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Especial Saúde: A questão do parto

por | ago 7, 2018 | Saúde & Bem-estar | 0 Comentários

Foto Julie Johnson via Unsplash

“O melhor tipo de parto é aquele que conduz a mãe com segurança para o momento que pode ser uma das coisas mais mágicas e maravilhosas do mundo”, afirma a Dra. Luciene Miranda Barduco, de 52 anos,  especializada em Ginecologia e Obstetrícia. “O nascimento de um filho é uma experiência fantástica. Resgata na mulher aquilo que ela tem de mais primitivo, no sentido de gestar, de cuidar daquela gravidez. Eu sempre vi o parto como algo sagrado. E sempre preferi o parto natural”.

A prática de cesariana, contudo, sempre foi majoritária no Brasil. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, nós somos o segundo país do mundo a ter mais da metade de todos os nascimentos (55,6%, segundo dados de 2016) feitos por essa cirurgia. Estamos atrás apenas da República Dominicana, que ostenta 56% de cesáreas. Na Europa, a taxa média de cesáreas é de 25% e nos Estados Unidos é de 32,8%. A cirurgia é recomendada apenas quando o parto natural pode levar a complicações que coloquem em risco a saúde da mãe e do bebê. Para a OMS, a porcentagem adequada de cesáreas gira em torno dos 15%.

“Entre outras coisas, a cesárea vem de um vício histórico que começou no SUS”, explica Luciene. “Em hospitais públicos, uma prática muito comum era oferecer laqueadura às gestantes. Acontece que o SUS só pagava o procedimento se a laqueadura estivesse associada a uma cesariana. Então tinha isso: ‘vou fazer cesárea para já aproveitar e fazer a laqueadura’”.

Na rede particular, a médica comenta que a cirurgia predominava por outras questões. “Quando comecei a atender em consultório, às vezes chegava uma paciente já dizendo: ‘olha, eu tenho convênio e quero optar pela cesariana’. A ideia era que, se ela tivesse um convênio, teria a oportunidade de escolher pela cirurgia”.

Além disso, havia muitas conveniências também. Para a paciente, era uma forma de poder controlar o nascimento do filho. “E os motivos para isso eram vários, desde a gestante estar cursando uma pós-graduação ou prestando vestibular até desejar que o aniversário do filho seja no mesmo dia da sogra, por exemplo. E é obvio que, para o obstetra, é muito mais cômodo marcar dia e hora para fazer essa cesárea. Você não tem que sair de madrugada ou adiar uma viagem, então foi uma acomodação de ambas as partes. O médico, por um lado, não fazia questão de se colocar à disposição, de orientar a história do parto, e muitas pacientes faziam questão de ter a liberdade de escolha”, explica Luciene.

Segundo a OMS, o Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza cesáreas. / Crédito: foto de Naypong Studios via Shutterstock

Entre as ações que surgiram para melhorar a condição da gestante, podemos citar o projeto Parto Adequado. Desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), o projeto tem como objetivo identificar novos modelos de atenção ao parto e ao nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas desnecessárias.

A iniciativa foi lançada em 2015 e a adesão é feita de forma voluntária pelos hospitais. Na Fase 1 o projeto envolveu 35 hospitais e conseguiu evitar a realização de dez mil cesarianas desnecessárias.

Hoje, 127 hospitais e 62 operadoras de planos de saúde participam do projeto. Nos hospitais que entraram na Fase 2, que vai até maio de 2019, houve um aumento de 8% em partos normais.

“O Parto Adequado não é contra a cesariana, mas sim contra a cesariana desnecessária”, explica Jacqueline Torres, coordenadora do projeto. “Não se trata de defender parto normal a qualquer custo, até porque sabemos que a cesariana contribui para a diminuição da mortalidade materna, mas ela deve ser usada com limite”.

Sobre os riscos de realizar uma cesariana desnecessária, Jacqueline comenta: “São vários. A mulher pode comprometer as próximas gestações e, como a cirurgia acontece antes do início do trabalho de parto, o bebê pode ter problemas como hipoglicemia, dificuldades respiratórias, asfixia neonatal, necessidade de internação em UTI neonatal, icterícia, entre outros”.

Agosto dourado

Nesse mês acontece o “Agosto Dourado”, campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) com o intuito de estimular o aleitamento materno e alertar sobre a importância da amamentação para as crianças e também para as mães.

A presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, lembra das vantagens comprovadas do aleitamento na saúde das crianças, com impacto no seu desenvolvimento físico e emocional e no reforço à prevenção de doenças. Segundo ela, oferecer o leite materno aos filhos reduz em cerca de 12% o número de mortes em crianças menores de cinco anos de idade a cada ano, ou cerca de 820 mil mortes em países de média e baixa renda.

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