Atriz Thaila Ayala estreia como roteirista, produtora, empreendedora e mãe

por | ago 31, 2021 | Cinema, Cultura, Entrevista, Pessoas, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Nascida em Presidente Prudente, a atriz e modelo Thaila Ayala se prepara para gestar um filho e muitos outros projetos no cinema e na moda.

Thaila Ayala é plural. Aos 35 anos, ela divide seu tempo entre as funções de atriz, modelo, produtora, empreendedora e ativista. Dona de uma inquietude que, hoje, se transformou em uma agenda cheia. “O mergulho forçado da pandemia me fez desengavetar sonhos até então adormecidos, e desde então não parei de trabalhar.”

Atualmente em “Ti Ti Ti”, novela de Maria Adelaide Amaral em reexibição na programação vespertina da TV Globo, a atriz interpreta a mimada e ambiciosa Amanda, “uma modelo como muitas que conheci no meu tempo de passarela”, comenta. Das telinhas para as telonas, Thaila comemora o lançamento do longa “Lamento”, com direção de Claudio Bittencourt e Diego Lopes, que chegou aos cinemas no final de agosto e foi indicado a melhor filme estrangeiro no Festival de Burbank, na Califórnia, e vencedor do prêmio do Público de melhor filme no Festival Katra Film Series, em Nova York.

A trama de suspense traz Marco Ricca vivendo o proprietário de um hotel que já viu seus dias de glória e muito luxo. Herdado por ele, agora o lugar não é mais o mesmo, abrigando o submundo e clientes, no mínimo, duvidosos. Thaila Ayala encarna uma prostituta que chega ao local e, após algumas horas, simplesmente desaparece, levantando suspeitas de um possível crime.

“Lamento é um filme de gênero. Nem sempre foi assim, mas hoje podemos encher a boca para falar que o nosso cinema tem de tudo. Existe uma qualidade de roteiro, de direção, um super cuidado. O longa teve uma contribuição incrível de Marco Ricca, que é um dos maiores atores que temos no Brasil. Respeitando todos os parceiros que já tive, ele foi um dos mais incríveis com que atuei.”

Com cenas fortes, que misturam violência, sexo e drama psicológico, Thaila conta que construir a personagem foi um desafio. “É um combo que o filme traz, de direção e roteiro densos. A Leticia, minha personagem, tem um mistério. É fluida, enigmática e pode ser tudo. Meu desafio foi fugir dos estereótipos e romper os estigmas que ainda costumam orbitar sobre uma garota de programa.”

 

Thaila Ayala - Foto: Luiza Ferraz | Produção e roupas: MAXILA

Thaila Ayala – Foto: Luiza Ferraz | Produção e roupas: MAXILA

 

Filha da terra

Nascida em Presidente Prudente, a distantes 558 km da capital paulista, Thaila é cidadã do mundo. Saiu de casa aos 14 anos, sem se despedir, em um ônibus com destino à metrópole. Na mala, R$ 300 e o sonho de trabalhar como modelo para contribuir com a renda familiar. Em pouco tempo, a carreira na moda deslanchou. Depois de São Paulo, foi para o Rio de Janeiro, Los Angeles e Nova York – lugares que revisitou anos depois, como atriz.

Apesar das muitas recordações cosmopolitas, a atriz ainda se sente uma menina do interior. “Prudente é minha raiz, minha base e minha tradição. Confesso que adoro a bagunça de uma cidade grande, mas sou filha da terra e preciso dela para me sentir completa”, conta. As memórias dos ares prudentinos são de muito afeto e simplicidade. “Lembro de andar de carrinho de rolimã e brincar de casinha em um terreno baldio do lado de casa. Era tudo muito genuíno e mágico.”

Hoje, 20 anos depois, a casa que compartilha com o marido, o também ator Renato Góes, no bairro carioca de Itanhangá, é retrato dos paraísos bucólicos que descobriu quando criança. “Escolhemos um lugar grande e arborizado, com cachoeira por perto e frutas no pé”. Nos muitos meses de isolamento social, foi no contato com essa natureza particular, em meio às lagoas da Barra da Tijuca, que se permitiu reenergizar. “Tive algumas crises de ansiedade nesse período, e estar em meio ao verde me reconectava à tranquilidade dos meus dias no interior. Era como voltar no tempo.”

 

Thaila Ayala - Foto: Luiza Ferraz | Produção e roupas: MAXILA

Thaila Ayala – Foto: Luiza Ferraz | Produção e roupas: MAXILA

 

E é nos veios e no ventre da terra que Thaila pretende dar à luz seu primeiro filho, Francisco. Grávida de quatro meses, a atriz sonha em deixar ao primogênito a herança do contato com a natureza e amor ao verde. “Quero que meu filho tenha o privilégio de aproveitar uma infância que seja o mais próxima possível da que eu tive em Prudente, com toda a liberdade de brincar na grama, de pés descalços e vento no rosto.”

Cachoeira criativa

É com esse mesmo carinho maternal que Thaila se refere a seus trabalhos. Além de gestar um filho, a atriz alimenta ideias e projetos há muito tempo. “Eles também são meus bebês”, comenta, entre risadas. O orgulho não é à toa. Desde sua primeira aparição na TV, como a adolescente Marcela na 14ª temporada de “Malhação”, já são quase 15 anos de carreira e um currículo que inclui inúmeras participações em novelas, filmes nacionais e internacionais, e séries em plataformas de streaming.

O plano para este segundo semestre é aumentar ainda mais essa “família”. “Além de ‘Lamento’, tenho outros quatro filmes para estrear”, diz. Dentre os títulos, estão o lúdico “Moscow”, o romance “O Garoto”, o distópico “Distrito 666” e o suspense “Inverno”. Esse último, protagonizado por ela e Renato – o primeiro do casal juntos em cena –, marca a estreia de Thaila como roteirista. “Eu sempre escrevi. Já fiz alguns cursos de roteiro em Nova York, mas muito mais por exercício e paixão. O impulso veio do isolamento, quando percebi que poderia usar o tempo ‘quarentenada’ para realizar mais esse sonho.”

Foi então que recorreu à ajuda criativa do amigo, roteirista e diretor Paulo Fontenelle. Juntos, eles delinearam a trama de suspense que deve chegar aos cinemas ainda neste ano. “A história foi 100% inspirada no momento que estamos vivendo e retrata a vida de um casal em quarentena, depois de serem atravessados por uma fatalidade misteriosa e sombria”, conta. De fato, não havia como fugir da temática pandêmica. Com a indústria cinematográfica ainda sob as restrições dos protocolos de saúde, o jeito foi rodar o filme inteiro dentro de casa. “Transformamos nossos cômodos em set de filmagem. Nós terminávamos de gravar e dormíamos com os equipamentos de iluminação ainda montados, com elementos cênicos na escrivaninha e macas de hospital encostadas no armário. Foi uma aventura.”

 

Thaila Ayala e Renato Góes no set de filmagem do longa "Inverno" - Foto: Divulgação

Thaila Ayala e Renato Góes no set de filmagem do longa “Inverno” – Foto: Divulgação

 

“Inverno” também é o primeiro projeto da Cachoeira Filmes, produtora audiovisual inaugurada por Thaila e o marido em 2020 – outro “filho” do casal gerado durante os meses de pandemia. Ainda sem previsão para novas produções da empresa, o próximo sonho é transformar a produtora em projeto social. “Temos essa ideia, ainda embrionária, de fazer da Cachoeira um espaço de incentivo a novos roteiristas, diretores e atores, que seja um suporte para jovens nomes da área.”

Ativismo está na moda

Na sua conta no Instagram – onde acumula mais de 6 milhões de seguidores –, a prudentina se autodescreve “atriz, ativista, feminista e espiritualista”. Dedicada a causas socioambientais, seu ativismo, ela explica, é mais uma herança das raízes interioranas. “A minha terra me fez militante. Foi naquele ambiente que percebi a necessidade de preservar e lutar pela natureza que ainda nos resta”, pontua.

Em agosto de 2020, a preocupação ambiental virou modelo de negócio. Ao lado das amigas e sócias – a produtora Maria Cláudia Luquet e a empreendedora Fernanda Cardamone -, lançou Amar.ca, grife com peças versáteis e 100% ecológicas. Da idealização à embalagem, Thaila acompanha de perto todas as etapas da confecção. “Quero ter certeza de que todo o processo vai refletir os valores em que acredito”. No catálogo da loja, que funciona exclusivamente online, todos os produtos possuem os selos “Eu Reciclo” e “Carbon Free”, de certificação sustentável. “Mais do que referência em estilo, queremos ser agentes de um movimento cada vez mais consciente na moda.”

 

Thaila usando peças de moletom ecológicas da grife Amar.ca - Foto: Divulgação

Thaila usando peças de moletom ecológicas da grife Amar.ca – Foto: Divulgação

 

Bem-informada e politizada, a atriz e empresária acredita que arte e o ativismo não só são um match possível, mas necessário. “Para nós, figuras públicas, que temos o privilégio desse espaço de fala e atuação, a omissão não pode ser uma opção”.

E é por isso que ela age e se movimenta. Thaila promove bazares beneficentes com lucro revertido a iniciativas sociais, faz coleta seletiva em casa, tem preferência absoluta por alimentos orgânicos e de pequenos produtores, e é madrinha do “Cidades Invisíveis”, projeto com sede em Florianópolis que, desde 2012, fomenta a capacitação e o empoderamento em comunidades vulneráveis, por meio do incentivo à produção artística.

“No fim, militância e arte se entrelaçam. Na atuação, a gente já empresta a pele e a voz a histórias que não são nossas. É, com toda certeza, um exercício poderoso e frequente de empatia, que quero sempre transbordar para a minha vida.”

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