Jurado do “MasterChef”, Henrique Fogaça cria o Instituto Olívia para facilitar o acesso ao canabidiol a famílias que precisam do medicamento

Jurado do “MasterChef”, Henrique Fogaça cria o Instituto Olívia para facilitar o acesso ao canabidiol a famílias que precisam do medicamento

Nascido e criado no interior de São Paulo, Henrique Fogaça fala de sua participação no “MasterChef” e da criação de um Instituto para facilitar o acesso ao canabidiol – substância que melhora a qualidade de vida de quem sofre com a epilepsia

Nacionalmente conhecido como jurado do “MasterChef”, Henrique Fogaça é mais do que apenas um chef nervosão. Longe das câmeras, é bem mais “relax”. Sua energia, em vez de ser dissipada em gritos ou rosnadas, é direcionada para o trabalho. Ele é o coração de uma “máquina” composta por uma dezena de estabelecimentos que servem milhares de refeições a cada mês, que envolve centenas de funcionários e que movimenta milhões de reais.

E o meninão de 47 anos, 1,78 m de altura e 88 kg ainda encontra tempo para passear com sua possante moto Triumph, para soltar a voz à frente da banda de hard core Oitão, para escrever um livro (ele acaba de lançar “O Mundo do Sal”, com receitas e a história desse milenar condimento), para andar de skate, para fazer mais uma tattoo e para relaxar com sua mulher, a engenheira química Carine, e curtir seus três filhos.

 

Fogaça - Foto reprodução Instagram

Fogaça – Foto reprodução Instagram

 

A propósito, foi buscando um tratamento para a adolescente Olívia, que sofre com uma síndrome rara, que o chef conheceu o CBD, um óleo com propriedades medicinais extraído das folhas da mesma planta que dá origem às flores de maconha. Os progressos de sua filha são tão espantosos que agora Fogaça resolveu fazer de tudo para facilitar o acesso dessa substância a outras pessoas com problemas semelhantes. Está até criando um instituto para cuidar disso!

Nesta entrevista à 29HORAS, ele fala mais desse instituto, do reality gastronômico e dos planos de trazer para São Paulo o Sal Grosso, sua casa de carnes que, no momento, tem apenas uma unidade, no Rio de Janeiro. Veja a seguir os principais trechos dessa conversa:

 

Henrique Fogaça - Foto Rodrigo Marques

Henrique Fogaça – Foto Rodrigo Marques

 

Como foi passar a infância em Piracicaba e a adolescência em Ribeirão Preto?
Morei em Piracicaba até os meus 8 anos e até hoje tenho ótimas recordações de lá. Aprendi a andar de bicicleta na Faculdade de Agronomia da USP e brinquei muito na Rua do Porto – nas margens do Rio Piracicaba. Vivia como um bicho solto. Depois minha família se mudou para Ribeirão, onde comecei a andar de skate, tocar bateria e ouvir rock, punk e hard core. Eu era um cara muito inquieto.

 

E quando você foi para São Paulo?
Vim para fazer Faculdade de Arquitetura e, paralelamente, fazia uns bicos. Durante anos, trabalhei num banco! A gastronomia entrou na minha vida por acaso. Cansado de comidas prontas, eu liguei para a minha mãe e para a minha avó para pedir umas receitas, comecei a cozinhar em casa e meus amigos foram me incentivando a ir mais fundo nesse negócio. Fiz uns cursos e um dia montei um food truck, ou melhor, uma Kombi que se chamava Rei das Ruas. Por causa do sucesso desse ‘empreendimento’, fui chamado para comandar uma cafeteria que funcionaria em anexo à Galeria Vermelho, no Pacaembu. Foi assim que nasceu o Sal. Inicialmente, era para ser só um café, com apenas 16 lugares, mas aos poucos foi mudando sua proposta e acabou se consolidando como um restaurante.

 

Foto Rodrigo Marques

Foto Rodrigo Marques

 

 

E aí veio o MasterChef, que mudou a sua vida, não foi?
É, mas não foi assim tão rápido. O Sal começou em 2005, e o “MasterChef” só veio em 2014. Quando me chamaram para conversar e fazer uns testes na Band, eu já era um chef com vários prêmios, já tinha um certo destaque na mídia, figurava no Guia Michelin como Bib Gourmand. Eu fui o primeiro dos três jurados a ser contratado. Depois que eu já havia assinado é que foram chamados o Jacquin e a Paola. Me consultaram para saber se eu teria alguma restrição a esses dois nomes, e eu disse que não tinha nenhuma, muito pelo contrário. Nós três tínhamos personalidades muito complementares.

 

O chef Fogaça ao lado de Erick Jacquin, Ana Paula Padrão e Helena Rizzo, no MasterChef Brasil - foto Rodrigo Moraes

O chef Fogaça ao lado de Erick Jacquin, Ana Paula Padrão e Helena Rizzo, no MasterChef Brasil – foto Rodrigo Moraes

 

Você é o que grita, esbraveja, mas é também o mais querido por muitos telespectadores, que te acham o jurado mais doce. Como você define o seu personagem no programa?
Não é um personagem, eu sou assim mesmo. Minha voz intimida e eu gosto de usá-la para assustar, mas também para motivar e para manter o pessoal focado e alerta. Na minha opinião, eu sou o mais bonzinho dos jurados e o Jacquin é o mais bravo – ele pega muito mais pesado do que eu com os participantes do programa.

 

No Sal, você é o malvado favorito da sua brigada?
No restaurante é mais ou menos a mesma coisa. Eu me considero um bom chefe, um líder justo, mas às vezes tenho que dar uma estressada na galera, porque é um desafio muito grande manter o padrão, fazer o prato dezenas ou centenas de vezes com o mesmo capricho e excelência. Na cozinha existe muita amizade e cooperação, mas tem também hierarquia.

 

Em casa, você é bonzinho ou mandão?
Sou a mesma coisa em todo lugar. Na verdade, sou um cão véio, que só rosna, mas não costuma atacar. Só mordo quando alguém vacila.

 

Henrique Fogaça – Foto reprodução Instagram

 

A propósito, você é um pai muito dedicado, pelo que vemos no seu instagram, sempre junto de seus filhos Olívia, João e Maria Leticia. A Olívia está progredindo com o uso do canabidiol (CBD)?
Ela não tem um diagnóstico claro. Logo que ela nasceu, a gente visitou especialistas de todas as áreas da medicina, mas ninguém nunca conseguiu dar um diagnóstico completo. Antes de começar a usar o CBD, ela passou por exames com um médico do hospital Albert Einstein. Ela sofria, em média, vinte convulsões diárias. Atualmente, tem dias em que ela não tem convulsão nenhuma, nada. A expressão dela mudou. O canabidiol está trazendo a percepção do mundo para minha filha!

 

Você se tornou um entusiasta desse remédio. Já pensou em criar pratos ou bolos com essa substância, para proporcionar bem-estar a mais gente?
Já fiz vários testes – em doces, biscoitos e omeletes –, mas neste momento não posso nem pensar em lançar produtos com o CBD porque esta é uma substância cara e de uso muito restrito, por ser extraída da planta da maconha.

Baseado na evolução e na alegria que proporcionamos à Olívia, acho que é importantíssimo que o acesso a esse óleo seja facilitado. Imagine a felicidade e o bem-estar que outras crianças e adultos podem alcançar graças a esse poderoso medicamento! É por isso que estou criando junto com alguns médicos, farmacêuticos e advogados especialistas nesse tema um instituto, para baratear, expandir e agilizar o acesso ao CBD.

 

Henrique Fogaça com sua filha, Olívia - Foto reprodução Instagram

Henrique Fogaça com sua filha, Olívia – Foto reprodução Instagram

 

Que bacana! Fale mais para a gente sobre esse instituto.
A entidade terá como objetivo levar a mais e mais pessoas os benefícios desse medicamento. A ideia é destravar a importação, criar um caminho jurídico menos burocrático para mais famílias terem acesso ao CBD, incentivar a pesquisa científica aqui no Brasil para conhecer melhor esse óleo e, mais para frente, termos um cultivo próprio. A minha missão nesse mundo é ajudar outras pessoas que sofrem em silêncio, como a Olívia sofria, a encontrar um conforto, um alívio, um caminho para a cura. Deus me escolheu como instrumento para fazer isso pela minha filha e por essas outras crianças e adultos. E eu aceitei essa missão com todo o prazer!

 

Voltando à gastronomia, como vai o Sal aqui do Cidade Jardim?
Vai muito bem. Estamos aqui no shopping desde 2017, e atualmente atendemos cerca de 13 mil pessoas por mês. Os carros-chefes da casa são o cupim na manteiga de garrafa com mandioca cozida e farofa de banana, o lombo de cordeiro com aligot e molho de jabuticaba, o magret de pato no vinho do porto com purê de mandioquinha e o peixe com moqueca de banana e farofa de coentro.

 

Salão do Sal Gastronomia - Foto reprodução Instagram

Salão do Sal Gastronomia – Foto reprodução Instagram

 

E os seus outros bares e restaurantes, sobreviveram bem à pandemia?
O Jamile segue firme. Num dos períodos mais rigorosos da quarentena, lançou a campanha Marmita do Bem, que ofereceu milhares de refeições gratuitas a moradores de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade lá mesmo na região do Bixiga. Já os pubs da marca Cão Véio continuam em franca expansão. Já são seis unidades – cinco franquias e uma só que é minha, a ‘matriz’ de Pinheiros. Já a steakhouse Sal Grosso, que nasceu no Rio, com uma unidade no BarraShopping, está encerrando suas operações por lá. Mas vamos trazer esse formato para São Paulo.

 

Pode adiantar para o leitor de São Paulo alguns detalhes dessa novidade?
Só posso dizer que, se tudo correr bem, ainda este ano inauguraremos o primeiro endereço dessa marca aqui na cidade. A ideia é montar um formato que possa ser replicado em outras localidades. Queremos repetir o que aconteceu com o Cão Veio, que já tem unidades em Brasília, Curitiba e Goiânia.

 

Henrique Fogaça - Foto reprodução Instagram

Henrique Fogaça – Foto reprodução Instagram

 

Por fim, você já ouviu críticas como as que eram feitas ao João Gordo, que é acusado pela galera punk de ser um “traidor do movimento”? No seu caso, essa turma punk não pega no seu pé por ser vocalista de uma banda de hard core de noite e, durante o dia, servir pratos gourmet para a “burguesada” de um shopping elitista?
Já ouvi muita bobagem desse tipo. Considero uma hipocrisia vinda de gente frustrada e invejosa. Eu sou um anarco-capitalista assumido. Odeio a política e essas leis que tentam controlar a nossa vida e limitar a nossa liberdade. Trabalho dentro das regras, pago as minhas contas e meus restaurantes ainda geram cerca de 350 empregos diretos. Eu não ligo a mínima para o que essas pessoas falam de mim. O que mais me chateia é dizerem que eu ofereço pratos ‘gourmet’.

 

Por que isso é que mais te aborrece?
Sou um chef anti-gourmetização. Para mim, comida tem que ser saborosa, tem de satisfazer, tem de ser farta, não pode ser um artigo de luxo. O ato de comer é algo primitivo, ligado a coisas básicas como a sobrevivência e o prazer. Pode ver no “MasterChef” – lá eu não canso de repetir: “Menos é mais”. Simplicidade é tudo! De certa forma, é por isso que eu adotei a caveira na nossa logomarca. Ela é algo que representa o básico, o essencial, o que há por baixo da nossa pele, e ela é praticamente igual para todos – independentemente de cor, do credo ou da classe social.

 

Foto reprodução Instagram

Foto reprodução Instagram

 

Uma das promoters mais requisitadas do Brasil, Carol Sampaio diversifica seu trabalho e abre agência digital

Uma das promoters mais requisitadas do Brasil, Carol Sampaio diversifica seu trabalho e abre agência digital

Conhecida por ser uma carioca, flamenguista e carnavalesca de corpo e alma, a empresária Carol Sampaio abraça oportunidades no digital e foca em uma rotina saudável para seguir trabalhando muito

Quem vê festa pronta não vê ralação. Ou melhor, quem vê post glamuroso não vê labuta. Essas são frases que definem a rotina de Carol Sampaio. Uma das promoters mais requisitadas do Brasil e responsável pelas listas de famosos em eventos como Rock in Rio, Lollapalooza e por camarotes na Marquês de Sapucaí, Carol também está à frente da festa mais carioca do país, o Baile da Favorita – que lança e impulsiona grandes nomes do funk nacional, como as cantoras Ludmilla e Anitta, e há 10 anos transforma a relação de marcas e da sociedade com o ritmo que é a cara do Rio de Janeiro. Tudo é fruto de muito trabalho, que vai do networking, do marketing a toda produção – consolidados na CS Eventos, que traduz o olhar atento e sensível da empresária para a Cidade Maravilhosa.

“Gosto dessa diversidade e da mistura. Estamos todos na mesma praia! Temos a mesma cidade para curtir, e o samba e o funk são elementos culturais muito representativos desse lifestyle que tanto amo”, define. Hoje, Carol não é “apenas” PR, seu trabalho se desdobrou e desmembrou na supervisão de diferentes setores de sua empresa. “Ainda sou promoter, mas a CS também cuida do cerimonial, do marketing, assim que recebemos um evento, nos dividimos para entender o que o cliente quer atingir”. Além das festas icônicas que marcam o Rio, a empresa atende casamentos, aniversários e organiza encontros corporativos.

No meio dessa multiplicidade toda, há quatro anos ela também abriu a Stage Digital – agência que conecta marcas a celebridades e influenciadores. Durante a pandemia, a paralisação dos eventos foi compensada pela demanda de trabalho da Stage, que viu crescer suas operações em quase 100% em um ano. Como inovação é sempre bem-vinda, a agência foi a primeira a trazer lives de vendas ao país. “Eu abraço oportunidades, não limito a minha carreira.”

E foi mesmo preciso resiliência para enfrentar as restrições impostas à realização de eventos durante muitos meses entre 2020 e 2021. “Foi muito desafiador, todo o setor precisou se ajudar, é preciso entender que há muita gente envolvida, não tivemos para onde ir. A princípio o online funcionou, mas agora é necessário tirar forças e encontrar caminhos para eventos seguros. Entretenimento é um trabalho, não é inimigo.”

 

FOTO REPRODUÇÃO INSTAGRAM

FOTO REPRODUÇÃO INSTAGRAM

 

Foliã desde pequena

Hoje com 38 anos, Carol desfila na Sapucaí desde os 13. “A Grande Rio é a escola de samba do meu coração e foi no Sambódromo que comecei a trabalhar com eventos, organizei o primeiro camarote, depois fui convidada para estar à frente de outros, foi um grande boom na minha vida.”

Duas mulheres foram fonte de inspiração para o trabalho da empresária – as promoters Alicinha Calvacante e Fernanda Barbosa. “Mas hoje o que mais me estimula é ver tantas mulheres trabalhando em agências e nas produções, o que era incomum até há pouco tempo. As garotas estão tomando à frente e percebo que também inspiro, recebo esse impacto do meu trabalho!”

 

Foto divulgação

Foto divulgação

 

Apaixonada pelo Rio de Janeiro, os eventos com assinatura Carol Sampaio carregam o amor ao Carnaval e à cidade. “Luto pelo Rio de Janeiro e valorizo a cidade em tudo o que eu faço”, resume. É, principalmente, esse o trabalho que coloca a empresária em destaque: ela é quem seleciona quem aparece nos camarotes e áreas exclusivas de eventos gigantes que acontecem e já aconteceram no Brasil, como Rock in Rio, Copa do Mundo, Carnaval e Olimpíadas. “Fazer parte da realização da Copa foi muito especial, sou apaixonada por futebol, mesmo com o 7×1, valeu muito a pena!”

A disposição para conhecer tantos lugares e estar entre tantas pessoas veio da inquietude de sempre. Na escola, Carol adorava esportes. Praticava vôlei, luta, futebol. “Fui para a faculdade ainda querendo ser atleta, e o destino me fez festeira, mas não queria ser festeira, queria ter escritório, queria ter equipe”, lembra.

 

Carol Sampaio em Montevidéu, no jogo do Flamengo - Foto divulgação

Carol Sampaio em Montevidéu, no jogo do Flamengo – Foto divulgação

 

Negócios carnavalescos

O cancelamento do Carnaval de 2021 teve grande impacto na cadeia produtiva do setor de eventos do país. Pelo menos R$ 8 bilhões deixaram de circular na economia brasileira no ano passado, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). E cerca de 25 mil empregos temporários deixaram de ser criados em janeiro e fevereiro do ano passado.

A empresária é sócia em um dos camarotes mais badalados da Marquês de Sapucaí, o Nosso Camarote. O line-up de 2022 já inclui os cantores Luan Santana, Pocah, Anitta e Ludmilla. “Estamos a todo vapor para organizar as festas deste ano, é possível fazer os eventos na Sapucaí com passaporte de vacina e ampliação da testagem, é um caminho intermediário. Ainda não há segurança para blocos na rua, mas podemos preservar a realização dos desfiles”, enxerga. Carol reforça ainda que muitas famílias esperam por esse momento para trabalhar. “Geramos empregos e isso é muito importante.”

 

Carol ao lado dos cantores Ludmilla e MC Marcinho, no Baile da Favorita de 2018 - Foto divulgação

Carol ao lado dos cantores Ludmilla e MC Marcinho, no Baile da Favorita de 2018 – Foto divulgação

 

Pé no chão

Quem acompanha Carol Sampaio nas redes sociais supõe que ela não troca as festas por nada. Mas, em momentos de lazer, a empresária faz o oposto que a maioria e escolhe o descanso. “Gosto de ficar em casa com minhas amigas, adoramos uma jogatina, e amo ver Netflix e tomar vinho com meu namorado (o chef Frederico Xavier Rocha), ele sempre faz os melhores pratos, hoje mesmo fez risotto de funghi delicioso.”

Para aguentar o ritmo intenso de trabalho e dos eventos, o segredo é, sem dúvidas, o equilíbrio. Tomar água de coco no Arpoador, correr na praia, dar uma volta na Lagoa, pedalar e malhar são atividades que fazem parte da rotina de Carol, e das quais ela não abre mão. “Nunca bebi durante as festas que organizo, enquanto os outros festejam, estou trabalhando. É preciso ter pé no chão, porque a agenda é cheia, as demandas não param e já não tenho a mesma energia de quando era mais nova. O conselho sempre é estar centrada.”

 

Carol Sampaio em Fernando de Noronha - Foto divulgação

Carol Sampaio em Fernando de Noronha – Foto divulgação

 

De Elis Regina à Lara de “Um Lugar Ao Sol”, Andréia Horta empresta sua voz e seu corpo a personagens complexas, potentes e genuinamente brasileiras

De Elis Regina à Lara de “Um Lugar Ao Sol”, Andréia Horta empresta sua voz e seu corpo a personagens complexas, potentes e genuinamente brasileiras

Com várias produções biográficas no currículo, a atriz e apresentadora mineira Andréia Horta agora se prepara para dar vida à mãe da dupla Chitãozinho e Xororó em nova série da Globoplay

Para dar vida às suas personagens, Andréia Horta recorre ao silêncio e à escuta. “Eu me calo para ouvir com clareza o que aquela história quer gritar”, explica. Depois, de ouvinte, se faz intérprete. Compartilha sua voz e seu corpo com outro alguém e, através de si, o permite que fale, cante e brade por liberdade. A imersão nesses universos particulares é também um mergulho solitário em si mesma.

Foi seguindo esse método que a atriz construiu Lara, sua mais recente personagem e a heroína da novela global “Um Lugar Ao Sol” – uma gastrônoma que parte de Minas Gerais para o Rio de Janeiro na tentativa de abrir seu próprio restaurante. Antes desse sonho se concretizar, ela vende quitutes nas ruas da metrópole. “O silêncio do estudo me trouxe memórias do início da minha carreira, de quando eu mesma, vinda de Juiz de Fora, fazia e vendia bolo de laranja, torta de carne moída e até poesia nas ruas paulistanas para custear meu sonho de ser atriz.”

 

A atriz em cena na novela “Império” ao lado do ator Alexandre Nero | Foto Alex Carvalho | Globo

 

Andréia já foi muitas. Viveu a revolução na pele, como Joaquina, a filha de Tiradentes na minissérie “Liberdade, Liberdade” (2016); foi filha de comendador em “Império” (2015); denunciou os horrores das internações psiquiátricas no extinto manicômio de Barbacena, na série “Colônia” (2021); e cantou a revolta contra a ditadura militar como Elis Regina, no cinema – papel que lhe rendeu, inclusive, indicação ao Emmy e um Kikito no Festival de Cinema de Gramado.

Em 2022, prestes a completar 39 anos de idade e 22 de carreira, ela se prepara para ampliar a coleção de biografias vividas. Vai encarnar dona Araci, a mãe de Chitãozinho e Xororó, na série “As Aventuras de José e Durval”, que deve chegar ao Globoplay nos próximos meses.

Em entrevista à 29HORAS, a atriz comentou seus trabalhos mais recentes, celebrou os ecos da obra de Elis em sua vida e refletiu sobre o papel transformador da arte. Confira os principais trechos dessa conversa.

 

Foto – Fotógrafo: Marcus Leoni @marcusleonii | Diretora de arte: Renata Willig @renata_willig | Make/Hair: Cristian Dalle @cristian.dalle | Stylist: Yakini Rodrigues @yakini_kiki

 

 

 

A Lara, de “Um Lugar Ao Sol”, é mineira como você. Interpretá-la é um retorno às suas origens?
Sem dúvida. Embora tenhamos ambições diferentes, nós compartilhamos uma alma muito próxima. Um frescor que vem da nossa origem e extravasa no nosso jeito de falar. Foi uma experiência muito acolhedora e feliz poder compor essa personagem a partir da musicalidade primeira da minha vida, que é o sotaque mineiro. A Lara fala como a Andreia, ri as mesmas gargalhadas e tem uma simplicidade que encanta.

 

Assim como a Lara se aventurou pela metrópole, de Juiz de Fora você veio para São Paulo estudar teatro e, antes de se firmar como atriz, chegou a improvisar como “empreendedora das ruas”. Vendeu bolo, torta e até poesia. Como foi esse período? Quais são as suas principais memórias dessa época?
Foi um momento muito duro financeiramente, mas ainda assim, um dos mais férteis para o meu desenvolvimento artístico. As ruas foram um super laboratório. Vivi momentos de intenso contato humano, estava sempre cercada de gente, e elas viraram parte do meu estudo cênico. Essa experiência também me ensinou muito sobre a necessidade de se acreditar no trabalho que se faz. Eu sempre amei escrever e rabiscava versos há um tempo, mas levar às ruas o meu livro, escrito a próprio punho, me fez mais corajosa com relação a minha arte e mais inspirada a produzir.

 

Andréia Horta como Lara, ao lado da atriz Marieta Severo - Foto Fábio Rocha | Globo

Andréia Horta como Lara, ao lado da atriz Marieta Severo – Foto Fábio Rocha | Globo

 

Você chegou a declarar em entrevistas que a Lara é um desafio diferente, em comparação às personagens que estava acostumada a viver. O que ela traz de novo?
É uma personagem difícil porque combina potência e ingenuidade de uma forma muito ímpar. Ela é uma mulher firme e com muita consciência do que deseja para si, mas, ao mesmo tempo, está atravessada pelo amor que sente e se deixa levar a conflitos éticos que a afastam de seu senso de justiça e honra, muito fortes. Ela é cheia de saudade e mistério, mas muito límpida e simples. É um equilíbrio delicado. Entender essa tônica e construí-la em todas as suas nuances foi desafiador.

 

Seja vivendo Lara, Joaquina ou Elis, sua carreira é marcada por personagens mulheres, fortes, potentes e (por que não?) empoderadas. Qual é o papel da arte na construção e desconstrução do feminino?
Bertold Brecht disse uma vez que “a arte serve para denunciar o velho e anunciar o novo”. Quando estamos em um set ou em um palco, diante de um personagem, assumindo seu lugar, estamos também assinando aquela mensagem, nos posicionando perante o mundo. E é crucial nos posicionarmos avessos a qualquer possibilidade de seguir perpetuando a narrativa da mulher insegura, histérica e submissa. Esse tipo de representação, mais que ultrapassada, é irreal e nos limita. A arte, com todo o seu alcance, pode apontar novos caminhos, em direção a um mundo mais justo e, enquanto artista, fico muito feliz de estar nessa posição e poder dar vida a mulheres de todas as faces e interiores.

 

FOTO GLOBO | SERGIO ZALIS

FOTO GLOBO | SERGIO ZALIS

 

 

Você também está acostumada a encarnar papéis com altíssimo teor dramático, a exemplo da prostituta Valeska, que é internada no Manicômio de Barbacena, na série “Colônia”. Como manter o equilíbrio emocional em trabalhos deste teor, sobretudo em um momento difícil como o que estamos passando desde 2020?
Meu exercício de vida é entender, todos os dias, que esse é o meu ofício, e parte dele consiste em fluir por energias distintas da minha e carregar pesos que, na maioria das vezes, nunca foram meus. Eu busco sempre situar e delimitar muito bem a vivência da personagem e dissociá-la da minha. Assim, quando é necessário me retirar dela, faço isso com a clara consciência de que aquela dor não segue comigo.

 

Aliás, o que fez durante esses dois anos de pandemia para se manter centrada e em sintonia consigo mesma?
Eu estudei muito, principalmente literatura. Li Machado de Assis, Clarice Lispector, Hannah Arendt, Dostoiévski. Foi visceral. Também fiz a energia criativa circular em novos projetos. Um deles, de que me orgulho muito, é o “Cara Palavra”, uma peça desenvolvida 100% à distância, no formato de um “diário de quarentena”, que ficou em cartaz em transmissões virtuais no final de 2020. Éramos eu na minha casa no Rio de Janeiro, Débora Falabella em um palco de teatro, Bianca Comparato em Los Angeles e Mariana Ximenes em São Paulo dividindo com a plateia nossas angústias e descobertas no isolamento. Transformar essas incertezas em arte nos ajudou a ficar de pé.

 

Em 2022, o Brasil completa 40 anos sem Elis, personalidade que você já viveu duas vezes, no cinema e no streaming. O que Elis representa hoje para você? Como você situa essa mulher na sua e na história do nssso país?
Elis ecoa em mim desde muito antes de eu ser convidada a vivê-la no cinema. Eu a escuto desde muito nova e mergulho nela desde então, imergindo em entrevistas, artigos, vídeos, documentos pessoais. Ela foi uma mestra na minha vida e me fascina com a sua coragem de ser o que era. Elis deixa para o Brasil uma obra colossal, um legado de perfeição técnica e uma habilidade própria de ser clara e incisiva nas mensagens que cantava. Eu bebi muito dessa fonte, e o país também. Ela é uma de nossas maiores vozes, que se elevou por nós em um momento tão agudo da nossa história, durante o qual se posicionou e se manteve indignada até o fim.

 

Andréia no papel de Elis Regina - Foto André e Carioba

Andréia no papel de Elis Regina – Foto André e Carioba

 

O que, durante o processo de imersão e estudo de Elis, mais te marcou?
A relação dela com o canto. Elis dizia que cantar é um ato que se comete absolutamente sozinho, e ela adorava isso. Naquele momento em que estava dentro de uma canção, ela estava também viajando por dentro de si, e toda essa verdade visceral nos atingia como público. Também me fascinou a maneira como ela sabia escrever cartas de amor para as pessoas que amava. Ela tinha um lirismo tão potente, que emociona tanto quanto sua música. No fundo, acho que tudo nela me marcou.

 

Este ano você se prepara para viver outra biografia, agora na pele de dona Araci, mãe da dupla Chitãozinho e Xororó. É mais difícil encarar um personagem real?
Não sei se é mais difícil, mas é diferente. Para dar vida a alguém que já existiu, temos acesso a registros e relatos que nos oferecem todas as nuances que uma existência pode ter. Mas isso não impede nosso exercício de criação. Aliás, nessa série, eu não me ocupei em perseguir e reproduzir à risca o modo como a Dona Araci falava ou se movimentava. Recorri à imaginação. Imaginei o que uma figura materna representaria naquela história e construí essa persona a partir desse estalo.

 

E o que ela representa?
Força. Dona Araci teve oito filhos, driblou a fome e a falta de amparo com amor e delicadeza. Ela representa a maternidade em sua mais pura essência.

 

Andréia Horta no cenário do programa "O País do Cinema", do Canal Brasil - foto Ana Paula Amorim | Canal Brasil | divulgação

Andréia Horta no cenário do programa “O País do Cinema”, do Canal Brasil – foto Ana Paula Amorim | Canal Brasil | divulgação

 

Você também é a apresentadora do programa “O País do Cinema”, no Canal Brasil. Hoje esse título chega a ser quase irônico… Como você avalia o atual momento do cinema brasileiro?
Mais do que irônico, é trágico. Presenciamos um desmonte brutal da nossa Cultura que, apesar de não receber incentivos, é o que nós temos de mais rico. Antes de ser atacado, o cinema nacional vivia um período de efervescência, em todos os gêneros, da comédia ao terror. Com esses cortes, fica claro o esforço que o governo faz para atrapalhar os artistas e impedir que eles coloquem seus depoimentos e denúncias no mundo.

 

Há saída?
Com certeza, e ela depende de nós e da nossa luta. Toda sociedade precisa de seus artistas, pensando o mundo à frente e mostrando ao ser humano o próprio ser humano. Nosso trabalho é muito importante e esses caras sabem disso, é por isso que tentam destruí-lo. Mas não vão conseguir. Somos muito mais numerosos, temos coração e estamos vivos. Um dia, até essa treva em que nos encontramos, nas nossas mãos, há de virar arte.

 

Marmota Brewery inaugura na Lapa (RJ) um taproom onde serve suas cervejas e chopes artesanais

Marmota Brewery inaugura na Lapa (RJ) um taproom onde serve suas cervejas e chopes artesanais

O Marmota Brewery é o novo brewpub carioca, com cervejas em garrafa, torneiras que vertem mais de 12 opções de chopes artesanais, e um cardápio de sanduíches e porções para aplacar a fome. Instalado em um imóvel amplo, tem um salão com grafites coloridos e paredes altas, e um espaço onde funciona a cervejaria comandada pelo químico Mateus de Souza. Ele acompanha todos os processos: a malteação, a brassagem, a filtragem, a fervura, o resfriamento, a fermentação, a maturação e a dry-hopping (adição de lúpulo).

 

Foto divulgação - Chopes e cervejas Marmota

Foto divulgação

 

A fábrica tem capacidade para produzir cinco mil litros por mês de cervejas de alta qualidade e muito sabor, inspiradas em consagrados rótulos belgas, russos, norte-americanos, alemães e ingleses, mas com um toque carioca. Entre os carros-chefes da marca estão a Hop Bomber (Indian Pale Ale), a 2021 (Russian Imperial Stout) e a Lab#03 (Witbier).

Se a fome bater, peça o hambúrguer da casa, feito com 180 g de alcatra moída com bacon, queijo meia cura, crispy de cebola e aioli de mostarda Dijon no pão brioche.

Marmota Brewery & Taproom
Rua do Rezende, 38, Lapa, Rio de Janeiro, tel. 21 99679-0467.

Saiba mais informações sobre o local em:
Facebook – https://www.facebook.com/marmotabrewery
Instagram – https://www.instagram.com/marmotabrewery/
contato@marmotabrewery.com.br

Novo espaço cultural de Portugal, World of Wine Porto (WOW) tem museus, restaurantes, bares, lojas temáticas e uma escola de vinho

Novo espaço cultural de Portugal, World of Wine Porto (WOW) tem museus, restaurantes, bares, lojas temáticas e uma escola de vinho

As ruas da região do Porto levam a experiências sensoriais únicas. Espelhados por edificações antigas estão restaurantes, cafés, bares e adegas que abrigam o melhor de Portugal: a sua deliciosa gastronomia. Agora é possível encontrar uma seleção de incríveis harmonizações e sensações em um novo quarteirão cultural e turístico em pleno coração do centro histórico de Vila Nova de Gaia, na cidade d’O Porto, na região Norte de Portugal.

O World of Wine Porto (WOW) é constituído por seis experiências e nove restaurantes, bares e cafés. Inclui ainda uma escola de vinho, lojas, um espaço para exposições e outro para eventos. Está situado na margem sul do rio Douro e tem uma linda vista da Ribeira e da Ponte D. Luís I. O lugar ergue-se a partir da restauração e requalificação de antigas caves de vinho do Porto, que ganharam uma nova vida.

 

Vista do World of Wine Porto para a Ponte D. Luís I - Foto divulgação

Vista do World of Wine Porto para a Ponte D. Luís I – Foto divulgação

 

Um dos destaques do local é a The Chocolate Story, um museu que pretende explicar de onde vem e como é feita essa delícia que atravessa paladares e gerações. Desde as plantações do cacau até os processos de fabricação do chocolate, tudo é demonstrado passo a passo, em doze etapas diferentes. O visitante entende o chocolate de uma forma transversal e explora as particularidades do fruto e da planta, as suas diferenças e especificações.

Para apaixonados por vinho, a Escola de Vinho do WOW oferece cursos sobre a bebida para todos os graus de interesse e de conhecimento. Com três salas de formação, duas com sala de provas e outra com cozinha, o local é ideal para aprender tudo sobre o vinho português: como saber diferenciar e escolher um vinho, e dicas de como harmonizá-lo com pratos e petiscos.

 

Degustação na Escola de Vinho - foto divulgação

Degustação na Escola de Vinho – foto divulgação

 

O quarteirão em Vila Nova de Gaia abriga ainda restaurantes para diferentes gostos. O 1828 se destaca pelos pratos de gastronomia fina e que mudam de acordo com as estações do ano. O menu evidencia o chocolate nas sobremesas, que harmonizam perfeitamente com Vinhos do Porto. Quanto ao nome, é o mote para nunca esquecer as adversidades ultrapassadas pelos portuenses – 1828 marca o início da Guerra Civil Portuguesa e de anos de confrontos, de fome e de peste.

Já o Root & Vine traz pratos vegetarianos no cardápio e surpreende pelo rigor na escolha e pela grande variedade de ingredientes, o que resulta numa verdadeira paleta de cores nas mesas. E como Portugal é um país com uma costa extensa e reconhecido pelo peixe fresco e suculento, o Golden Catch traz a estrela da mesa dos portugueses em seu menu: o bacalhau. Ali, o visitante pode selecionar o peixe favorito e o legume que o acompanha, e tem ainda à disposição um delicioso rol de batatas e molhos.

 

Prato do Root & Vine - foto divulgação

Prato do Root & Vine – foto divulgação

 

Para encerrar o dia, o café Suspiro – localizado na bilheteria do WOW – apresenta uma grande variedade de doces tradicionais portugueses, além do indispensável espresso.