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Rádio Vozes: música e água

por | mar 5, 2020 | Música | 0 Comentários

Não entendo de física quântica nem de ciência, mas já li muito sobre o poder curativo da água e das diferentes composições químicas da lágrima de dor e de alegria. E todos sabemos que o planeta redondo onde vivemos é cheio de água e que nós também somos. Fazendo aqui um exercício de retórica, lógica ou bom senso, penso que se a lua mexe com a maré por que não mexeria conosco? Comigo mexe, e muito. Tenho dias de rasante e de maré cheia.

música e água

O cantor e compositor Gilberto Gil. Foto: Gérard Gaume/Divulgação

Quando a 29HORAS me pediu um texto sobre música e água, eu me lembrei de tudo isso e de um experimento do fotógrafo e pesquisador japonês Masaru Emoto, que fotografou moléculas de água expostas ao som de Mozart, de John Lennon e de heavy metal. As moléculas formavam cristais lindos com a música clássica suave e com “Imagine”, mas com o heavy metal tudo virava uma bagunça.

Eu vivo dizendo que a música transforma. Se somos feitos de 70% de água, é bem capaz de que nossas células, moléculas, ou sei lá o que, sejam mesmo modificadas com a boa música. Gilberto Gil, nosso compositor filósofo mestre pensador, faz essa ponte entre a arte e a ciência de maneira explicita no disco “Quanta”, lançado em 1997. A começar pela linda canção que dá nome ao disco e que tem a participação de Milton Nascimento: “Canto de louvor/De amor ao vento /Vento, arte do ar/Balançando o corpo da flor/Levando o veleiro pro mar…” E nesse mesmo disco, na canção “Água Benta”, ele fala da água como condutora, contando a história de um menino que foi batizado com água poluída: “A água benta que ao bel prazer /Se desmagnetizou / Desconectada do seu poder/ Por um capricho do amor …”

Muitos anos antes, no disco “Louvação”, de 1967, Gil fez com Capinan a canção “Água de Meninos”, que é um bairro histórico de Salvador. Um lugar abrigado de frente para o mar onde funcionava uma feira popular e que sofreu um incêndio histórico nos anos 1960. Nos versos de Capinan, aparecem as águas do mar e das lágrimas. De Dominguinhos e Anastácia Gilberto, Gil gravou “Tenho Sede”, uma linda canção de amor: “…Minha garganta pede um pouco de água / E meus olhos pedem teu olhar…”

Não sei se os efeitos de Mozart no cristal de água podem ser comprovados pela ciência, mas como nosso assunto é música e poesia sigo acreditando que ouvir uma seleção de maravilhas com Gilberto Gil, Dominguinhos e Milton Nascimento só pode mesmo fazer bem.

E pra reforçar termino com mais um pedacinho da letra de “Água Benta”, quando o autor justifica a confusão que o batismo com água poluída fez na vida do menino: “…Talvez por mero defeito na ligação/Sutil entre a essência e a representação/Verbal que tem que fazer todo coração/Mortal ao balbuciar sua oração..”

Do poder das palavras e de um bom copo de água fresca não duvidamos. Muito menos de Gilberto Gil.

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