Sheron Menezzes desfila mais uma vez como musa da Portela e estreia série e filme cheios de reflexões como empoderamento, privacidade, envelhecimento e amizade
Gaúcha de nascença, mas carioca de coração, a atriz Sheron Menezzes vive momento solar de sua carreira, que é marcada principalmente por personagens em novelas da TV Globo. Sucesso de audiência – ainda mais para um formato que agora compete com tantos outros –, “Vai na Fé” conquistou o público na faixa das 19h em 2023, mesmo ano em que a atriz completou 20 anos nas telas. Como a protagonista Sol, ela mergulhou em uma narrativa cheia de determinação, coragem e fé. “Foi uma virada de chave na minha vida, eu estava madura e pronta para receber essa personagem”, conta.
Sheron iniciou sua carreira aos 19 anos, na novela “Esperança”. Em mais de duas décadas, fez 16 personagens nas telinhas, além de filmes e séries. Aos 41 anos, agora ela é mãe e uma mulher madura, em suas palavras. A atriz também acumula o posto de musa de bateria da Portela, que neste ano cruza a Sapucaí com o samba enredo “Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol – Uma homenagem a Milton Nascimento”. Em entrevista à 29HORAS, Sheron Menezzes compartilha um pouco da preparação e do entusiasmo para o Carnaval, elenca personagens marcantes em sua trajetória e antecipa projetos que estreiam em breve no streaming e nos cinemas.

foto Giselle Dias
Você é musa da Portela, uma escola de samba muito tradicional do Rio de Janeiro. Como começou a sua relação com a agremiação?
Sempre tive um carinho e afinidade com a Portela, amo a tradição que a escola tem e, em 2011, quando recebi o convite para ser rainha de bateria fiquei extremamente feliz e honrada. É uma emoção que não sai de dentro da gente e vai me acompanhar por toda minha vida, seja em qual posto eu estiver! Posso dizer que minha aproximação com a Portela foi mágica, é um encontro de almas eterno!
Para você, quais foram os melhores enredos e desfiles?
Nossa, foram tantos tão incríveis! Eu particularmente adorei o samba-enredo do ano passado, “Um Defeito de Cor”, que levantou a Sapucaí e ainda está bem fresquinho na memória dos portelenses, mas confesso que é difícil escolher um só… (risos)
Como você se prepara para o desfile e para viver o Carnaval? Como é a rotina de uma musa de escola de samba?
Posso dizer que me preparo durante o ano com muita atividade física, o que já faz parte da minha rotina. Mas quando chega perto dessa época, gosto de dar um gás! Para desfilar é bom estar com o cardio em dia, principalmente porque saio no chão e não em um carro alegórico, tenho que sambar, dançar e andar bastante. Também começo a frequentar mais a escola, os ensaios e os desfiles técnicos, então há uma preparação física e técnica coletiva. O meu foco é estar mais presente na Portela, com a comunidade, onde me sinto em casa – e juntos nos prepararmos para a chegada do grande dia, que é entrar oficialmente na Avenida.

Sheron Menezzes como musa da Portela – foto arquivo pessoal
Você completou mais de 20 anos de carreira como atriz. O que mudou na profissão e nas suas escolhas profissionais nesse tempo?
Quando comecei, aceitava as oportunidades e ficava muito feliz quando passava em um teste! Eu sempre me esforcei e trabalhei para a construção e o crescimento das personagens, para conquistar o espaço dentro dos trabalhos que apareciam. Hoje, posso fazer minhas escolhas artísticas e levo em consideração aquilo que estou com vontade de fazer, posso conversar com colegas e diretores sobre os meus desejos profissionais. No início, a gente não pensa muito dessa maneira, você precisa e vai no fluxo! Fiz 16 novelas, além de séries e filmes, e nenhuma personagem se repetiu, acredito que isso é o mais extraordinário na nossa profissão!
O que faz você escolher uma novela, uma série ou filme para atuar? Você tem preferido projetos nos streamings, como muitos colegas que também atuaram por muitos anos em novelas da TV Globo?
Não tenho uma preferência, adoro o audiovisual e cresci nele. Eu amo fazer novelas, é o que eu sei fazer e o que aprendi intensamente a fazer. Mas também amo séries e filmes! Gosto de estar em movimento, transitando, atuando…o que levo em conta para escolher esses projetos, realmente, é o conceito artístico, seleciono aquele em que vou conseguir colocar melhor as minhas vontades, os meus desejos, o que quero mostrar e falar. Eu não faço uma personagem só por fazer, eu acho que é sempre bom ter algo a dizer com uma história, um roteiro.
Quais trabalhos foram os mais marcantes nessas duas décadas?
A minha melhor personagem é aquela que eu estou fazendo, minha energia está toda ali. Mas não posso deixar de falar da Sol, foi uma virada de chave na minha carreira e na minha vida, eu estava madura e pronta para receber essa personagem. Teve ainda a Gisele, de “Bom Sucesso”, e Berenice, de “Lado a Lado”, que eram vilãs, e eu gosto muito de fazer vilãs. E Diara, de “Novo Mundo”, que foi incrível, porque eu estava grávida durante as gravações, e na trama a minha personagem também ficou grávida!
Adorei “Carga Máxima”, da Netflix, um filme em que minha personagem é uma pilota de Fórmula Truck, lançado em 2023. Foi muito interessante, porque consegui colocar para fora um outro lado meu, o da aventura. Agora estou apegada à minha nova personagem Laura, que é de uma série e produção original Globoplay – “Juntas & Separadas”, ela é uma mulher extremamente engraçada e, ao mesmo tempo, profunda. Por isso, te digo que não consigo escolher uma personagem, todas que fiz foram importantes, cada uma no seu momento. Com certeza a próxima personagem que eu fizer, vou usar um pouquinho de outra que já interpretei. Cada uma contribuiu de um jeito para os novos trabalhos.

A atriz no papel de Sol, em “Vai na Fé” – foto Globo / João Miguel Júnior
“Vai na Fé”, em que você interpretou a Sol, teve boa audiência e recepção do público na faixa das 19h. A novela também se destacou por ter um elenco com grande número de atores negros. A que você atribui o interesse do público pela novela? E qual foi o impacto dessa importante diversidade promovida pela produção?
A novela teve uma aceitação maravilhosa e eu acredito que foi por causa dos temas abordados, que eram cotidianos. A gente gosta de assistir a alguma coisa e se identificar com aquilo, principalmente em uma novela, que é de longa duração. Quando você vê na tela questões e problemas do seu dia a dia, rapidamente você se conecta, quer acompanhar. Quando o público se identifica visualmente, com atores parecidos com ele, a conexão é ainda maior! “Vai na Fé” foi uma novela de pessoas reais, abordando temas reais, como religiosidade, de todas as maneiras, além de lutas e batalhas da vida, como a mãe que trabalha fora e abre mão do seu sonho para manter a família unida e colocar uma filha na faculdade, o abuso, um cantor que está tentando a carreira…
Como você falou, a novela também trazia a temática religiosa para a TV aberta. Você trouxe um pouco da sua própria fé para a construção dessa história?
Acho que a gente abordou a questão da religião de uma forma muito leve, respeitosa, desmistificando alguns pontos, sabe? Falo isso porque a sociedade em geral tem muitos preconceitos e paradigmas que precisam ser quebrados e a novela trouxe esses pontos sem rótulos. Abordamos com muito respeito tanto a religião evangélica, que esteve muito presente na nossa novela, como o candomblé. Mas esses temas não viraram a questão central da narrativa, eram uma parte dela, e isso fez com que os telespectadores se identificassem com cada história. Eu mesma aprendi a gostar de uma religião que não conhecia, que não é a minha, e acho isso muito bonito! Como atriz, é maravilhoso se entregar para alguma coisa que você não conhece.

No filme “Carga Máxima” – foto divulgação / Netflix
Você está no longa “Perfeitos Desconhecidos”, versão brasileira da comédia italiana de Paolo Genovese, que deve estrear no segundo semestre. Como é a sua personagem?
Esse filme já foi rodado em muitos países, mas a versão brasileira foi um pouco atualizada para a nossa sociedade. Eu assisti ao trailer e fiquei encantada, acho que a gente vai se divertir, são temas reais colocados de uma maneira divertida. Gravamos tudo em um mês, em uma mesa de churrasco. No filme, a cena se passa em um dia, mas passamos um mês fazendo a mesma coisa! Quem não tem algo para falar? Quem não está, às vezes, sentado em uma mesa e manda mensagem para o amigo que está do seu lado para falar algo sobre aquelas pessoas? (risos). Ou seja, os conflitos já estão ali. As pessoas vão se surpreender!
E tem ainda a série “Juntas & Separadas”, do Globoplay, que será dedicada às mulheres com mais de 40 anos. Quais temas podemos esperar? E quais assuntos são os mais caros para você?
Eu estou super empolgada com essa série, porque a gente fala de mulheres maduras e assuntos de mulheres maduras. Eu nunca parei para discutir esses temas, tirando a maternidade, que é aquele que mais me coloco. Aprendi muita coisa, porque eu já me tornei uma mulher 40+. Quando fui estudar o roteiro, eu vi que se fala muito sobre a maturidade e o envelhecimento feminino em vários lugares, mas no Brasil parecemos mais fechados, porque não queremos envelhecer. Eu acho que a série vai dar o que falar, as pessoas vão querer saber os desdobramentos de tudo aquilo.
Penso que um dos assuntos que tratamos na série e que vejo como o mais interessante, é a escolha de você querer ou não ter filhos, porque ainda é um tabu, sendo que deveria ser uma escolha livre, sem preconceitos! A série traz ainda outros temas, como menopausa, namoro depois dos 40, ficar solteira, terminar casamentos, recomeçar a sua vida e mudar de carreira, que precisam ser muito mais falados!

Com o elenco de “Juntas & Separadas” – foto Acervo Pessoal
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