Fernanda Torres volta a interpretar uma libertina baiana de 68 anos em “A Casa dos Budas Ditosos”

Fernanda Torres volta a interpretar uma libertina baiana de 68 anos em “A Casa dos Budas Ditosos”

Trazendo de volta aos palcos a premiada peça “A Casa dos Budas Ditosos”, Fernanda Torres mostra toda sua verve e seu talento ao narrar as peripécias eróticas de uma senhora de 68 anos

Fernanda Torres volta a interpretar uma libertina baiana de 68 anos em “A Casa dos Budas Ditosos”, adaptação para o teatro do livro lançado por João Ubaldo Ribeiro. A direção é de Domingos de Oliveira (1936-2019) e o espetáculo já rendeu à atriz um Prêmio Shell em 2004. No palco, uma velha senhora narra peripécias sexuais e grita aos quatro cantos que ousou cumprir sua vocação devassa e foi feliz, sem qualquer tipo de culpa ou remorso. Juntando aqui e ali as histórias, as confissões e os depoimentos apresentados pela protagonista, o texto de João Ubaldo promove várias reflexões filosóficas sobre a vida, o amor, o sexo e a liberdade. A montagem é um monólogo, e Fernanda Torres brilha ao fazer com que cada um na plateia se sinta com se ela estivesse falando unicamente para si.

 

foto divulgação

 

Teatro Multiplan
Avenida das Américas, 3.900 (Village Mall), Barra da Tijuca.
Tel. 21 3030-9970.
Toda quarta-feira, até o dia 27 de março.
Ingressos de R$ 100 a R$ 380.

Na peça “Um Filme Argentino”, Letícia Colin e Michel Melamed encenam situações que esmiúçam a intimidade dos casais

Na peça “Um Filme Argentino”, Letícia Colin e Michel Melamed encenam situações que esmiúçam a intimidade dos casais

Letícia Colin e Michel Melamed encenam a peça “Um Filme Argentino”, uma comédia romântica que fica em cartaz até 21 de abril no teatro Adolpho Bloch

A peçaUm Filme Argentino” começa mostrando um casal que discute pela enésima vez, até que ela sai de casa. Por causa da chuva, ela não vai muito longe e acaba adormecendo na portaria do prédio onde mora com o marido. Os dias passam e as mais diversas situações fazem com que a mulher permaneça ali até começar a chamar o local de “lar”. Essa é uma das situações encenadas por Letícia Colin e Michel Melamed na peça. O espetáculo composto por 24 “quadros” nos quais os atores interpretam dezenas de personagens segue a máxima proferida por William Shakespeare: “Todo casamento é um palco e todos os homens e mulheres não passam de meros atores”. A comédia romântica, excêntrica, poética e até política tem texto e direção do próprio Michel Melamed.

foto divulgação

 

Teatro Adolpho Bloch
Rua do Russel, 804, Glória.
Tel. 21 3553-3557.
Ingressos de R$ 50 a R$ 120.

Regentes de um novo tempo: as maestras à frente de orquestras no Brasil

Regentes de um novo tempo: as maestras à frente de orquestras no Brasil

Cada vez mais mulheres ocupam espaço em orquestras brasileiras e se tornam maestras, inspirando novas líderes de excelência na música clássica

Ainda é raro observar mulheres regentes à frente de orquestras no Brasil. Mas esse cenário começa a mudar – acrescido de outras revoluções importantes na música, como a própria abrangência do estilo clássico no país. Após a pandemia, teatros de ópera e balé seguem lotados, com um público sedento para assistir aos espetáculos.

As mudanças se personificam nos gestos, na coerência e na comunicação de algumas profissionais. Priscila Bomfim ingressou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro como pianista e após muito trabalho se tornou a primeira mulher a reger uma ópera dentro da temporada oficial. “Depois dessa estreia, outros convites surgiram para reger orquestras no país, como a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), as Orquestras Sinfônicas de Vitória (ES), de Porto Alegre (RS), de Campinas (SP), do Theatro São Pedro (SP) e da Universidade de São Paulo”, lembra.

 

Priscila Bomfim, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro – foto Ana Clara Miranda

 

A maestra participou ainda da fundação da Orquestra Sinfônica de Mulheres do Brasil com a trompetista Luciene Portella, e há três anos dirige a Orquestra Sinfônica Juvenil Chiquinha Gonzaga – a primeira orquestra brasileira formada apenas por meninas da rede pública de ensino. “O trabalho de um regente é o de conduzir, ser um excelente músico e, nos dias atuais, entender como aproximar a música orquestral do público em geral”.

Mariana Menezes também acumula feitos pioneiros e relevantes. Após o mestrado em regência instrumental na University of Manitoba, no Canadá, ela retornou ao Brasil e foi a única mulher da primeira turma da Academia de Regência da maestra Marin Alsop, na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). “Como atual regente associada da Orquestra Filarmônica de Goiás, me emociona ver um público jovem e interessado. E já vejo muitas jovens maestras se inspirando e se formando em universidades e conservatórios nos últimos anos”, conta.

 

Mariana Menezes, regente da Orquestra Filarmônica de Goiás – foto divulgação

 

Neste ano, Mariana atuará como regente convidada de orquestras em outros estados, como a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Campinas. Priscila Bomfim fará a preparação de diversos solistas na temporada de óperas no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e regerá concertos esperados pelo público, como o espetáculo em homenagem a Chico Buarque.

Peça “Solteira, inteira e feliz”, escrita e interpretada por Yaya Gazal, coloca em cena padrões sociais ainda vivenciados pelas mulheres

Peça “Solteira, inteira e feliz”, escrita e interpretada por Yaya Gazal, coloca em cena padrões sociais ainda vivenciados pelas mulheres

Em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo, comédia escrita por Yaya Gazal retrata com leveza e humor a perspectiva de muitas mulheres

O espetáculo “Solteira, inteira e feliz” conta a história de Júlia, uma colunista de uma famosa revista voltada para o público feminino, na qual compartilha suas experiências sobre os mais diversos temas. Prestes a sair do apartamento onde viveu os últimos 20 anos, Júlia, interpretada pela atriz Yaya Gazal, faz uma retrospectiva de sua vida e dos seus relacionamentos amorosos, ficando de frente com as suas vitórias e derrotas. A peça retrata com leveza e humor a perspectiva de muitas mulheres, atormentadas pelos padrões impostos pela sociedade, mas com a coragem necessária para realizar profundas transformações. “Solteira, inteira e feliz” segue em cartaz no Teatro dos 4 no Shopping da Gávea, todas quintas, até 29 de fevereiro, e simultaneamente em São Paulo, no Teatro Itália Bandeirantes, aos sábados e domingos, até o dia 24 de fevereiro.

 

foto divulgação

 

Teatro dos 4
Rua Marquês de São Vicente, 52 (Shopping da Gávea, 2° piso), Gávea.
Tel. 21 2294-1096.

Marco Nanini encena peça “Traidor”, de Gerald Thomas, e reflete sobre seus 50 anos de carreira

Marco Nanini encena peça “Traidor”, de Gerald Thomas, e reflete sobre seus 50 anos de carreira

Em cartaz no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, com o espetáculo “Traidor”, dirigido por Gerald Thomas, Marco Nanini reflete – no palco e nesta entrevista – sobre esse momento pré-apocalíptico que vivemos, mas sempre com a leveza, a emoção e o humor que lhe são peculiares

Na estreia do espetáculo “Traidor”, em novembro, Marco Nanini tropeçou em uma das pedras do cenário, caiu e machucou o nariz, que pôs-se a sangrar abundantemente. A apresentação no teatro do Sesc Vila Mariana foi suspensa e, depois de 20 minutos de atendimento médico, o ator voltou ao palco para terminar a peça. Ao final, foi ovacionado de pé não só por seu talento, mas também por causa de sua garra e sua devoção à sagrada arte do teatro. Um reles calhau cenográfico jamais seria capaz de deter esse gigante ator, que em 2023 está completando 75 anos de vida e 50 de carreira!

 

foto Carlos Cabéra

 

E a plateia paulistana mostrou que se emociona, sim. Ainda mais quando está diante desse fera nascido no Recife e radicado no Rio desde o final da década de 1960, dono de um currículo eclético e recheado de sucessos – seja na TV (onde atuou em dezenas de novelas e, entre 2001 e 2014, brilhou como o Lineu da sitcom “A Grande Família”), no cinema (em produções como “Carlota Joaquina” e “O Bem Amado”) ou no teatro, em comédias como “Doce Deleite” (com Marília Pêra) e “O Mistério de Irma Vap” (contracenando com Ney Latorraca e dirigido por Marília Pêra, ela de novo!) ou em dramas como “ O Burguês Ridículo”, de Molière, e “A Morte do Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller .

“O Nanini é o ator mais intenso que eu conheço. Como dirijo em pé, a um metro de distância, sinto cada respiração dele. Depois, chego no hotel e continuo ouvindo a sua voz. Que prazer é escrever para ele e dirigi-lo. Ter Marco Nanini pela frente é tudo”, celebra o diretor. Em entrevista à 29HORAS, Nanini fala de seu ofício, das redes sociais, da miséria e de aquecimento global. Confira essa conversa nas páginas a seguir!

Em maio, você completou 75 anos de idade e mais de cinco décadas de carreira como ator, mas nem a pandemia te impediu de lançar uma biografia (“O Avesso do Bordado”), fazer cinema (“Greta”), TV (a série “João Sem Deus” e uma participação em “Sob Pressão”), teatro filmado (“Cadeiras”) e agora um espetáculo presencial. Você cuida da sua saúde para trabalhar ou o trabalho que é a sua “receita de longevidade”?
A pandemia realmente foi um período difícil para todo mundo. Depois daquele pesadelo inicial, fiz o “Sob Pressão” e o “João de Deus”, que estão disponíveis no streaming. E conseguimos filmar “As Cadeiras” naquele momento em que tudo estava sem horizonte algum para a cultura, sem vacinas… E fomos filmar, seguimos todos os protocolos, o Nando (Fernando Libonati, diretor de ‘As Cadeiras’, meu sócio na produtora Pequena Central e produtor de todos os meus espetáculos) organizou uma maneira de ensaiar e filmar de uma forma em que ficamos completamente isolados, em uma espécie de bolha. Tudo isso foi também um jeito de conseguir seguir trabalhando e fazendo teatro da forma que era possível naquele momento. O trabalho nos dá esse oxigênio, mas é claro que comecei a cuidar mais da saúde, fazer exercícios, parei de fumar há sete anos e hoje cuido da alimentação, não como mais carne de origem alguma. E o processo do teatro, com ensaios, temporada, nos faz ter uma rotina, é preciso estar preparado para enfrentar tudo isso aos 75 anos.

 

Em uma cena da minissérie “João Sem Deus” – foto Mariana Cladas

 

O que te dá mais prazer no teatro, no cinema e na TV? Você tem preferência por alguma dessas formas de expressão? Você acredita que as mídias sociais “estragam” os espectadores e os afastam das salas de espetáculo ao viciá-los em histórias curtas e sem profundidade? Tem gente hoje que acha longuíssimo um episódio de série com 50 minutos…
Cada veículo tem os seus códigos, a sua graça e o seu jeito de fazer bem específico. O “Greta”, que você mencionou, foi rodado em Fortaleza, com uma equipe pequena e amorosa, enquanto outros trabalhos de TV são feitos em grandes estúdios, com um time enorme, um elenco imenso, como o de uma novela. O teatro já traz um processo artesanal, em que a gente consegue se dedicar a estudar cada intenção, cada frase. Meses de ensaio. Com “As Cadeiras”, tivemos um processo de teatro, mas que foi filmado. Foi uma experiência muito interessante! Eu gosto de transitar entre todas essas mídias e descobrir o prazer de atuar em cada uma. Sobre as redes sociais: hoje em dia tenho um Instagram, mas gosto de ver vídeos de natureza, animais e crianças. Gosto de YouTube e faço muita pesquisa por lá. Cada meio tem o seu público também. Acredito que trabalhos de duração mais longa encontrem o seu público, tem filmes e peças de longa duração que fazem sucesso mesmo nesse mundo tão veloz e hiperconectado de hoje.

Com Gerald Thomas, você já fez “Um Circo de Rins e Fígados” e agora se uniu novamente a ele para criar “Traidor”. Dá para dizer que a Marília Pêra foi a sua grande parceira nos tempos em que você focava mais nas comédias e que o Gerald é o seu maior parceiro agora que você se dedica mais a textos dramáticos?
O texto do Gerald tem muito humor, já tinha no “Circo” e agora no “Traidor” também tem. A Marília foi realmente uma parceira em espetáculos de comédia inesquecíveis e na TV, assim como outras atrizes com quem trabalhei muito, como a Marieta, minha companheira nos quatorze anos de “Grande Família” e com quem já dividi o palco diversas vezes. E o Guel Arraes é outro parceirão, com quem já fiz teatro, TV e cinema. Quando me dei conta, o espetáculo anterior com o Gerald já tinha 18 anos –eu achava que tinha sido ontem! Nesse intervalo, a gente continuou se falando, se encontrando e até planejando outros trabalhos juntos, mas que acabaram não saindo, como um filme e uma outra peça. Dessa vez, o processo foi parecido com o do “Circo”, ele mandava e-mails diários com o texto que ia escrevendo e trocávamos impressões, foi uma construção longa, entre o final do ano passado e o início deste.

 

Com Marília Pêra no pôster da comédia “Doce Deleite” – foto reprodução

 

Em “O Traidor”, seu personagem é um camarada atormentado e cheio de angústias, medos e crises de identidade. É a vida contemporânea que enche o planeta de gente assim?
Na peça, meu personagem está inquieto, emenda assuntos e frases que aparentemente não fazem sentido, quase como um esquizofrênico ou alguém que está enlouquecendo nesse mundo de hoje. O personagem tem meu nome e, para o Gerald, representa uma soma de todos os atores do mundo, mas também dialoga com coisas que eu já fiz, como o próprio “Circo”. E tudo naquele exercício de estilo do Gerald, que mistura assuntos contemporâneos, tem uma série de citações e referências. É um espetáculo que fala muito mais da vida do que da morte. Ainda que a seja sobre a vida nesse mundo de hoje, repleto de problemas. O texto diz que pelo menos não estamos queimando nas fogueiras – o aquecimento global está aí, mas com a “vantagem” de que o calor é para todos. Tem uma visão apocalíptica de que estamos em um momento muito complexo para o mundo e para a humanidade, mas com algum humor, com um olhar que não é trágico.

 

Nanini com Gerald Thomas nos ensaios de “Traidor” – foto Instagram

 

E como você, Marco Nanini, é afetado por esses tempos apocalípticos – com fenômenos climáticos extremos, milícias e traficantes brincando com suas armas poderosas nas cidades, terríveis viroses se espalhando pelo ar e ainda guerras na Ucrânia e na Palestina?
Não tem como não se afetar pelo que acontece. A guerra é uma temeridade, algo que nos pegou durante o processo de ensaios. Já o aquecimento global é uma realidade. Quando estreamos, as temperaturas beiravam os 40°C. Voltei a São Paulo após anos e vi dezenas de pessoas morando e dormindo no Trianon, na Paulista, pelo Centro. A miséria é algo que me sufoca e me entristece. Estamos dentro de um momento histórico meio apocalíptico e o Gerald usa muito isso no texto também. O espetáculo tem esse perfume dos dias em que vivemos.

 

No documentário “Mise en Scène”, sobre o ofício do ator – foto divulgação | TV Globo

 

Traidor
Em cartaz até o dia 17 de dezembro no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana.
Rua Pelotas, 141, Vila Mariana,
Tel. 5080-3000.
Ingressos de R$ 18 a R$ 60.