Instituto Liberta lança documentário e campanha contra o abuso sexual infantil
À frente do Liberta, que busca combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes, a advogada Luciana Temer acaba de lançar a campanha #nãosecale. A frase está estampada em máscaras confeccionadas por grupos de mulheres em situação de vulnerabilidade social, em projetos de geração de renda, e a ideia é que a mensagem reverbere com força em todo o Brasil. “Estamos fazendo parcerias com empresas que queiram se conectar ao tema para produção e distribuição das máscaras na rede pública de ensino. Já doamos 130 mil unidades em São Paulo, mas queremos passar essa mensagem no Brasil inteiro”, diz Luciana.
Ela abraçou essa causa há três anos, desde que foi convidada pelo filantropo Elie Horn para dirigir o Instituto Liberta. “Quero fazer o país inteiro falar sobre o tema, estimulando a criação de políticas públicas. É um caminho que será construído a partir de um processo de conscientização da sociedade. Sem isso, a gente não vai enfrentar esse problema”.
O Brasil tem 500 mil casos de exploração sexual infantil por ano, o que faz do país o segundo que mais prostitui suas meninas, depois da Tailândia. No entanto, apenas 10% dos casos são notificados. E muitas vezes a vítima é culpabilizada. “A gente não pode se calar. O abuso e a exploração sexual infantil são coisas distintas, mas estão intimamente conectadas. E ambos são abafados pelo silêncio, que precisamos quebrar”. A advogada lembra que mais de 70% das violências acontecem dentro de casa. “E com abusadores de todas as classes sociais”.
O documentário “Um Crime Entre Nós”, produzido pelos institutos Liberta e Alana e pela Maria Farinha Filmes, mostra a naturalização dessa violência no Brasil. Dirigido por Adriana Yañez, conta com a participação de personalidades como o médico Drauzio Varella, a youtuber Jout Jout e o apresentador Luciano Huck, e está disponível gratuitamente na plataforma Videocamp.
O encarceramento dos criminosos é essencial, mas a solução é a educação. “Essa epidemia decorre de uma cultura machista e que objetifica o corpo da mulher e da menina. Estamos falando de uma mudança de cultura com as novas gerações, para formar pessoas mais empáticas e respeitadoras, e isso tem que acontecer na escola e nas famílias”.
Luciana ainda frisa a importância de falar nas escolas sobre violência sexual e sexualidade, e destaca um dado científico: “O Reino Unido adotou há alguns anos uma política pública em que as escolas têm a obrigatoriedade de tratar do assunto, discutindo de acordo com a faixa etária do aluno, e as evidências mostram os benefícios. Desde a medida preventiva, para a criança entender o que acontece, se proteger e denunciar, até o fato de os jovens começarem sua vida sexual mais tarde. É uma hipocrisia pensar que falar sobre o tema nas escolas incentiva a prática sexual, é exatamente o contrário. Enquanto não tivermos um espaço de escuta e conversa vamos ter consequências sociais seríssimas. A gente tem que assumir a nossa responsabilidade”, conclui.
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