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Rádio Vozes: A cidade dos seus sonhos na música

por | ago 1, 2019 | Música | 0 Comentários

O cantor paulistano Thiago Pethit no clipe “Orfeu”

Olá viajante! Se você tem lido as minhas colunas aqui na 29 HORAS já sabe que para mim a música é capaz de fazer muito. Transformar o dia, trazer memórias, conectar com o divino e por aí vai. Hoje vou falar do trabalho novo de Thiago Pethit, cantor e compositor paulistano que acaba de lançar o belíssimo “Mal dos Trópicos”. Fiquei tão encantada que fiz um Vozes do Brasil inteirinho sobre o álbum, faixa a faixa (você pode acessar no app Rádio Vozes ou no site www.radiovozes.com).

Adoro discos com narrativa, histórias e referências. “Mal dos Trópicos” é um luxo nesse sentido. De maneira explícita ou sutil, cada música, arranjo e escolha estética tem algo a dizer. Thiago Pethit tem formação teatral e isso sempre esteve presente em seus discos. Em “Mal dos Trópicos” aparecem o mito de Orfeu, as Bacantes, Nat King Cole, Mário de Andrade, a antropofagia, o tropicalismo e, o mais lindo para mim, a poesia marginal de Roberto Piva.

Piva viveu essa São Paulo que Pethit retrata em suas letras. Para Piva, a Praça da República dos seus sonhos era Garcia Lorca esperando o dentista. Para Pethit, um coração mastigado na Consolação e beijos no Copan. A cidade noturna, a outra São Paulo que o cidadão apressado não vê mesmo de dia.

Ouvir “Mal dos Trópicos” me fez lembrar de uma leitura antológica do poema “Uivo”, de Allen Ginsberg, traduzido por Claudio Willer, também poeta. O cenário era o histórico Madame Satã. Willer lia o poema, que é imenso e forte, enquanto Roberto Piva corria pelo salão atrás de um garoto de programa a quem ele chamava “meu Rimbaud”. Uma cena inesquecível nos meus anos 1980, na minha São Paulo outsider, jovem, ainda tão misteriosa e assustadora.

O clipe de Orfeu faz esse passeio mitológico e mundano pelo centro de São Paulo, dirigido por Camila Cornelsen. Trechos das letras aparecem enquanto um drone explora janelas indiscretas: “Pelo olhar dele assistimos o que poderiam ser o estraçalhamento de Orfeu, o suicídio de Ophelia de Shakespeare, entre outras imagens”, diz o autor da canção. Meu convite de hoje é um mergulho nessa cidade cinza e louca por meio da música e da poesia.

Ouça “Mal dos Trópicos”, ouça o programa especial que fiz com Thiago Pethit e leia Roberto Piva. Recomendo ainda o livro “Paranoia”, do Instituto Moreira Salles, que tem as fotos maravilhosas de Wesley Duke Lee. A primeira edição foi em 1963. “Mal dos Trópicos” é de 2019. A tradução de Claudio Willer do Uivo de Ginsberg é dos anos 1980. Rimbaud e Lorca são clássicos da poesia mundial. Faça a sua viagem. Depois me diz.

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