Ana Paula Padrão assume o posto de CEO de uma comunidade para a formação e a mentoria de lideranças femininas

por | fev 28, 2025 | Entrevista, Inovação, Negócios, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

A jornalista e apresentadora Ana Paula Padrão agora é CEO e está à frente de uma inovadora formação para empresárias, empreendedoras e executivas que buscam se desenvolver e ascender em suas carreiras

Ana Paula Padrão carrega credibilidade e colhe sucesso pelos diferentes caminhos que percorreu. Por quase 30 anos, ela foi jornalista e protagonizou coberturas importantes que exigiam comprometimento e seriedade. Eleições presidenciais, conflitos e guerras, manifestações e grandes eventos políticos e sociais fazem parte de um extenso portfólio que comprova a versatilidade de suas apurações.

Mas a mudança é a única certeza. Das ruas e das bancadas de noticiários, como do ‘Jornal da Globo’ e do ‘SBT Brasil’, ela se direcionou a outros rumos. A postura elegante e sua clareza ao se comunicar, que conquistaram a confiança do público, foram levadas a um formato mais dinâmico e descontraído da televisão brasileira, o ‘MasterChef Brasil‘ – reality show da Band que apresentou por 10 anos. “Demorei para assimilar que ali eu podia me emocionar na frente das câmeras”, lembra.

 

A jornalista Ana Paula Padrão – foto Marcelo Brum

 

Todo o aprendizado das telas e das coberturas jornalísticas formaram uma profissional respeitada e admirada, principalmente por outras mulheres. Aos 58 anos, Ana Paula atualmente é CEO da Conquer Unna – comunidade de desenvolvimento de lideranças femininas, com mentorias e cursos. Na balança dos avanços e desafios, ela colhe amadurecimento e reúne muitos conselhos a passar a diante. “Venho aprendendo quem eu sou. Autoconhecimento é o que de mais importante podemos conquistar na vida”, define.

Em entrevista à 29HORAS, Ana Paula Padrão discorre sobre suas transições de carreira, compartilha detalhes dos desafios e dos aprendizados de cada fase, reflete sobre empoderamento feminino e relembra as inspirações que recebeu ao longo de sua diversificada vida pessoal e profissional. Confira os principais trechos a seguir:

Agora você é a curadora da formação em liderança para mulheres da Conquer Business School. Como foi desenhar esse curso? Quem são as alunas que vocês pretendem atingir?
Na verdade, criamos uma empresa completamente nova, a Conquer Unna em sociedade com a Conquer Business School. Sou a CEO da Unna e curadora de todo o conteúdo, que foi desenvolvido para a formação de lideranças femininas. São várias formações, online, mas também com imersões presenciais. Estamos construindo uma esteira com diferentes produtos, mas todos se destinam a preparar a mulher para dar o próximo passo em sua carreira.

E quem são as professoras e as profissionais envolvidas nessa formação? Como foi o processo de escolha das colegas?
Meu interesse pelo desenvolvimento de mulheres vem de longe, comecei a estudar comportamento e formação de autoestima femininas há mais de 20 anos e, desde 2010, reúno mulheres em grupos e eventos presenciais. Nessa trajetória conheci muitas mulheres interessantes do mundo do trabalho com quem desenvolvi diversas iniciativas e algumas dessas amigas estão comigo na Unna. Também encontrei, na Conquer, líderes femininas que imediatamente abraçaram a ideia dessa nova unidade de negócios voltada apenas para formação feminina e que têm sido fundamentais na construção do negócio.

 

foto Marcelo Brum

 

Qual é a importância de uma comunidade de mulheres focada em liderar negócios? Esse formato se inspira em outros já existentes mundo afora?
Olhando para uma perspectiva histórica, temos pouco tempo de inserção no mercado de trabalho e entramos nas empresas copiando a gestão masculina. Fomos compreendendo, com o tempo, que a carreira feminina nas corporações precisa de uma jornada própria que considere nossa imensa responsabilidade na economia do cuidado, na maternidade e em um modo diferente de fazer gestão de processos e de pessoas. Algumas empresas estão compreendendo essa necessidade e penso que há uma saudável pressão para que a diversidade se torne uma das prioridades dos gestores.
A Unna colabora nesse processo de formar mulheres para que se tornem líderes completas, inteiras e prontas para usar a própria voz. Não temos um benchmark: há empresas que atuam bem no B2B, outras no B2C, queremos jogar nos dois campos – o que é bastante desafiador, mas torna o processo mais interessante também!

Como você falou, vivemos em um tempo em que avançamos com a maior presença feminina no mercado de trabalho e em posições de destaque, mas ainda há machismo e ataque a esses mesmos avanços. Quais são, na sua visão, os principais obstáculos que as mulheres enfrentam ao tentar ascender profissionalmente?
Os desafios que envolvem uma cultura machista e baseada na suposição de que todo o trabalho do cuidado (com os mais velhos, com as crianças, com a higiene doméstica, com a alimentação de todos, com os doentes etc.) deve ser feito por mulheres são bastante conhecidos. Acredito que, além deles, a mulher enfrenta outros desafios relacionados à socialização: aprendemos desde cedo a “ser boazinha”. A ambição é compreendida como negativa em mulheres e positiva nos homens, o que nos leva a ter mais dificuldade na hora de enfrentar situações profissionais em que qualidades como ser ambiciosa, assertiva e determinada são tão importantes quanto ser sensível e atenta. A Unna treina mulheres para separar o que é personalidade daquilo que é apenas a cultura agindo sobre elas.

Nesse novo capítulo de sua carreira, o que você mais aprendeu sobre si mesma enquanto trabalha para empoderar outras mulheres?
Venho aprendendo quem eu sou, sinceramente. Autoconhecimento é o que de mais importante podemos conquistar na vida. Só se conhecendo, uma pessoa pode tomar decisões acertadas para si e se libertar da tendência de fazer escolhas com base nas expectativas que os outros têm de você – vejo que é um processo especialmente comum na vida das mulheres.

 

foto Marcelo Brum

 

Para as mulheres jovens que estão começando suas carreiras hoje, quais conselhos você daria para que elas possam se destacar e se tornar líderes em suas áreas, mantendo a autenticidade?
O mais importante é estabelecer metas alcançáveis para a carreira e cumpri-las. Vivemos um momento de glamurização dos processos ultrarrápidos e a carreira é o contrário disso: aqueles que muito jovens lançam e vendem startups por milhões viram super ricos, mas não super líderes! Isso exige constância, muito estudo e amadurecimento. Um degrau de cada vez!

Fazer uma transição de carreira pode ser difícil, mas você já se desafiou em algumas. Como foi passar de âncora de jornal à apresentadora do MasterChef? Como foi transitar de um ambiente profissional mais rígido para um mais descontraído?
Acho que o mais importante na transição é a certeza de que aquilo que está ficando para trás já não te apaixona mais. Exerci o jornalismo por quase 30 anos e quando decidi sair eu sabia que teria orgulho para sempre da minha trajetória, mas que não teria saudade daquela rotina ou daquele reconhecimento. Quando fui para o MasterChef, tive que começar tudo de novo! E não foi simples a adaptação. Demorei mais de um ano para assimilar que ali eu podia me emocionar na frente das câmeras. Pude ser mais eu!

 

Ana Paula Padrão como âncora do ‘Jornal da Globo’ – foto divulgação / Globo

 

Qual era a sua relação com o MasterChef antes de apresentá-lo?
Eu nem sabia que havia um formato chamado MasterChef em dezenas de países do mundo. No Brasil fomos pioneiros, então eu tive que construir meu próprio jeito de apresentá-lo. Foram 10 anos maravilhosos e tenho certeza de que na próxima temporada a ser gravada, e que será a primeira sem mim, o programa estará incrível e que eu baterei palmas para minha ‘família MasterChef’.

E em que as experiências que você teve no jornalismo e na apresentação de programa de TV agregam no universo corporativo?
Acho que minha nova ocupação é o aproveitamento máximo da mulher que eu me tornei. Liderar pessoas com atenção e processos com humildade exige maturidade – principalmente nesse setor da educação! Sinto-me no lugar certo e na hora certa.

Quais líderes mais te inspiraram nessas diferentes fases profissionais? Quais direcionamentos foram os mais importantes?
Nunca tive um mentor ou mentora, quando entrei no mercado de trabalho isso não era comum. Então, talvez por ser uma jornalista de formação, eu gosto muito de conversar com pessoas e a partir desses papos fui enxergando o caminho que queria traçar. Fui aprendendo com cada uma dessas pessoas alguma qualidade e isso se transforma em um mosaico na minha cabeça. Tento ser um pouquinho de cada uma dessas mulheres – a maioria anônimas – que conheci e admirei por alguma característica especial.

 

Apresentando a primeira temporada do ‘MasterChef Confeitaria’ – foto Marcelinho Santos / Band

 

Como jornalista, quais coberturas mais te marcaram? Ser uma mulher nessa área ainda é desafiador em algum sentido ou há mais obstáculos em determinados segmentos de cobertura?
O jornalismo não é uma profissão considerada masculina. Embora os acionistas das principais mídias sejam homens, há muitas mulheres ocupando postos de comando nas redações e muitos exemplos de grandes colunistas mulheres na política e na economia, por exemplo. Talvez áreas específicas como a cobertura esportiva ainda sejam territórios mais desafiadores para as mulheres, mas eu nunca me senti impedida de me candidatar a coberturas perigosas, como em regiões de conflito, por ser mulher.

Além da Conquer Unna, quais outros projetos você pretende desenvolver nesta nova fase?
Não penso em outros projetos agora. A Unna é uma empresa que está nascendo e vai exigir meu foco e minha dedicação por muito tempo ainda!

Foto da capa: Marcelo Brum

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