Tainá Müller, atriz protagonista de “Bom dia, Verônica” se prepara para a segunda temporada

por | jan 1, 2021 | Entrevista, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Uma das séries mais vistas em 2020 na Netflix traz um enredo conhecido de filmes policiais estrangeiros; um assassino rapta, tortura e mata mulheres. O ano que não acabou trouxe muitas reflexões e mobilizações nas redes sociais, mas talvez um dos temas dos longos meses – para além da Covid-19 – tenha sido o feminismo. De bandeira defendida no Big Brother Brasil pelas participantes da última edição à motor para denúncia de abuso sexual na maior emissora do país, as mulheres foram voz ativa no ano passado. E “Bom dia, Verônica” escancarou nas telas do streaming as diversas camadas dessa violência. “É uma ferida aberta, eu sabia a responsabilidade que tinha ao protagonizar um enredo como esse”, conta Tainá Müller, a Verônica da série. 

 

A atriz gaúcha tinha consciência que a produção geraria debate. “Fiquei surpresa e feliz que a repercussão foi realmente grande, o desdobramento nas redes sociais, em grupos diversos, foi enorme”, lembra. Em entrevista de sua casa – agora longe dos sets de gravação e em isolamento com sua família – Tainá vê o feminismo como uma verdadeira revolução. “É a cura do desequilíbrio, é a igualdade pelo respeito!” 

 

FOTO GUSTAVO ZYLBERSZTAJN

 

“Bom Dia, Verônica” é a adaptação do livro de 2016 de mesmo nome, de Ilana Casoye Raphael MontesA trama acompanha a jornada da escrivã Verônica Torres para encontrar um criminoso, e sua busca por justiça uma vítima de violência doméstica, vivida por Camila Morgado – que impressiona mais uma vez pela atuação impecável. Tainá Muller traz a experiência de interpretação em narrativas policiais que começou em “Tropa de Elite 2”, quando viveu uma repórter no filme de José Padilha, de 2010. “Na época, conheci muita gente do Bope, aprendi que fazer esses laboratórios é importante.” 

Assim como no filme protagonizado por Wagner Moura, o enredo de “Bom dia, Verônica” também não é fácil de digerir; a violência física e psicológica se desenrola em cenas sutis, e impactantes. Mas identificação com a ambientação da série, que se passa em São Paulo, faz os episódios serem vistos ainda mais rápido. Vale do Anhangabaú, Marginal Pinheiros e rodoviária do Tietê são cenários que tornam tudo ainda mais real.  

 

A atriz na pele da escrivã de polícia Verônica Torres – FOTOS SUZANNA TIERIE | NETFLIX

 

A cidade também é casa de Tainá Muller desde 2000, quando ela chegou à maior metrópole do país aos 18 anos. “Foi a primeira vez que peguei avião na vida, vim para fazer o trainee na MTV, e logo me senti abraçada pela vida noturna e cultural de São Paulo”, conta. Agito esse que sente muita falta em tempos pandêmicos. “Sempre fui muito a shows e foi assim que conheci meu marido (o diretor Henrique Sauer), sentimos muita falta dessas aglomerações, além da saudade que tenho de viajar ao Rio Grande do Sul e encontrar meus familiares. 

Como a todos nós, a pandemia atravessou em cheio a vida de Tainá, mudanças que a levaram de volta ao divã, depois de anos longe da terapia. “Ainda não consigo nomear as tantas transformações que 2020 me trouxe, estou elaborando tudo na análise, mas já vejo como é quase uma obrigação daqueles que puderam ficar em casa, em segurança, desenvolver um olhar crítico e sensível para o que estamos passamos”, analisa. 

O curso de pós-graduação em Filosofia, que a atriz – formada em jornalismo e ex VJ da MTV – finaliza à distância na quarentena, aguça ainda mais os sentidos de Tainá. “Tenho quase 40 anos, é tempo de colocar na balança o que realmente importa na vida, as leituras desse curso me fazem refletir muito.” 

 

Tainá em cena com Camila Morgado, na série “Bom dia, Verônica”, da Netflix – FOTOS SUZANNA TIERIE | NETFLIX

 

Coragem que vem de casa 

Com temática pesada, “Bom dia, Verônica” exigiu muito da atriz, inclusive fisicamente. “Fiz treinos de tiro, acompanhei o dia a dia de uma escrivã no Rio de Janeiro, que chegava a subir em comunidades para operações, uma rotina que também tem um significado diferente para as mulheres que estão inseridas nela”, pontua. “Lembro que ela estava com cólica um dia, mas precisava pegar o fuzil e acompanhar a equipe, era impressionante, é sobre ser uma mulher em zona de guerra.” 

Para descansar dessas imersões e das gravações da série, Tainá tentava manter uma rotina familiar perto do filho, Martin, então com três anos. “Me preparei por dois meses, gravei em quatro, era muito intenso e fiquei longe de casa, queria compensar isso”, reflete. Situação parecida com a vida da personagem que interpreta, a Verônica, e de outras tantas brasileiras reais, que se dividem entre trabalho, casa e filhos.  

De sua primeira família, a gaúcha diz trazer a coragem e o gás para seguir sonhos sem amarras. “Meus pais criaram as três filhas (ela e as irmãs Titi e Tuti Müller) para caírem no mundo, não tinha essa pretensão que a gente se casasse, era mais para seguirmos nossos sonhos, sejam quais fossem”, lembra. “Acho também que tem a ver com a coragem que as pessoas do Rio Grande do Sul têm, enxergo muito que somos criados para não desistir e perseverar, trazemos muito isso ao longo da história, trago isso comigo até hoje”, analisa. 

 

A atriz na pele da escrivã de polícia Verônica Torres na série “Bom dia, Verônica”, da Netflix – FOTOS SUZANNA TIERIE

 

Multifacetada e preparada 

Com peruca loura, vestido preto decotado e a pinta característica de Marilyn Monroe no rosto que Tainá Müller esteve nos palcos de um teatro pela última vez antes da pandemia, na peça “Os Desajustados”, escrita por Luciana Pessanha, com direção de Daniel Dantas. O espetáculo passou pelo Rio de Janeiro em 2019. O enredo tratava de uma reunião da estrela de Hollywood com o dramaturgo Arthur Miller (Isio Ghelman), o ator e cantor Yves Montand (Felipe Rocha) e a atriz Simone Signoret (Cristina Amadeo), ocorrida em 1960 no Beverly Hills Hotel, na Califórnia.  

A Marilyn é uma personagem dos sonhos de qualquer atriz: complexa, multifacetada, trágica. Foi muito desafiador encarná-la, porque todo mundo tem sua Marilyn, a ama de algum jeito, já sabe algo sobre sua vida”, reflete. “Sinto falta do teatro, penso em fazer uma peça solo em breve.” 

Sozinha ou cercada de outros atores, 2021 reserva para ela muito trabalho. Nos últimos meses, a Netflix anunciou a segunda temporada da série “Bom dia, Verônica”. “Vamos gravar assim que a vacina sair”, conta Tainá. Enquanto esperamos ansiosos pelo item mais desejado do mundo, a atriz já se prepara fisicamente para voltar a viver a escrivã Verônica Torres. “Faço exercícios físicos, comecei aulas de boxe”, diz. “Preciso estar preparada, porque esse ano será intenso, quero me movimentar!”  

 

Tainá Müller como Marilyn Monroe na peça “Os Desajustados” – FOTOS MANU TASCA

 

 


 

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