O resultado das produções são refinadas peças em crochê que são destaque na São Paulo Fashion Week.
Para os alunos do Projeto Ponto Firme, agulha e linha são ferramentas de reconstrução. Desde 2015, o programa oferece formação técnica em crochê para sentenciados da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos (SP). A ideia é apresentar aos egressos uma oportunidade de reinserção no mercado de trabalho por meio da moda e estimular a produção criativa como ferramenta de transformação social.
“O crochê desperta a autonomia. Ao construir algo do zero com as próprias mãos, os educandos trabalham a autoestima, o empoderamento e ampliam suas perspectivas de futuro”, explica o pernambucano Gustavo Silvestre, estilista, designer e idealizador do projeto. É ele quem ministra as aulas e supervisiona os novos artesãos na confecção de tapeçarias, redes, bonecos, roupas e o que mais a imaginação permitir. Para a produção, os alunos usam materiais doados por empresas apoiadoras do programa. “Além de linha e agulha, recebemos retalhos e roupas com defeito de fabricação”, comenta.
O Ponto Firme já formou mais de 150 profissionais. Com turmas semestrais de aproximadamente 25 pessoas, o programa oferece, a cada módulo de ensino, certificados de conclusão e remissão da pena em alguns dias. “Parte das peças produzidas são enviadas às famílias dos alunos, para comercialização. Assim, muitos deles encontram no crochê sua principal fonte de renda, antes mesmo de conseguirem liberdade.”
Das salas de aula às passarelas, as peças do Ponto Firme ganharam o Brasil e o mundo. Os crochês já foram expostos em Nova York, na Pinacoteca de São Paulo e, há quatro anos, marcam presença nos desfiles da São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do país. Para a coleção de 2021, inteiramente produzida com materiais sustentáveis e reutilizados, Gustavo contou com a ajuda dos egressos Anderson Figueiredo, Anderson Joaquim e Tiago Araújo. “O tema do evento deste ano foi Regeneração, e isso é basicamente o que fazemos todo dia por aqui. Reconstruímos tecidos e histórias”, reflete.
Para o segundo semestre, Gustavo planeja a criação de uma escola-ateliê na capital paulista. “Fechamos uma parceria com a organização BrazilFoundation e, juntos, vamos abrir um estúdio para receber egressos de outras instituições da região, sobretudo mulheres e pessoas trans”. A longo prazo, o desejo é criar uma rede de apoio cada vez mais ampla e “ser referência da resistência por meio da arte e do afeto”.
Trabalho artesanal, cuida do lado certo no cérebro das pessoas que precisam centrar se!!! Excelente iniciativa!