Com uma carreira consolidada no cinema, Rodrigo Santoro celebra o bom momento do Brasil na telona e brilha em “O Último Azul”, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim
Quando encantava em novelas como “Pátria Minha” (1994) e “Explode Coração” (1995), Rodrigo Santoro era uma estrela da TV em ascensão. Mas o cinema surgiu em seu caminho, ele aproveitou as oportunidades e se tornou referência nacional quando o assunto é a sétima arte. No Festival de Berlim, realizado em fevereiro, apresentou seu novo filme, “O Último Azul”. O longa dirigido por Gabriel Mascaro ganhou o Urso de Prata Grande Prêmio do Júri, a segunda premiação mais importante do evento.
Berlim forma, ao lado de Cannes e Veneza, a trinca poderosa de festivais internacionais de cinema. Foi lá que “Central do Brasil”, de Walter Salles, e “Tropa de Elite”, de José Padilha, despontaram para o mundo. Uma semana após a premiação na cidade alemã, o Brasil conquistava seu primeiro Oscar, de filme internacional, com “Ainda Estou Aqui”, de Salles. Santoro vibra com o momento do cinema brasileiro.
foto Jorge Bispo
“O que mais me comoveu foi a volta do público brasileiro [ao cinema] que, para mim, é o movimento mais importante. O interesse do brasileiro pelas produções nacionais, uma safra de filmes interessantes, que fizeram boas bilheterias, essa relação foi o que mais me emocionou”, conta Rodrigo Santoro em entrevista exclusiva à 29HORAS.
Ele, que trabalhou com Walter Salles em “Abril Despedaçado” (2001), fica surpreso ao descobrir que uma geração que não viu o Brasil ser campeão na Copa do Mundo de futebol [o último título foi em 2002], viu o país ganhar o Oscar. “Isso é muito bonito. Uma geração que vai ver o cinema de forma diferente! Temos que honrar. Temos que falar das nossas questões, das nossas histórias, buscar o nosso espectador. Incentivar os brasileiros para que continuem indo às salas, prestigiando as produções nacionais. E o mundo é consequência.”
Reflexão na tela
Rodrigo explica como foi a experiência no Festival de Berlim: “Estive em Berlim com a première mundial de ‘300’. Mas a experiência em competição é bem específica, você faz parte de um grupo seleto, tem encontros com imprensa especializada, jantares. Fomos bem recebidos. Não sei se porque o filme era brasileiro, mas já tinha um acolhimento e simpatia. E quando estreou foi incrível. A crítica nos colocou como o melhor filme do Festival. E a gente não faz filme para ganhar prêmio. Nunca fico ali esperando [o prêmio].”
Rodrigo Santoro e o diretor Gabriel Mascaro com o Urso de Prata, conquistado em fevereiro no Festival de Berlim – foto divulgação
Ele mesmo assistiu “O Último Azul” pela primeira vez em Berlim, com o público, e após a sessão oficial uma senhora que estava na plateia o abordou. “Ela agradeceu e disse que era ela no filme! Ela sentia um êxtase de ter se visto pela primeira vez [na tela]. Isso é o que me ganha. É para isso que a gente faz filme, para gerar reflexão. Entreter sim, mas quando passa disso… parece que o filme está conversando com as pessoas.”
Protagonizado por Denise Weinberg, com Santoro, Adanilo e a atriz cubana Miriam Socarrás no elenco, “O Último Azul” é ambientado na Amazônia, em um Brasil quase distópico, onde o governo transfere idosos para uma colônia habitacional em que vão “desfrutar” seus últimos anos de vida. Antes de seu exílio compulsório, Tereza (Denise), de 77 anos, embarca em uma jornada para realizar seu último desejo.
“O trabalho da Denise é gigante. Não só dela, da Miriam e do Adanilo também. Naturalmente estamos discutindo o etarismo, mas vai além, fala sobre o direito de viver e de sonhar, e como a sociedade olha os idosos. Normalmente não existe um olhar procurando a vitalidade, o desejo, a vontade. Mas, se você der sorte, você fica idoso, se sua vida não acabar antes. É um processo natural. Querem frear o envelhecimento, mas devemos envelhecer melhor, porque envelhecer faz parte da vida. Brigar com isso não me parece a coisa mais sábia”, reflete.
Rodrigo Santoro e Denise Weinberg em cena do longa “O Último Azul” – foto Guillermo Garza
E o ator ressalta que o trabalho do cineasta Gabriel Mascaro sempre chamou sua atenção. “Quando assisti ‘Boi Neon’, primeiro filme do Gabriel, pensei ‘Nossa, que filmaço!’ Aí um amigo em comum disse que eu precisava conhecer o Gabriel. E sempre tive interesse no cinema independente brasileiro. Desde ‘Bicho de Sete Cabeças’ (2000), que foi onde minha história começou. Porque mais independente do que ‘Bicho’ e [a diretora] Laís Bodansky em uma época que nem tinha cinema no Brasil… é o meu DNA, a minha formação, quando começo a me entender como artista.”
Em “O Último Azul”, Cadu, personagem de Rodrigo Santoro, é o dono do barco que leva Tereza por uma viagem pela Amazônia. “Cadu é um olhar na contramão do que a gente está acostumado a ver da figura do masculino. Ele tem o coração partido. Ele não está com o amor dele, vive no barco, que é um símbolo de liberdade. Mas o barco é a prisão dele, está ali sofrendo, e enxerga que precisa ceder ao que sente. É um homem que fala ‘preciso seguir meu coração’. Foi um presente, afetivo, sensível e só agradeço.”
Conhecido por “mergulhar” nos personagens e se transformar para os papéis, Santoro fez uma preparação especial na Amazônia. “Fui uma semana antes das filmagens para fazer o laboratório. Saí com seu Zé, com quem aprendi o manejo do barco, e quis ver o que ele fazia. A gente ia filmar nos igarapés, e fiquei um dia inteiro lá, mas o tempo não passava e a urbanização começou a gritar. Foi quando entendi que precisava entrar naquele ritmo. Passei a observar seu Zé, entrar na calma dele, na escuta, nos sons dos pássaros. Tive a oportunidade de fazer a imersão na Amazônia com um olhar menos estrangeiro, mergulhando e ficando perto do povo ribeirinho. Foi uma viagem transformadora e inesquecível”, revela o ator, acrescentando que, depois das filmagens, passou mais 15 dias na Amazônia com a esposa, a filha e um casal de amigos.
O ator em sua viagem à Amazônia – foto arquivo pessoal
“Fala-se muito da Amazônia, mas, quando eu ia falar, sentia que não conhecia. Agora quando penso, tenho tanta memória no meu corpo e na minha mente… entendo a importância real e a majestade daquele lugar.”
De Petrópolis para o mundo
Nascido em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, Santoro queria ser médico, mas desistiu ainda na adolescência e foi cursar Comunicação Social na PUC. Fez comerciais de TV e, para as novelas, foi um pulo. Cinema? Não, ele queria fazer minissérie. “Venho da época que a gente não tinha cinema. Veio a retomada com ‘Carlota Joaquina’ (1995), mas a gente não sonhava. Eu fazia as novelas, cada vez conquistando uma personagem mais interessante, mas queria fazer uma minissérie. E aí veio ‘Hilda Furacão’ (1998).”
Foi na minissérie que viveu o Frei Malthus e contracenou com Paulo Autran. O veterano ator o indicou para Laís Bodansky, que procurava um protagonista para o longa “Bicho de Sete Cabeças”. “A Laís mandou o roteiro para o Paulo Autran, para fazer o pai do personagem principal. Ele achou que não tinha idade para o papel, mas disse para ela olhar o menino que contracenava com ele em ‘Hilda’. Ela me viu, marcou um encontro, li o roteiro e a gente se conectou. Depois, pelo que ela me contou, o Waltinho viu o ‘Bicho de Sete Cabeças’ ainda sendo montado e me chamou para um teste. As filmagens tinham acabado e eu estava na Califórnia, realizando meu sonho de surfar lá. Achei que era trote. Mas voltei, fiz o teste e aí veio ‘Abril Despedaçado’. Depois disso nunca mais parei.”
Com Lais Bodansky, em ‘Bicho de Sete Cabeças'(2000) – foto Marlene Bergamo
Da travesti Lady Di de “Carandiru” (2003), de Hector Babenco, ao vilão Jerônimo de “Bom dia, Verônica” (2024), passando por produções hollywoodianas como “Che” (2008), de Steven Soderberg, ele coleciona papéis marcantes. “Uma coisa levou a outra. Foi sempre assim comigo. Por isso foco em fazer o melhor com o que está na minha frente. No momento que escolho, tudo que tenho é isso aqui. Estou sempre recomeçando. Tem a experiência, claro, mas toda vez é a mesma sensação, começando do zero, com frio na barriga.”
De todos os trabalhos, uma lembrança especial: contracenar com a inglesa Helen Mirren (vencedora do Oscar por “A Rainha”) e a americana Anne Bancrofort (a Mrs. Robinson de “A Primeira Noite de um Homem”) em seu primeiro filme em inglês, “Em Roma na Primavera” (2003). “Elas foram incríveis comigo. Na minha experiência os grandes são assim, não precisam provar nada para ninguém.”
Com Hector Babenco, em ‘Carandiru’ (2003) – foto divulgação
O melhor papel
Leonino, Rodrigo Santoro faz 50 anos em agosto. Casado com a atriz Mel Fronckowiak e pai de Nina, de 7 anos, e Cora, de 7 meses, revela que ser pai é o papel mais profundo de sua vida. “É diário, não tem ensaio. Mas é maravilhoso. Você passa a estar na órbita de alguém, não é mais o centro. Não é sobre você. É sobre dar o amor, amar incondicionalmente, e não tem esforço nisso, acontece.”
Com a paternidade, vieram filmes como “A Turma da Mônica” — em que interpreta o Louco, seu personagem favorito dos quadrinhos — e a dublagem de “A Arca de Noé”, que considera um dos seus projetos mais emocionantes. “Sou cinéfilo desde criança. E gostava de ver desenho animado, eu baixava o volume da televisão e ficava dublando. Tenho o vinil de ‘A Arca de Noé’, ganhei dos meus pais. A música ‘Menininha’ me marcou na infância. Quando veio a ‘Arca’, é uma das músicas que canto. E, tirando no violão com a Nina, olhei para ela e entendi. Fiquei emocionado, agora como pai. Esse foi um trabalho que ultrapassou a técnica, mexeu comigo, com a minha infância, e a minha paternidade.”
Além de “O Último Azul”, Rodrigo lança este ano “O Filho de Mil Homens”, de Daniel Rezende, e “Corrida dos Bichos”, de Fernando Meirelles e Ernesto Solis. E já está de olho em novos projetos. “Estou começando a olhar as coisas fora de novo, mas o nascimento da Cora e com a Nina na escola, elas são prioridades para mim. Já viajei muito, fiz muitas coisas. Vou continuar viajando, mas vamos lidando caso a caso.”
Com Walter Salles, em ‘Abril Despedaçado’ (2001) – foto Christian Cravo
O cinema e a família são suas paixões, mas ultimamente ele também anda encantado pelo tênis. Fazer um esportista no cinema, aliás, é um sonho. “Adoraria fazer um jogador de tênis. ‘Heleno’ (2011) não é um filme sobre futebol, é a biografia dele, mas tive aulas com o [jogador] Claudio Adão, que me ensinou a ‘matar no peito’. Eu surfo, amo esporte.”
E como o ator encara a chegada dos 50 anos? Rodrigo Santoro diz que se sente mais maduro. “A maturidade traz mais calma e mais profundidade. O que te preocupava e era visto como um problema, hoje não é mais. Mas não quero perder a vontade de fazer. O Rodriguinho criança, quando está na hora, ele vem! Essa vontade, paixão e estímulo, continuam. Tem muita coisa que não fiz e posso fazer. Isso continua muito vivo dentro de mim”, finaliza.
Com Zack Snyder, em ‘300’ (2006) – foto divulgação
Camaleoa que encarna personagens tão diferentes como a neurótica Vani de “Os Normais” e a ingênua Carula de “A Marvada Carne”, a atriz Fernanda Torres brilha como protagonista de “Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles que foi selecionado para representar o Brasil na corrida por uma vaga no Oscar
Fernanda Torres já disse que vive numa linha fina entre o cult e o popular. A declaração, feita em 1998 no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, faz sentido. Fernanda trilhou um caminho onde o teatro e o cinema tiveram mais relevância em sua carreira do que fazer novelas — gênero que ainda eleva a maioria dos atores e atrizes brasileiros ao status de popstar. Ainda assim, se tornou conhecida do grande público graças a papéis como a neurótica Vani da sitcom “Os Normais” (2001-2003) e a divertida Fátima, da série de TV “Tapas & Beijos” (2011-2015).
Atriz, roteirista, escritora e apresentadora, Fernanda Torres está no centro das atenções da mídia brasileira e internacional — e não seria exagero dizer que com a mesma força de uma protagonista de novela. Seu novo filme, “Ainda Estou Aqui”, vem causando impacto por onde é exibido desde sua estreia mundial, no Festival de Veneza, em setembro. Prêmio de melhor roteiro no festival de cinema mais antigo do mundo, o longa marca o retorno da parceria de Fernanda com o cineasta Walter Salles, que a dirigiu ao lado de Daniela Thomas (que também faz parte da equipe de “Ainda Estou Aqui”) em “Terra Estrangeira”, de 1994. “É um filme sobre uma família feito por uma família de cinema”, comenta Salles.
Fernanda como Eunice, em “Ainda Estou Aqui” – foto Alile Dara Onawale / Divulgação
“Ainda Estou Aqui” é o longa brasileiro mais comentado do ano e um dos mais vistos no mundo. No Rotten Tomatoes, famoso site que reúne críticas internacionais, já chega em 89% de aprovação. Representante nacional a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, vem percorrendo diversos festivais de prestígio – já passou por Toronto, San Sebastian, Biarritz, Pingyao, Zurich, Nova York e Londres; e estreia nos cinemas em todo o Brasil no dia 7 de novembro.
O filme é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva e conta a história de sua família. Na trama, ambientada no Rio de Janeiro de 1970, os Paiva vivem sob a tensão da ditadura militar. Um dia, Rubens, o pai de Marcelo, é levado de casa e nunca mais volta. Cabe a sua mãe, Eunice, cuidar dos cinco filhos e lutar para esclarecer o que aconteceu com seu marido.
Walter Salles era amigo de infância de Marcelo Rubens Paiva e de uma de suas irmãs, Ana Lúcia. O diretor levou sete anos para transformar “Ainda Estou Aqui”, o livro, no filme que hoje faz sucesso mundo afora. O roteiro premiado em Veneza, assinado por Murilo Hauser e Heitor Lorega, foi escrito 15 vezes. E o que mais chama a atenção na história é a forma como Eunice encarou o desaparecimento do marido, o ex-deputado Rubens Paiva: sem drama, ela se tornou advogada de direitos civis aos 48 anos e nunca deixou de lutar para que a morte de Rubens fosse reconhecida. A forma como Fernanda Torres interpreta Eunice é o destaque do filme, o que faz da atriz, aos 59 anos, uma forte candidata na temporada de premiações, podendo repetir o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada ao Oscar de melhor atriz em 1999 por “Central do Brasil”, também de Walter Salles. “A Nanda é uma camaleoa. Ela pode fazer a Vani de biquíni e a Eunice contida, séria”, comenta Marcelo Rubens Paiva.
O reconhecimento pelo desempenho de Fernanda em “Ainda Estou Aqui” já começou: uma das premiações mais relevantes do cinema, o Critics Choice Awards (onde apenas críticos de cinema e televisão podem votar e escolher seus favoritos no ano) a elegeu Melhor Atriz em Filme Internacional na 4ª edição da Celebração do Cinema e da Televisão Latina, em cerimônia realizada em outubro, em Los Angeles, a capital mundial do cinema.
O diretor Walter Salles orienta Fernanda Torres no set de filmagem de “Ainda Estou Aqui” – foto Alile Dara Onawale / Divulgação
“Não é nenhuma loucura dizer que a performance da Nanda nesse filme é uma das melhores do ano, que está lá com a Nicole [Kidman, pelo filme ‘BabyGirl’] e Angelina [Jolie, pelo filme ‘Maria’]. E eu fico feliz por ela”, comenta Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva no filme.
Mesmo com tantos elogios, Fernanda Torres é cautelosa sobre prêmios e indicação ao Oscar. Para ela, que já conquistou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 1986 por sua atuação em “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Arnaldo Jabor, o sucesso de sua interpretação em “Ainda Estou Aqui” se deve exclusivamente à personagem. “É a Eunice. Ela é incrível. Eu fiquei impressionadíssima com ela. Sempre soube que ‘o pai do Marcelo sumiu’ e que ‘foi morto pela ditadura’. Mas isso sempre foi pouco… é como se fosse um headline sem a matéria principal. Até que o Marcelo escreveu esse livro. Ninguém sabia [como era a família Paiva]. Ele escreve um livro e conta não só como o pai dele desapareceu, mas como era a vida deles antes e durante o Golpe de Estado com o Rubens no Congresso [Rubens Paiva foi cassado em 1964], o exílio, a volta, e sobre a descoberta do próprio Marcelo que a grande heroína da família era a mãe dele. Então, se você não sabia muito do Rubens Paiva, da Eunice Paiva você sabia nada, até esse livro aparecer.”
Fernanda conta como veio o convite para interpretar Eunice Paiva: “Fiquei muito surpresa quando o Walter me chamou. Ele me convidou para um almoço e eu achei que ele ia me convocar para escrever algo, um roteiro para ele… Quando ele falou que era para interpretar a Eunice, eu tomei um susto!” Ela destaca ainda que a construção da personagem foi delicada: “Eu me lembro que fui olhar [material sobre a Eunice] e a primeira coisa que pensei é ‘tenho que estar preparada para a primeira leitura, eu não posso ir nem para a primeira leitura sem saber nada sobre Eunice’. Aí eu peguei a Helena Varvaki, que é uma preparadora de atores extraordinária. Durante um mês a gente leu o roteiro… ela foi importantíssima para mim, para fazer todo o filme… aí eu li [o roteiro] e começou um longo processo de todos nós, porque o Walter fez um filme quase como um documentário. Quando entram as fotos reais no fim, você não sente ‘ah esses são os personagens reais’, parece que você viu aquelas pessoas durante todo o filme, é uma coisa estranha!”
Fernanda Torres divide com a mãe o papel de Eunice. Nos minutos finais de “Ainda Estou Aqui”, é Fernanda Montenegro quem aparece como a personagem. Comento que o nome de sua mãe foi aplaudido na sessão de imprensa do Festival de Veneza. Ela sorri e diz que na sessão de gala isso também aconteceu.
Reconstrução de época
O trabalho minucioso de reconstrução de época em “Ainda Estou Aqui” também chama muita atenção. Impossível assistir ao filme e não ficar impressionado com a riqueza de detalhes, que transporta o espectador para dentro da história. Fernanda Torres conta como foi esse processo no dia a dia das filmagens.
A atriz no papel de Eunice Paiva ao lado de Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva – foto Alile Dara Onawale / Divulgação
“Quando assisti ao filme pela primeira vez, pensei ‘nossa, não pareço eu!’ Parecia um documentário! Teve uma loucura porque ensaiamos naquela casa. O [diretor de arte] Carlos Conti colocava cigarro apagado nos cinzeiros. Tudo era real. A Amanda Gabriel, que era preparadora de elenco e trabalhou principalmente o sentido de família, esteve até o fim com a gente. Nós começamos a conviver com as crianças [que interpretam os filhos de Rubens e Eunice] naquela casa, cozinhar, conviver como família. A vitrola que aparece no filme não era apenas uma vitrola. Era uma vitrola que alguém da família trouxe, as coisas tinham cheiro e tinha o processo de repetir todas as fotos minuciosamente. É um trabalho incrível, e o elenco também embarcou nesse universo”, revela.
Até mesmo a forma como o filme foi rodado, segundo Fernanda, fez toda a diferença para sua interpretação. “Começamos a filmar em Super 8. Foi um longo processo minucioso e tem o fato de ser em película. Quando se filma em digital, tem um lado incrível que é poder repetir em cima, sem parar, você pode criar coisas incríveis em digital. Mas em película tem um momento sagrado do take. Porque se você errar, ou alguém errar, vai ter que tirar o rolo, voltar… Então cria-se, e o Walter sempre criou, uma espécie de sacralidade para a cena. Concentração. Isso tudo foi ajudando a gente, a roupa velha, a casa, tudo com vida…”
Como Walter Salles conhecia e frequentou a casa dos Paiva, isso também tornou todo o projeto muito particular, o que fez com que a relação da atriz com o diretor tivesse um outro olhar por parte dela. “Era quase um fetiche do Walter recriar aquela casa. E ele foi tirado daquela casa. Não foi só a família. O desaparecimento do Rubens fechou aquela casa para ele. Aquela foi a casa que abriu para o Walter a Tropicália, o mundo fora da casa dele, que era muito mais rígida. Ele tinha um fetiche de recriar aquilo.”
A ditadura e o mundo atual
Com a ascensão da extrema direita em diversas partes do mundo, a trama de “Ainda Estou Aqui” ganha contornos ainda mais atuais. Se em Veneza os jornalistas italianos viram semelhanças entre o que o filme apresenta e a atual situação política do país, em outras cidades onde já foi exibido, o longa causa a mesma sensação de revisitar um passado que ainda está presente.
“É uma história sobre o presente, sobre as escolhas que a gente está fazendo no presente. É um filme, primeiramente, sobre memória. Porque parece que a gente perdeu [a memória]. Engraçado que a minha mãe fala isso também. Ela fala ‘eu sou do tempo da bomba atômica. Desde a bomba atômica até agora o homem desenvolveu questões como direitos humanos, igualdade, tudo isso veio depois do trauma da bomba atômica’. Mas eu não sei se foi depois das Torres Gêmeas. Não sei quando isso começou a não ser mais importante. E atualmente não se tem mais essa memória. Os direitos humanos parecem que viraram uma perfumaria da esquerda”, analisa Fernanda.
Com os atores mirins que interpretam seus filhos no filme – foto divulgação
Para a atriz, a atual situação do mundo está relacionada à trama de “Ainda Estou Aqui”. “Um filme como esse lembra que você mesmo sendo branco, de elite, pode viver sob uma ditadura militar. A Eunice lembra também o que era a mulher no seu papel de dona de casa. A Eunice representa muitas coisas e, especialmente, o quanto a mulher caminhou. E tudo isso que está sendo jogado como lixo de esquerda, tudo foi distorcido! É um filme que procura relembrar e colocar no lugar de novo o que é o quê, e através do sentimento de uma família com a qual todo mundo pode se identificar.”
Ausência e presença
Eunice Paiva só conseguiu o reconhecimento da morte de seu marido em 1996. “Ainda Estou Aqui”, que começa mostrando a alegria e união dos Paiva, aborda também como a família viveu momentos difíceis até o dia em que o governo reconheceu que Rubens Paiva estava morto. Mas, durante toda a história, Rubens nunca deixou de estar presente. E essa sensação de ausência e presença que o público sente, também fez parte da interpretação de Fernanda Torres.
“Eu fiquei surpresa, sabe, porque o Rubens entra lá no começo [do filme], e depois o Selton some. Para minha tristeza, eu senti fortemente quando ele foi embora. E depois tem um longo filme que a gente tinha que fazer. E aquele filme luminoso lá do início ficou lá. Quando juntou eu fiquei surpresa e impactada de como o Rubens é presente no filme. Ele não é algo que ficou no passado. Você sente a falta dele como a Eunice sente, como os filhos sentem. Isso aconteceu, ele não é um coadjuvante. O Rubens é protagonista com a Eunice. Isso é uma coisa bonita. Ele continua presente.”
foto Alile Dara Onawale / Divulgação
A parceria com Selton Mello é elogiada por ela, que não perde a oportunidade de terminar a entrevista brincando com o tempo de filmagem que eles tiveram neste que é o primeiro filme original Globoplay, com distribuição internacional da Sony Pictures. “Selton tem um excelente papel. Ele trabalhou apenas poucos meses, e eu ainda estava lá”, conclui, aos risos.
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