Apaixonado pela Mata Atlântica, pelos mares e pelo amor, ele volta com um novo disco para deixar essa estação inesquecível

Todos nós temos memória afetiva, arquivos ocultos que aparecem quando um perfume faz lembrar alguém, quando o rádio toca aquela música que fez parte de uma dor de cotovelo ou de um delicioso namoro. A música brasileira é fértil e generosa nessa área. Poderia fazer uma lista imensa só de lembranças e canções sem repetir uma só. Mas tem um compositor, uma voz, que vive na minha trilha sonora há décadas e é dele que quero falar: Djavan.

É dele a primeira canção que me fez romântica, mesmo sem ter um amor. Com seu LP “Seduzir”, Djavan foi a trilha sonora de todo um verão da minha adolescência. 1980, 15 anos, talvez um dos mais bonitos que vivi. Dias inteiros de praia e aquele disco tocando na vitrola todo fim de tarde, toda noite. “Morena de Endoidecer”, “A Ilha”, “Faltando um Pedaço”, “Seduzir” e o maravilhoso encontro dele com Gilberto Gil cantando num idioma africano a deliciosa canção de Filipe Mukenga. Inesquecível.

E pra esse verão de aquecimento global planetário, entre outras mazelas, lá vem Djavan nos trazer bons ventos. De capa extraordinária, se chama “Vesúvio”, e essa já é a minha canção preferida. Só ele para falar do pôr do sol no mar e soar original. “Vesúvio” é uma joia. “Todo mar tem Onda”, ele diz, e eu repito o refrão já querendo namorar. A primeira música lançada nas plataformas digitais é “Cedo ou Tarde” – se você tem aí já dê o play e aproveite aquele balanço delícia e uma letra necessária: “O mal de quem ama é a fé”.

Letras, aliás, todas em sintonia com nosso tempo. Solitude rima com atitude. Djavan fala muito de amor mas nada passa desapercebido sob sua caneta. O mundo está de ponta cabeça e ele sabe e diz: “Viver é Dever”.

Mas o amor e a beleza nos salvam. De preferência perto da natureza, literalmente, ou como metáfora. “Orquídea” é um desfile de amorosidades floridas, imagine receber flores em forma de canção…

Emendo com a escuta da bela “Madressilva”: mais flor, mais amor, mais Djavan e sua voz de mar. Mas não pense que acabou, a canção “Meu Romance” ganhou versão em espanhol e participação de Jorge Drexler: “Soy quien soy, por amarte…”

O resultado é que aqui estou eu, tantos anos depois, romântica de novo! “O sol cai no mar e a onda é de ouro…” Que venha o verão, seus finais de tarde, seu calor, porque mais uma vez temos Djavan para ouvir e assim tudo fica mais fácil, mais bonito e, quem sabe, inesquecível.