Há 20 anos, era comum ver brasileiros viajando para o exterior a fim de realizar procedimentos médicos, fossem eles voltados para o tratamento oncológico, para realizar cirurgias plásticas ou para fins terapêuticos. Hoje, no entanto, já é possível observar a inversão desse fluxo. Tanto os hoteis quanto os hospitais e clínicas do país têm indicado nos últimos anos um notável crescimento no número de clientes que viajam exclusivamente com a finalidade médica. A oportunidade, no entanto, não está só no aumento do número de consumidores, mas em seu tempo de estadia e em sua média de gastos. Segundo dados do Ministério do Turismo, o estrangeiro que vem ao Brasil com intenção médica costuma permanecer por mais tempo no país, em média 22 dias, e é também o que mais gasta, aproximadamente US$ 120 por dia.

São Paulo, dentre todos os destinos brasileiros, é a cidade que mais se destaca, por ser um dos maiores centros de saúde do mundo. O número de pessoas que procuram a capital paulista a fim de realizar algum tratamento de saúde ou de estética tem mais do que dobrado nos últimos anos. O Hospital Sírio-Libanês é um exemplo disso. O número de atendimentos a pacientes estrangeiros cresceu 40,8% nos últimos três anos, passando de 4.007, em 2013, para 5.641 em 2015. O crescimento maior ocorreu entre uruguaios (53% somente entre 2014 e 2015), seguidos por angolanos, paraguaios, argentinos e venezuelanos.

“Nossa referência em medicina de alta complexidade é uma das razões que atraem pacientes de outros países”, afirma Clébio Campos Garcia, Superintendente Comercial do Hospital Sírio-Libanês. Em 2015, a instituição registrou aumento de 20% nos atendimentos oncológicos de pessoas vindas de fora do Brasil, em relação a 2014. As outras especialidades mais procuradas são a cardiologia, a ortopedia e a neurocirurgia.

Desde 2007, o Hospital tem investido massivamente para possibilitar a recepção dos pacientes internacionais. Naquele ano, foi investido R$ 1,6 milhão na criação de uma divisão especial para estrangeiros, pronta para cuidar do traslado, agendar consultas, traduzir laudos e relatórios médicos, contatar companhias aéreas para acomodações especiais em voos e até recomendar passeios turísticos para pacientes e familiares. Hoje, o setor conta com uma área física própria, o Centro de Atendimento Internacional, além de todo o hospital contar com sinalização bilíngue e com funcionários de diversos setores fluentes na língua inglesa.

Além de São Paulo, a região de Campinas também tem demonstrado alta no segmento. Segundo a diretora de Turismo de Campinas, Alexandra Caprioli, depois do turismo de negócios e de eventos, esse é o terceiro segmento mais importante no setor hoteleiro local, movimentando milhões de reais por ano.

A qualidade dos serviços médicos, hospitalares e hoteleiros de diversas cidades brasileiras, somadas à beleza do nosso país e à hospitalidade do povo brasileiro exibem, juntas, o cenário propício para este segmento de turismo. Segundo Julia Lima, presidente da ABRATUS (Associação Brasileira de Turismo de Saúde), este segmento tem um grande potencial: “Nós, com certeza, vamos aproveitar esta oportunidade. Nosso objetivo é atrair ainda mais recursos para este setor e alavancar o Brasil mundialmente como destino de saúde”.