Adriana Calcanhotto lança disco sobre a vida pandêmica

Adriana Calcanhotto lança disco sobre a vida pandêmica

O mundo parou em março quando foi decretada a pandemia. E o tempo ganhou um novo sentido. Só que a arte subverte tempo e espaço. A nova experiência da vida pandêmica brotou no disco de Adriana Calcanhotto, “Só canções da quarentena” – um trabalho concebido, composto, registrado e lançado durante os longos meses de isolamento social no país. A cantora é uma das artistas brasileiras que mais (e melhor) deu forma às angústias, aos medos, aos desejos e às saudades provocados por esse período. Adriana é alguém que lembra a potência criativa e a resiliência do Brasil.

 

Foto Leo Aversa

 

O trabalho de composição foi diferente de tudo o que a cantora já havia feito. “Eu era levada pelo impulso das notícias, das emoções provocadas através das telas”, conta. E a disciplina foi a companheira de todo o novo processo criativo. “Acordava, fazia café, vinha para o estúdio aqui de casa e escrevia, era quase um surto”. Até o almoço, sempre tinha uma canção inédita. “Como se tivesse a missão de fazer pão todos os dias. Mas não sei fazer pães, só sei fazer canções”. Foi assim que no final de maio o disco estava pronto e foi lançado.

 

Foto Leo Aversa

 

“Só” foi concebido em 43 dias, entre 27 de março e 8 de maio, o álbum traz a ficha técnica até da hora da composição, é quase um diário, um caderno de anotações. “Meu cérebro estava preparado, antes da pandemia iria a Coimbra lecionar, costumo pedir esse ritmo intenso de composições aos alunos e fiquei com aquilo dentro de mim”, lembra.

Justamente por estar sozinha, Adriana buscou parcerias distantes. O disco teve a mão de pessoas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Salvador, Orlando e Tóquio. “Falar com quem está longe e fazer música assim é um jeito de trabalhar que uso há muito tempo, mesmo antes da quarentena, mas a sensação era de que todos estávamos ainda mais distantes”.

“Céu preto inteiro antes da uma
Ninguém na rua, nem mesmo a luz da lua
Eu e você no pensamento
Eu e você no batidão do peito”

Música “Ninguém na Rua”, abertura do álbum “Só”

 

Foto Leo Aversa

 

Ecos e poemas

Adriana Calcanhotto realmente não parou. Em outubro, lançou nas plataformas de streamings sua releitura de “Futuros Amantes”, de Chico Buarque. Na voz da cantora, a música ganha um tom teatral, e foi transformada em par de “Os Ilhéus”, canção do próprio repertório. É uma das trincas mais suntuosas do show da turnê do disco “Margem”, de 2019, que percorreu Brasil e Portugal também no ano passado.

As duas músicas discorrem sobre o tempo depois de nossa civilização, e apostam no amor e na virtude, e se encontraram no palco. O álbum “Margem” fala de amor, desamor e como tratamos nossos oceanos. A composição de Chico é de 1993, mas é muito atual e lançá-la agora carrega novo sentido. “Essa canção fala do ponto de vista do futuro, de como as civilizações são cíclicas, e indaga como estaremos, está muito na frente”. O CD e o DVD do show completo chegam ao público neste mês.

Sobre o cuidado com a vida, a humanidade ou falta dela, a música “Dois de junho” também carrega questionamentos. A música é dedicada ao menino Miguel Otávio, de 5 anos, que morreu após cair de um prédio de luxo na área central de Recife na data que dá título à música. Cantando, Adriana Calcanhotto relembra a trágica morte da criança, denuncia o racismo brasileiro e está disponível nas plataformas digitais.

A renda dos direitos autorais da composição foi revertida ao Instituto Menino Miguel, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). “Essa canção entra no bloco de músicas da pandemia, não existiria se não estivéssemos vivendo esse momento, fecha o ciclo de composições dessa experiência”, reflete.

“No país negro e racista
No coração da América Latina
Na cidade do Recife
Terça-feira, dois de junho de 2020, 29 graus Celsius, céu claro
Sai pra trabalhar a empregada, mesmo no meio da pandemia
E, por isso, ela leva pela mão Miguel, 5 anos, nome de anjo
Miguel Otávio, primeiro e único
Trinta e cinco metros de voo do nono andar
Cinquenta e nove segundos antes de sua mãe voltar
O destino de Ícaro, o sangue de preto, as asas de ar”

Música “Dois de junho”

 

Foto Leo Aversa

Filha do sol

Os anos passam, Adriana se torna mais caseira. “Meu lugar preferido no Rio de Janeiro é minha casa, no meio do mato, nesse sentido a quarentena já era um pouco meu estilo de vida”, ri. A cantora é gaúcha, mas mora na cidade maravilhosa, ama o sol e, se depender dela, busca viver sempre no verão. “Meu ideal de vida é estar no calor!”

No Rio, sai pouco. Antes da pandemia, frequentava casas de amigos e casas de shows. “Sai menos ainda nesses tempos, no final de setembro me deparei com duas cidades, uma que respeita as regras sanitárias de distanciamento e outra que nem sequer usa máscara, fiquei impressionada e ainda mais isolada”.

A cantora traz o amor pelas artes de sua terra natal, lugar onde conheceu artistas que a marcaram. “Em Porto Alegre, cada esquina tem uma memória, eu amo a Fundação Iberê Camargo, nos tornamos amigos, ele abriu uma verdadeira janela na minha cabeça sobre arquitetura”. Adriana ainda lembra com carinho da Casa de Cultura Mário Quintana, que faz 30 anos.

Em um rico e estimulante ambiente com estudos clássicos, arquitetura, arqueologia, a gaúcha também é professora na Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, onde dá aulas no curso “Como Escrever Canções”. Vai sempre no início da primavera, com exceção deste ano incomum. “Fiquei por aqui, mas não faço balanço de tudo o que ainda estamos vivendo, a pandemia serviu para olharmos o presente, viver o dia de hoje e pensar que o planeta precisa respirar. O que a natureza faria se não houvesse a pandemia? A gente nunca sabe o que vai acontecer”, finaliza.

 

 

 

Rita Lobo fala com seriedade e uma generosa pitada de bom humor sobre o poder da comida

Rita Lobo fala com seriedade e uma generosa pitada de bom humor sobre o poder da comida

Rita Lobo, que bombou na TV e na web durante a quarentena, fala com seriedade e uma generosa pitada de bom humor sobre o poder da comida e sua luta por uma alimentação mais saudável e mais consciente no “novo normal”

Foto divulgação | Editora Panelinha

DURANTE O AUGE DAS RESTRIÇÕES de isolamento social impostas pela quarentena para controlar a velocidade de avanço da pandemia, nos meses de março a junho, o coronavírus dominou as redes sociais e a programação da TV, mas outro nome também bombou em todas as plataformas: o de Rita Lobo, a Palmirinha do século 21, que ensinou muita gente a cozinhar e se virar no período de confinamento.

Foi graças a seus programas no canal GNT, suas lives no Instagram, seus vídeos no YouTube e seus livros que milhões de brasileiros conseguiram aplacar sua fome, aprenderam noções básicas de culinária e acabaram até melhorando sua alimentação.

Toda essa exposição e esse reconhecimento coroaram uma trajetória que começou há 30 anos, quando Rita Lobo iniciou sua vida pública. No final dos anos 1980, quando tinha apenas 15 aninhos, ela foi abordada pelo recrutador de uma conhecida agência de modelos durante uma tarde de compras no shopping Iguatemi e, pelos três anos seguintes, rodou o mundo posando para grandes fotógrafos em campanhas publicitárias e editoriais de moda para revistas badaladas. Nessas viagens, descobriu os prazeres da mesa japonesa, francesa, italiana, árabe, indiana, tailandesa e mexicana, entre outras.

De volta a São Paulo, em 1992, atuou com apresentadora do programa de moda “MTV a Go-Go” e, no ano seguinte, deixou o país novamente, mas agora para estudar gastronomia na Peter Kump’s School of Cooking Arts, de Nova York, e na Leith School of Food & Wine, de Londres.

Decidida a trabalhar nessa área, abriu na Rua José Maria Lisboa, em sociedade com sua amiga Patricia Li, o restaurante Oriental, que chegou a ser eleito pela crítica especializada o melhor asiático de São Paulo. “Lá, pude colocar em prática todo o meu conhecimento teórico e minha pesquisa. Mas, ao final de três ótimos anos, pude dizer, com certeza: restaurante, nunca mais!”

Foi aí que Rita passou a dedicar-se exclusivamente à coluna dominical que assinava na “Revista da Folha”. Esse trabalho foi o embrião do site Panelinha, que nasceu em 2000 e, atualmente, é uma plataforma que emprega dezenas de profissionais e funciona como editora de livros, licenciadora de utensílios para cozinha e produtora de conteúdo para o YouTube, para a TV e para um portal de receitas.

Hoje, aos 45 anos, esta fada desgourmetizadora da TV e da web acumula mais de uma dezena de livros, 1,5 milhão de seguidores no Instagram, mais de 500 mil no Facebook e outro meio milhão no Twitter.

Rita é famosa por ensinar receitas que realmente funcionam, sem frescura – mas com muito frescor. É uma ativista defensora da comida de verdade e uma batalhadora incansável pela universalização do empoderante e benéfico ato de cozinhar. Casada com Ilan Kow, idealizador do caderno “Paladar”, do jornal “O Estado de S. Paulo”, e mãe de um casal de filhos, na entrevista a seguir Rita Lobo fala sobre esse seu trabalho em prol da popularização da alimentação saudável, que em 2018 lhe rendeu uma medalha de honra ao mérito da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ ONU).

Foto divulgação | Editora Panelinha

O que você acha de ser chamada de ‘Musa da Quarentena’?
Estão me chamando de musa? Que legal! Olha, eu que vivo tentando convencer as pessoas a entrar na cozinha, desta vez nem precisei pedir: elas foram sozinhas, porque a nova rotina levou todo mundo para lá. Mas assim que elas encostaram a barriga no fogão, descobriram que não sabiam fazer muita coisa – e algumas não sabiam nada. Mas “Rita, Help!” e Panelinha tinham resposta para tudo: fiz 50 lives cozinhando direto de casa, a equipe fez atendimento nas redes sociais e o site sempre colocou no ar conteúdo novo e organizado para atender às dúvidas. Foi uma loucura o tanto que a gente produziu e a rapidez para colocar tudo no ar. Isso só foi possível porque é o que fazemos há vinte anos, temos muita experiência e muito conteúdo para ajudar as pessoas na cozinha.

Mas agora, durante o período de confinamento, o trabalho que o Panelinha faz tornou-se um verdadeiro serviço de utilidade pública…
Costumo dizer que o nosso trabalho é uma revolução silenciosa, porque ela acontece dentro das casas, na cozinha das pessoas, e meio que fica ali. Não é um assunto que vira notícia. Mas durante esse período virou um assuntão geral. E a audiência do site, que já vinha crescendo mês a mês, disparou. Mas não só o site: o número de seguidores meus e do Panelinha em todas as redes, os inscritos no canal Panelinha no Youtube, a venda de livros, a venda dos produtos na Loja Panelinha. Foi todo mundo para a cozinha!

Você considera que as orientações para ficar em casa acabaram tendo efeitos positivos não só no controle da pandemia como também na melhora da alimentação das pessoas, afinal cozinhar a própria comida é uma medida eficaz para controlar a obesidade, não?
Comida caseira é sinônimo de comida saudável. Isso é um conceito comprovado. Excluir os ultraprocessados e investir em comida de verdade melhora a alimentação e, consequentemente, a saúde. Para quem escolheu cozinhar mais ou aprender a cozinhar durante esse período, a transformação vai ser para a vida. Todo esse conceito de comida de verdade, de classificação dos alimentos por grau de processamento, de produtos ultraprocessados, foi criado aqui no Brasil por um grupo de Faculdade de Saúde Pública da USP, coordenado pelo professor Carlos Monteiro. Esse grupo, o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), tem um trabalho de enorme relevância nos estudos em nutrição no mundo todo. E eu tenho orgulho de dizer que eles são parceiros científicos do Panelinha desde 2016 e nos dão toda a retaguarda acadêmica para ajudarmos as pessoas a manter uma alimentação saudável.

Agora, é importante variar, ter um repertório, porque alimentação saudável pressupõe variação — é importante comer cenoura num dia, beterraba no outro, acelga no almoço, berinjela no jantar. Cada alimento tem uma composição nutricional única, que só ele pode oferecer ao seu corpo. Quanto mais alimentos você consome, mais nutrientes oferece ao seu organismo.

Na sua opinião, quais outros benefícios o ato de cozinhar traz? Você diria que este gesto tem também reflexos sociais e comportamentais, na reaproximação das pessoas e das famílias?
A alimentação é um desafio nos dias de hoje, em que o tempo todo tem alguém dizendo que você não precisa cozinhar, que é só pedir pelo delivery ou comprar pronto, que é só aquecer no microondas, e a gente sabe que não é verdade, que isso não deu certo. Nas sociedades em que as pessoas pararam de cozinhar, os índices de obesidade – e não estou falando de estética – e outras doenças crônicas não-transmissíveis cresceu a ponto de virar uma epidemia. A gente sabe que tem que voltar para uma alimentação mais ou menos parecida com a que tínhamos no tempo dos nossos avós, baseada no arroz com feijão, sempre com hortaliças na mesa.
Eu não estou dizendo para ficar olhando para trás. A gente tem que olhar para a frente: não dá para uma pessoa só na casa ser responsável pelo preparo das refeições. É preciso envolver a família toda na cozinha. A gente pode pensar que a cozinha é o que a mesa era no passado: um lugar onde a família convive, os pais conversam com os filhos, trocam ideias, um lugar de alimentar não só o corpo, mas também as relações, de fortalecer os vínculos. E todo mundo cozinhando. É por isso que sempre digo que alimentação não é assunto de dona de casa, é da casa toda.

Foto divulgação | Editora Panelinha

Quais são, a seu ver, os piores “alimentos” vendidos nos supermercados?
Vou te responder ao contrário: quais são os melhores alimentos, porque é isso o que as pessoas querem saber. E os melhores são aqueles que não têm lista de ingredientes no rótulo, eles são alimentos que vieram da natureza e passaram por um ou outro processo, mas sem o acréscimo de aditivos químicos. Pense nos alimentos da feira: da natureza direto para a sua casa.

Mas isso não significa que a pessoa tenha que viver de alface e tomate. Pelo contrário. Como já dissemos, a variação é fundamental. No grupo de alimentos in natura e minimamente processados, que devem ser a base da nossa alimentação, você encontra todas as hortaliças, os grãos (feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha, arroz), as farinhas (de milho, de mandioca, de trigo), o leite, o café, os ovos, as carnes (para quem come), as frutas frescas e secas, as castanhas. Esses alimentos, que podem ter sido secos, como no caso dos grãos, ou moídos , como no caso das farinhas, e todas as carnes, frutas e hortaliças (que são legumes e verduras) devem ser a base da nossa alimentação.

Já os piores são aquelas formulações industriais, repletas de aditivos químicos e que excluem da mesa a comida de verdade. Não estou falando só de lasanha congelada, de nuggets, de salsicha. Isso vale, por exemplo, para a bebida: água é um alimento essencial para a vida. Mas o refrigerante exclui a água. Você não toma um copo de refrigerante e um de água. Esses ultraprocessados estão em todos os lugares. São produtos que você não precisa cozinhar, eles já estão prontos, você só precisa abrir o pacote e comer ou aquecer no microondas. Tem o tempero pronto, que faz você deixar de temperar a própria comida. Salgadinho, barrinha de cereal, biscoito recheado… Todos fazem você comer de forma compulsiva e excluem uma fruta, por exemplo, do lanche. A lista é grande. Por isso é tão importante a pessoa aprender a diferenciar comida de verdade de imitação de comida, aprender a classificação de alimentos por grau de processamento. Para conseguir excluir esses produtos da alimentação, aprender a cozinhar é fundamental. Aliás, é essencial para conseguir manter a alimentação saudável.

Foto divulgação | Editora Panelinha

Mudando um pouco de assunto, quem são seus ídolos nessa área da culinária?
Quando eu fiz 18 anos, eu me dei conta de que não sabia cozinhar. E resolvi aprender. Foi uma experiência tão transformadora! Eu imediatamente entendi que aquilo me dava mais autonomia — e prazer. E fiquei obcecada com o assunto, queria convencer todo mundo a aprender a cozinhar. De certa maneira, é o que venho fazendo desde então, só que hoje com uma plataforma bem maior do que o meu grupo de amigos: tento levar todo mundo para a cozinha.

Meus ídolos na verdade são ídolas, três grandes mulheres: a [cozinheira e apresentadora de TV norte-americana] Delia Smith, pela precisão na hora de explicar o passo a passo da receita; a [cozinheira, antropóloga e escritora britânica] Claudia Roden, pela emoção que ela consegue passar até na descrição da receita; e a Nina Horta [banqueteira e colunista de gastronomia do jornal “Folha de S. Paulo”, falecida em 2019], por ter aberto para mim uma janela. A Nina foi a primeira pessoa que eu vi falando em comida de alma, ela escrevia lindamente sobre esse outro aspecto da nutrição, que vai além dos nutrientes.

E de onde veio esse dom para ensinar as pessoas a cozinhar? Acredita que essa é a sua missão aqui no planeta?
Ensinar está no meu DNA: todo mundo na minha família dá aula. Seria ótimo no Brasil se as escolas tivessem aula de culinária para a garotada. Seria incrível. Eu vivo dizendo que cozinhar é como ler e escrever, todo mundo deveria saber. Mas também é como ler e escrever porque ninguém nasce sabendo. A gente tem uma geração de pais e mães que não sabem cozinhar e seria fantástico essa revolução começar nas crianças, que aprenderiam a cozinhar na escola. Mas no Brasil o buraco da educação é tão mais embaixo, as pessoas mal sabem ler e escrever direito…

A cozinha é um lugar tão rico, que mesmo eu trabalhando com isso há mais de vinte anos, todos os dias aprendo alguma coisa nova. Ela é viva. É um lugar que está sempre mudando, sempre se renovando, a cozinha traz coisa nova todo dia. Eu também estou sempre aprendendo, não estou em um lugar de ser a detentora do conhecimento culinário. Acho que isso é que me faz ser uma boa professora, porque eu estou sempre aprendendo.

Foto divulgação | Editora Panelinha

Quantas horas por dia você trabalhou para produzir os episódios do “Rita, Help!”? E, agora que a série chegou ao fim, quais os próximos projetos da Panelinha Corporation?
Gravamos a série em casa, em família. A captação de cada programa de trinta minutos levou em média seis horas. Produzir um episódio não é só a captação, tem que pensar a série, escrever os roteiros, adequar receitas para o momento da quarentena, fazer dezenas de reuniões por videoconferência.

O Panelinha fez vinte anos em março, quando já estávamos em confinamento. Tínhamos um calendário cheio para 2020. Mas o ano virou de ponta cabeça e ficou mais cheio ainda. Fizemos muitas lives, fizemos o “Rita, Help!  Me Ensina a Cozinhar na Quarentena”, que além de série virou livro, já à venda nas melhores livrarias, e agora estamos voltando a gravar em estúdio para o GNT, com equipe reduzida, acompanhamento remoto e todas os protocolos de segurança sanitária. Em breve vamos lançar também um podcast. E, se não deu para comemorar os vinte anos do Panelinha, vamos comemorar no ano que vem a nossa maioridade, aos 21, com ainda mais gente na cozinha!

O que mais gosta de comer? Quando você voltar a comer fora de casa, qual será a primeira coisa que vai buscar e devorar?
Eu comi bem nesse período de confinamento. Todo mundo aqui em casa cozinhou bastante. Com aquela base do arroz com feijão no almoço, nos garantimos. O jantar era variado e o fim de semana era para receitas mais especiais. O Ilan, meu marido, adora cozinhar, e o meu filho mais velho se mostrou um cozinheiro fantástico! Fez clássicos como Beef Wellington, croissant, crème brûlée e até um bolo Floresta Negra para o próprio aniversário de 18 anos! Não estou desesperada por algum prato. A única coisa que eu não faço em casa é comida japonesa, então, o primeiro lugar que a gente vai é em um japonês.

Por fim: acredita que essa terrível pandemia fez muita gente repensar e mudar sua alimentação para sempre e para melhor, após o período de confinamento compulsório? O que você espera ou gostaria que nunca mais voltasse a ser um hábito nesse “novo normal” da humanidade?
Essa é fácil: espero que todo mundo que entrou na cozinha durante a pandemia tenha percebido que saber cozinhar é fundamental e me ajude a convencer ainda mais gente a entrar na cozinha.

 

 

Teatro Oficina lança campanha para arrecadar fundos

Teatro Oficina lança campanha para arrecadar fundos

Zé Celso em cena no Teatro Oficina, no Bixiga

Zé Celso em cena no Teatro Oficina, no Bixiga

O diretor Zé Celso Martinez Correa lança campanha para angariar fundos para o Oficina, a companhia teatral mais antiga do Brasil.

Já passei por tanta coisa na vida, tenho 83 anos, mas essa realmente eu não esperava”, desabafa José Celso Martinez Correa sobre a pandemia do novo coronavírus e a situação do Teatro Oficina, a companhia teatral mais antiga em atividade, fundada por ele e um grupo de estudantes da faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1958. 

Quando iniciou a progressiva escalada do vírus, Zé Celso e seu grupo de 60 atores estavam prontos para reestrear “Roda Viva”encenada por eles em 2019, uma remontagem da clássica obra de Chico Buarque, escrita em 1967. A estreia da peça aconteceu no Rio de Janeiro sob a direção de Zé Celso em 1968, no ápice da Ditadura Militar. 

Em quarentena desde março, o dramaturgo, um dos líderes do movimento contracultural do Brasil, vefazendo livespodcastsescrevendo um livro e divulgando a campanha do Oficina para angariar fundosjá que a situação financeira do teatro se agravou com a suspensão doespetáculos em cartaz: “Roda Viva”, que vinha com o teatro lotadoe “O Bailado do Deus Morto”, de Flávio de Carvalho, que iniciava sua temporada no histórico teatro do bairro do Bixiga. Desde 2016, ano em que deixou de receber o patrocínio da Petrobrás, a companhia enfrenta dificuldades para se manter ativa. 

Sem barreiras e limites 

No canal do Youtube, que tem 25 milhões de visualizações, é possível ver várias peças já encenadas e filmadas, como “Cacilda!Bacantes, “Boca de Ouro e “O Rei da Vela”, escrita em 1933 pelo poeta Oswald de Andrade, foi levada ao palco do Oficina em 1967 e remontada em 2018 com grande sucesso de público. 

Em 2015, o Oficina foi eleito pelo jornal britânico The Guardian como o teatro mais intenso do mundo. O prédio, reformado pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito em 1992,reflete as ousadas propostas de Zé Celso, conhecido por desafiar convenções. O público e o elenco se mesclam nas diversas galerias desmontáveis, sem barreiras. “O projeto da Lina é fruto de décadas de trabalho, porque não tem diferença de coxia, de palco, de plateia, ele foi sendo esculpido pelo movimento ao longo dos anos, é um teatro vivo”, observa Camila Mota, atriz e diretora há 23 anos na companhia.  

Especulação da vida 

Todo esse espaço criativo e um entorno verde belíssimo, com árvores frutíferassão alvos da especulação imobiliária há mais de quarenta anos, com o grupo Silvio Santos à frente da disputa. O apresentador quer construir três prédios de até 100 metros de altura na região, prejudicando o teatro, que é tombado desde 2010 pelo patrimônio histórico nas esferas federal, estadual e municipal.O projeto do Parque do Bixiga, luta do Oficina e também da comunidade do bairro, busca preservar toda essa riqueza histórica, cultural e ambiental da região, inclusive um rio que atravessa o terreno. 

Durante o isolamento, o movimento se manifestou nas redes sociais do Parque do Bixiga em lives como “O Parque do Bixiga contra a especulação da vida”, com a urbanista Raquel Rolnik e Casé Tupinambá, e “Cursos d’água florestas urbanas como forças políticas”, com Newton Massafumi e Cecilia Herzog. 

Zé Celso ressalta que a luta do Parque Bixiga é pela natureza, pela preservação da vida. “A pandemia nos mostrou que a coisa mais importante do mundo é a vida, não o capitalismo. E a nossa vida depende inteiramente da natureza”. 

As tendências da moda dos novos tempos

As tendências da moda dos novos tempos

A moda é um repórter do seu tempo, uma fotografia fiel de sua época. A moda também é uma expressão individual e podemos nos comunicar por meio das roupas que vestimos. Foi com essas certezas que me apaixonei pela moda em 1992.

Na virada dos anos 2000, senti que a moda perdeu o foco e, longe das mudanças que o mundo pedia, entrou em descompasso com o seu tempo. De um lado, verdades inconvenientes sobre as alterações climáticas e uma sociedade doente, e de outro a moda, minha paixão, alienada às necessidades de sua época.

Fui em busca de uma moda que pudesse vestir as pessoas do século XXI e de marcas que pudessem mostrar caminhos conscientes incluindo toda a sua cadeia de valor e seus consumidores finais. Foi assim que nasceu o Movimento Ecoera há 13 anos. Passamos essa última década pesquisando, cocriando, produzindo, recomendando e provocando todo o ecossistema fashion brasileiro e, como resultado, a moda no Brasil começava a dar sinais de desenvolvimento no que diz respeito às questões socioambiental.

Com a chegada inesperada da pandemia, as empresas perceberam que a sustentabilidade é um plano de ação e que o discurso vai ter que sair da teoria. Aquelas que já tinham ingressado nessa jornada mais verde e justa com o planeta e com as pessoas, encontraram um ambiente mais confortável para se comunicar. Perceberam que estão um passo a frente, afinal os consumidores dos nossos tempos são mais conscientes e estão atentos às práticas de impacto positivo.

Com as medidas de cautela, muitos de nós entramos em quarentena e a moda, também. Fomos obrigados a mudar hábitos, a fazer compras online e a usar o delivery como nunca antes. A moda também. Todo o mercado foi obrigado a mudar de rota com uma velocidade sem precedentes. Fizemos em dias o que não imaginávamos fazer em anos! As marcas começaram uma força tarefa na produção de máscaras de tecido garantindo trabalho para seus departamentos de costura, envolvendo colaboradores e clientes em uma corrente solidária em apoio a comunidades vulneráveis.

As tendências da moda dos novos tempos

Foto Matheus Ern

Do lado do varejo, algumas praticas digitais de emergência foram aplicadas, como melhoramentos nos e-commerce, promoções, descontos, ofertas e a ampliação das vendas multicanal, uma estratégia que já vinha sendo adotada, em que o lojista busca atender às necessidades de seus clientes da melhor forma possível, apoiando-se no alcance das vendas por aplicativos ou marketplaces.

Vamos viver o desconhecido, mas o que já sabemos é que o consumidor de moda não será mais o mesmo. Na pré-pandemia, o conceito de consumo consciente já estava sendo integrado ao nosso dia a dia e o consumidor na retomada será ainda mais exigente, terão foco na saúde, no essencial e no feito no Brasil.

Como a moda segue a necessidade de seus consumidores, ela será sem dúvida mais sustentável, solidária e inclusiva. Para continuar a refletir sobre o futuro da moda, na beleza e no design no mundo pós-pandemia, acesse e faça o download do report https://mailchi.mp/amodapelaagua/reportecoera.

Os novos tempos vão exigir novos hábitos, e a moda, mais uma vez, vai ajustar suas lentes e o foco será a saúde das pessoas e a do Planeta.

Fátima Pissarra, sócia da Mynd, comenta a tendência das lives

Fátima Pissarra, sócia da Mynd, comenta a tendência das lives

Os cantores têm cumprido um verdadeiro papel social em meio à quarentena. Para aliviar a tensão do confinamento, as lives acontecem todo final de semana e tem música para todos os gostos desde março. Uma verdadeira tendência digital foi inaugurada no país em meio à pandemia da Covid-19.

São vídeos ao vivo que recebem patrocínio de marcas, como cervejas e meios de pagamento online, com QR code na tela para doações e compras. Alguns desses cantores ainda têm uma verdadeira estrutura de show “na garagem” de casa, com palcos e drones.

Fátima Pissarra, sócia da agência Mynd, auxilia marcas na identificação de oportunidades e execução de projetos publicitários, unindo música, entretenimento, artistas e influenciadores. O casting exclusivo da empresa é composto por grandes nomes do cenário nacional, como Luísa Sonza e Pabllo Vittar – ambas, inclusive, já fizeram shows virtuais com centenas de milhares de expectadores acompanhando ao mesmo tempo no YouTube.

Foto divulgação

29HORAS – A arte nunca foi tão importante. Como os cantores trabalham hoje?
Fátima Pissarra – A música já passou por tantas reinvenções que os artistas estão muito preparados para inovar, ir além, e é o que está acontecendo agora. Se não há mais shows físicos, a live é uma grande oportunidade de cantar e, ao mesmo tempo, mostrar outros talentos. Temos cantores jogando, usando novas redes sociais, criando formas de interagir com seus seguidores… O cantor faz sua arte na música, mas também em outras frentes, que antes não funcionavam na mesma velocidade, por causa de uma agenda atribulada de shows e viagens.

29HORAS – Como as marcas se aproximam desses influenciadores/artistas nesse contexto?
Fátima Pissarra – Cada artista é grande para sua base, independentemente do tamanho. O importante é que a marca conectada ao artista seja uma verdade, seja uma relação real, o artista consuma, e a marca tenha uma estratégia para trabalhar esse artista, ou o segmento em que o artista está. A percepção é da coerência com a estratégia total da marca dentro e fora do ambiente digital. Se a marca quiser trabalhar um perfil high tech, de social media, vai buscar artistas super digitais, com bases digitais, mas não é apenas isso que influencia no sucesso ou não da campanha.

29HORAS – As lives têm se mostrado verdadeiros cases, com patrocínios diversos e enorme engajamento. Esse formato continuará mesmo após a pandemia, na sua visão?
Fátima Pissarra – É muito difícil prever qualquer coisa, ainda mais nesse momento super imprevisível que vivemos. Se é para eu torcer por algo, eu diria que sim, gostaria muito que as lives virassem uma realidade, que as pessoas pudessem ter a oportunidade de ver os artistas performando ao vivo de dentro de suas casas. As casas de show poderiam vender ingressos a preços mais acessíveis e transmitir também online – por que não? Acredito que novos públicos estão se formando, conhecendo as lives e gostando desse acesso.

29HORAS – O que o mercado dos influenciadores levará deste momento?
Fátima Pissarra – Eu acredito que estamos tendo um grande impacto em nossas vidas, e isso não pode ser em vão. Acho que o respeito e a forma de se posicionar vão ser cada vez mais valorizados. O novo normal vai ser pensar no coletivo, não só em si próprio. Como influenciadores, é necessário perceber que a sua ação gera uma reação muito grande, seus seguidores esperam uma postura, atitude e comportamento coerente com o que acreditam.

29HORAS – É possível deslanchar uma carreira de influenciador na pandemia?
Fátima Pissarra – Agora, e sempre! Ainda mais com as diferentes plataformas disponíveis. Tik Tok está chegando com força total com nomes super novos, que não fazem parte do dia a dia do influenciador de Instagram. Twitter tem outros nomes, YouTube… os espaços estão aí. A digitalização social está só começando. Isso é positivo, temos muito espaço.