Deserto do Atacama é um dos destinos mais surpreendentes da América do Sul, com lagoas, salares, termas, gêiseres e um céu estrelado de tirar o fôlego 

Pisar no Deserto do Atacama, no norte do Chile, é ter contato com a ancestralidade humana e os extremos da natureza. O deserto mais seco do mundo está localizado entre o Oceano Pacífico e as Cordilheiras do Andes – condição que justifica tamanha aridez e responsável por formações geológicas que se materializam em belezas únicas aos olhos de turistas do mundo todo. Os brasileiros são os mais chegados e numerosos, com a facilidade da curta distância e das semelhanças culturais com o país – não faltando razões para uma viagem ao destino.

Ao contrário do que ainda se pode imaginar, a região não é feita apenas de areia e dunas, em paisagens homogêneas. Por lá, lagoas, salares, termas, gêiseres e um céu estrelado de tirar o fôlego completam a interessante diversidade natural. Por causa da altitude muito elevada, as nuvens ficam próximas ao chão e a sensação é mesmo a de uma jornada extraterreste. Também por isso são necessários alguns cuidados para aproveitar a viagem sem preocupações, como a hidratação constante – o que inclui hidratantes corporais e labiais – usar protetor solar, chapéus e bonés, e levar na mala roupas térmicas que são versáteis nessas condições extremas que fazem a temperatura variar rapidamente entre o calor e o frio. É importante lembrar também de sapatos confortáveis e as botas de trekking são verdadeiras aliadas resistentes.

Paisagem do Deserto do Atacama – foto Brice Ferre

A altitude pode ser desagradável para alguns e é essencial começar os passeios aos poucos, respeitando a adaptação do corpo ao novo ambiente. Os guias locais estão sempre atentos ao conforto e à saúde dos viajantes e a companhia desses profissionais é indispensável nas inúmeras atrações do Atacama.

Além de restaurantes diversificados, spas, piscinas e espaços amplos, as opções de hospedagem mais luxuosas oferecem pacotes com passeios guiados – dos mais radicais aos contemplativos. Uma facilidade que se justifica não apenas pela segurança, mas também pela imersão histórica e geológica que monitores podem apresentar e contextualizar aos hóspedes – muitas vezes, os guias pertencem a famílias de povos originários da região, o que torna tudo ainda mais enriquecedor.

O oposto do perrengue

Situado entre a Cordilheira do Sal do Chile e a antiga fortaleza de Pukará de Quitor, uma construção de pedra datada do século 12, o hotel Nayara Alto Atacama proporciona dias de total imersão nesse cenário. O projeto arquitetônico foi idealizado para criar um espaço que estivesse em perfeita harmonia com as paisagens áridas. A construção seguiu a técnica adobe, em que se utiliza tijolos feitos de terra crua, palha e água, proporcionando assim as cores e texturas que refletem a cultura e a história do Atacama.

Vista das acomodações do Nayara Alto Atacama – foto Brice Ferre

São 42 quartos, que podem chegar a 70 m² com direito a terraços privativos – destaque para a suíte Catarpe, que garante vista panorâmica da Cordilheira. O local ainda oferece spa com banhos minerais, piscinas climatizadas e o restaurante Ckelar, onde é possível realizar todas as refeições.

A gastronomia do hotel é um grande diferencial, uma vez que o centro de San Pedro do Atacama não dispõe de um leque diversificado de restaurantes e é difícil encontrar opções mais sofisticadas. No Ckelar, é recomendável experimentar vinhos chilenos e provar variações do drinque pisco sour – um coquetel elaborado com destilado de uva com limão, açúcar e clara de ovo, que disputa com o vizinho Peru o pódio do mais tradicional e saboroso. Também há o Charquicán clássico, um prato originário do povo atacamenho – um ensopado espesso, feito com carne moída, abóbora, batata, milho, cebola, alho, ervilhas, cenoura e temperos como cominho e pimenta.

Suíte Catarpe do Nayara Alto Atacama – foto Brice Ferre

Um momento gastronômico bastante especial no Nayara Alto Atacama é a experiência de Nuestro Quincho, um churrasco que segue a tradição dos asados de muitos países da América do Sul, em que se prepara diferentes cortes de carne, milho e batatas, servidos ao ar livre com a vista realmente espetacular para a Cordilheira.

Paisagens incríveis já são quase clichês do Atacama e o hotel sabe bem desfrutar de todo o encantamento natural e ancestral da região. O Deserto é conhecido como um dos melhores lugares do mundo para observar as estrelas. Os imponentes picos das montanhas que rodeiam o Nayara proporcionam total escuridão e silêncio durante a noite que, sem a contaminação de luz artificial, faz com que planetas e constelações sejam visíveis a olho nu.

Spa com jacuzzi climatizada do hotel – foto Matthiew Williams-Ellis

O observatório do hotel, chamado de Ckepi (“olho” na língua nativa local, a Kunza), possui ainda um telescópio profissional que permite vivenciar mais profundamente a experiência, observando as estrelas na solidão em cadeiras especiais e com instruções de guias especialistas.

Contrastes impressionantes

Prova de que o Deserto do Atacama é diverso em suas paisagens são os tons que passeiam do branco até os mais terrosos – variação visível nos trechos de carro ou nas caminhadas para cada atração. O Salar do Atacama, onde vivem flamingos, é a maior planície salgada do Chile. Abriga também lagoas salinas onde vivem outras aves. A Lagoa Chaxa, no centro do salar, é um dos melhores pontos para avistar essas aves em seu habitat natural, cercadas pelas montanhas e pelo cenário árido do deserto.

Salar do Atacama com flamingos – foto Longtaildog / Fotolia

Já o Vale da Lua é famoso por suas formações rochosas esculpidas pelo vento e pela erosão ao longo dos milênios. A paisagem lembra a superfície lunar, com dunas de areia, cavernas e relevos surreais. No pôr do sol, as rochas ganham tonalidades rosadas e alaranjadas, criando um espetáculo impactante e único.

Outro passeio imperdível são os gêiseres de El Tatio, localizados a cerca de 4.300 metros de altitude, que constituem um dos maiores campos de gêiseres do mundo. Durante o amanhecer, as colunas de vapor que saem das fontes termais são iluminadas pelos primeiros raios do sol, criando uma visão mágica – que vale o despertar bem cedo para os melhores registros na mente e nas fotos.

Gêiseres de El Tatio – foto Olga Danylenko / Shutterstock

E as lagoas de Miscanti e Miñiques, a mais de 4.000 metros de altitude, são rodeadas por vulcões e montanhas. Suas águas azul-turquesa contrastam com a aridez ao redor e com as formações montanhosas e ficam ainda mais intensas em sua cor. Essas águas e seus entornos são habitats de várias espécies de aves e animais, como lhamas, guanacos, alpacas e vizcachas (roedores andinos), que se adaptaram ao clima extremo.

O Atacama também possui uma riqueza ímpar de culturas ancestrais, com povos indígenas que resistiram às duras condições do local ao longo dos séculos. Um dos atrativos mais impactantes e imperdíveis é ouvir com atenção as histórias de resistência, sabedoria e fé relatados por guias e residentes sobre seus antepassados e as populações ancestrais – que encantam pelo respeito à terra, às plantas, aos animais, às gerações passadas e aos próximos.

Vistas com vulcões – foto Alberto Ghizzi Panizza

Nayara Alto Atacama
Camino Pukará, Suchor s/ nº, San Pedro de Atacama, Chile.
Tel. 41 3908 6232.
Diárias a partir de R$ 3.800.