Produção artesanal de saquê no país tem investido na adaptação da bebida ao paladar local e ao clima tropical
Com consumo em alta no Brasil, o saquê conserva tradições ao mesmo tempo que encontra novos mercados e públicos
Com sabores que variam de leves e delicados a robustos e complexos, o saquê é uma bebida alcoólica milenar japonesa feita a partir da fermentação do arroz. Mais do que um símbolo da cultura, representa um legado de tradição e respeito aos ingredientes locais cultivados ao longo dos séculos.
Hoje, existem mais de 1.600 fabricantes de saquê no Japão, que oferecem mais de 40 mil variedades de rótulos. Historicamente, a produção era dominada por homens e essa exclusividade era justificada como uma forma de “proteger” as mulheres do trabalho árduo, o que, na verdade, refletia preconceitos e desigualdades de gênero.
Ainda com poucas produtoras femininas, as mulheres estão quebrando barreiras e introduzindo inovações, conquistando espaço e respeito na indústria, especialmente na última década. A japonesa Nanami Watanabe, por exemplo, é uma das mais jovens mestras na produção de saquê e se destaca com rótulos como o Hakurakusei Junmai Guinjo, que apresenta um equilíbrio entre notas frutadas e acidez cítrica.
E escolher um bom saquê requer atenção aos detalhes do rótulo. Um dos principais indicadores de qualidade é o grau de polimento do arroz, conhecido como seimaibuai. Esse termo se refere à quantidade de arroz que permanece após o polimento, que remove as camadas externas dos grãos para deixar apenas o núcleo de amido. Quanto menor o seimaibuai, mais refinada é a bebida – resultando em sabores mais complexos e sutis.
Outro ponto importante é o processo de fermentação. Saquês classificados como junmai não recebem adição de álcool destilado após a fermentação, o que preserva o sabor puro e o umami da bebida. Métodos tradicionais de fermentação natural, como o kimoto e o yamahai, trazem uma acidez mais acentuada.
O consumo de saquê no Brasil tem aumentado significativamente, impulsionado pela popularidade da culinária japonesa e o interesse por bebidas diferenciadas. A produção artesanal no país tem investido na adaptação da bebida ao paladar local e ao clima tropical. Entre os destaques está o Sakê Tomoe, considerado o primeiro craft saquê brasileiro, criado em homenagem a Tomoe Gozen, uma lendária samurai mulher.
Essas iniciativas mostram não apenas o crescimento do mercado brasileiro, mas também uma mudança na produção de saquê em todo o mundo, em que as mulheres começam a desempenhar papéis cruciais, trazendo novas abordagens e perspectivas para uma bebida muito marcada pela tradição.
*Jade Mayworm é saquê sommelière e responsável pelas cartas de saquês e chás do restaurante Elena, no Jardim Botânico, no Rio.
Comentários