinha interesse. Eu respondi que sim e ele me disse: ‘tudo bem, mas liga para ele e fala que só vendo por aquele preço se for agora, senão tiro de venda’. Liguei para o interessado, que me respondeu: ‘olha, só porque ele quer hoje eu não vou fazer pelo valor que ele está pedindo, vou baixar’. Retornei para o apresentador, expliquei, e ele fechou o negócio, por cerca de R$ 12 milhões. Mas ele brigou, brigou, brigou e quase perdeu o cliente para depois ligar e vender por menos do que o cliente tinha oferecido”.
À frente da Terra Lima Imóveis, Maria Amélia reflete sobre a profissão: “Tem gente que fica com vergonha de falar que é corretor. Já eu tenho muito orgulho de falar que sou corretora, porque é um trabalho muito gratificante. A gente se envolve com a compra mais importante da vida da pessoa, que é a casa dela. Com sensibilidade, você ajuda e entra nessa parte sutil das relações familiares, começa a entender por que aquele cliente está agindo de certa forma. Posso dizer que tenho grandes amigos que surgiram sendo meus clientes”.
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