Luiza Helena Trajano e sua trajetória: do empreendedorismo inovador aos projetos sociais

por | mar 31, 2021 | Entrevista, Pessoas & Ideias | 1 Comentário

Presidente do conselho do Magazine Luiza, uma das maiores redes do setor varejista, Luiza Helena Trajano fala de sua luta pela vacina e de seu propósito de transformar o Brasil. 

“Eu sou supernormal, meu prato preferido é arroz com feijão e macarrão, e nunca fui viciada em ginástica”, ri Luiza Helena Trajano durante uma conversa pelo Zoom. Um café virtual em que essa mulher simples e carismática, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, falou de sua rotina, de sua história e de seus sonhos.

 

Foto - @angelarezefotografia

Foto – @angelarezefotografia

 

Luiza Helena confessa ter sorte de precisar dormir pouco – vai para cama tarde da noite e acorda às 5h da manhã –, pois consegue dar conta de tanta coisa no dia. E ela realmente não para. Fez mais de 400 lives desde o início da pandemia, entre elas entrevistas para o IDV, Instituto para Desenvolvimento do Varejo, com o intuito de estimular as pequenas e médias empresas neste momento.

Não é mulher de uma causa só. Parceira do Sebrae desde 1980, conselheira em diversas entidades do terceiro setor e em empresas, ela fundou em 2013 o grupo Mulheres do Brasil para estimular a luta feminina por um país mais justo. “A gente não é partidária, a gente não é contra o homem e a gente não quer inventar a roda. Apoiamos o que já existe, queremos dar voz às mulheres e reduzir a desigualdade feminina em postos na política e nas empresas, entre várias outras questões”, explica.

O grupo, hoje com 83 mil mulheres em mais de 150 cidades, apoia 21 causas. “Temos líderes de bairros na periferia, gente trabalhando pela educação, contra a violência, pela saúde, pela igualdade racial, em muitos projetos. A gente quer ser o maior grupo político apartidário do Brasil.”

 

Grupo Mulheres do Brasil - Foto @angelarezefotografia

Grupo Mulheres do Brasil – Foto @angelarezefotografia

 

No primeiro encontro aberto do grupo neste ano, no dia 2 de março, Luiza falou para mais de 1.200 pessoas sobre o movimento “Unidos pela Vacina“. “Estamos em um trabalho 360 graus com a vacina, porque agora não adianta falar mal do governo, o brasileiro precisa parar de morrer e a economia precisa voltar; nosso objetivo é vacinar todos os brasileiros até setembro.”

Articulando junto a empresários e executivos como Paulo Kakinoff, da companhia aérea Gol, e Walter Schalka, da indústria de papel e celulose Suzano, Luiza conseguiu aviões e outros recursos para otimizar a logística dessa megaoperação. “Só a união de todos é que vai conseguir fazer isso: o poder federal, o estadual, o municipal, a sociedade civil, os empresários e o terceiro setor. O inimigo é um vírus que está aí e não vai embora, e que veio para mexer com a nossa impotência e incompetência.”

Crescimento expressivo

Outra luta de Luiza é a geração de emprego. Logo no início da pandemia, a empresária idealizou com outros líderes o movimento “Não Demita”, e criou a “Parceiro Magalu”, plataforma digital que ajuda micro e pequenos varejistas e autônomos a tocar seus negócios. Durante a crise sanitária, o Magalu, hoje com mais de mil lojas físicas, contratou mais de quatro mil funcionários, comprou seis empresas e cresceu 73% no seu e-commerce. Segundo levantamento recente feito pela Trading Plataforms, a rede está entre as 25 maiores varejistas do mundo.

A empresária atribui o sucesso ao fato de que o Magazine Luiza já vem trilhando há anos o caminho digital, além de manter um crescimento consistente e sustentável. Desde 1992 a companhia investe em inovação e tecnologia. Naquela época, o diferencial era o cliente ir à loja e poder comprar pelo computador, com o auxílio do vendedor, os produtos que não estavam expostos nas gôndolas.

Mãe de três filhos – Frederico, que é CEO da companhia desde 2016, Ana Luiza, chef de cozinha e ativista assumida da gastronomia brasileira, e Luciana, pedagoga –, Luiza conta que gerar emprego é um grande prazer da família. “Quando comprou a primeira lojinha, em 1957, a minha tia (Luiza Trajano Donato, fundadora da Magazine Luiza) não tinha nem dinheiro para pagar a prestação direito, mas a intenção era gerar emprego para a família e para a comunidade, fazer o bem para as pessoas. Esse sempre foi o nosso forte, o dinheiro é a consequência.”

Segundo a filha Ana Luiza, que fundou o IBAG, Instituto Brasil a Gosto, a importância de ter um propósito é o que ela aprendeu de mais valioso com a mãe: “Ela nos ensinou que a gente precisa fazer coisas que a gente ama, e interligadas com um propósito e um legado maior, ou seja, que o que a gente faça transforme e engrandeça o mundo”.

 

Luiza Helena em entrevista com Pedro Bial - Foto @angelarezefotografia

Luiza Helena em entrevista com Pedro Bial – Foto @angelarezefotografia

Foco nas soluções

Nascida e criada na cidade de Franca, no interior de São Paulo, Luiza começou a trabalhar aos 12 anos como balconista na loja da tia, para ganhar dinheiro e poder dar presentes para as pessoas. “Tenho o maior orgulho de ser de Franca, onde tive uma infância de interior, com muita liberdade para brincar e fazer as coisas”, diz, com seu gostoso sotaque preservado.
Aos seis anos, Luizinha, como até hoje é conhecida na cidade, já caminhava sozinha até a escola e andava de ônibus. Filha única, afirma que teve duas mães: “Minha tia, uma grande empreendedora, e minha mãe, uma mulher com uma inteligência emocional incrível, que me educou para buscar soluções, resolver as coisas”.

Deu certo. Intensa e incansável desde sempre, ela foi líder entre os colegas, representante de classe e, aos 17 anos, conquistou seu primeiro emprego na loja. Formada em Direito, passou por todos os setores até ser convidada pela tia, em 1991, a assumir o comando da empresa, que elevou a partir daí a um novo patamar, investindo em inovação, tecnologia e gestão horizontal, com foco nos valores humanos e na comunicação. “A gente tem vários rituais ligados ao respeito, à autonomia e à igualdade de oportunidades na empresa. Para nós, as pessoas estão em primeiro lugar”, diz Luiza, lembrando que há 22 anos o hino nacional é cantado pelos funcionários todas as segundas-feiras de manhã.

 

Luiza Helena Trajano no Fórum Econômico Mundial - Foto Divulgação

Luiza Helena Trajano no Fórum Econômico Mundial – Foto Divulgação

 

Correção de desigualdades

E há 22 anos o Magalu está entre as cinco melhores empresas para trabalhar no Brasil. Ela incorporou na companhia a pauta de causas sociais, a favor da mulher e da diversidade. Fez uma campanha contra violência doméstica, “Eu meto a colher sim”, e colocou uma linha para denúncias dentro da empresa, além de determinar cota para contratações de mulheres que foram vítimas desse crime. Em setembro de 2020, lançou um programa para trainees negros que causou polêmica na internet. Luiza segue quebrando paradigmas e fazendo o que precisa ser feito: “A gente tem que assumir papéis e saber que não vamos agradar todo mundo”.

“O projeto foi feito pelo Frederico e a equipe dele, e em um final de semana fomos apedrejados. Mas depois as pessoas nos deram muito apoio, ele ficou emocionado de receber gente do Brasil inteiro formada em faculdade federal e estadual e com alto nível de comunicação, de resiliência e de maturidade emocional, e ganhando 40% menos do que merecia ou até desempregada.” Vinte mil pessoas se inscreveram e vinte foram contratadas. “O objetivo era acertar uma defasagem no nosso quadro”, ela explica. Entre os cerca de 35 mil funcionários da empresa, 53% são pretos e pardos, mas apenas 16% deles ocupam cargos de liderança.

 

Foto - @angelarezefotografia

O grupo “Mulheres do Brasil” em manifestação contra a violência doméstica e o feminicídio – Foto @angelarezefotografia

 

“As cotas são um processo transitório para acertar uma desigualdade, porque senão a gente vai levar 130 anos, ou muito mais do que isso, para ajustar esse problema. Os 390 anos de escravidão e a abolição muito ruim deixaram um legado triste.” Seu sonho agora é criar um programa para admitir pessoas acima de 50 anos. “Tanta gente com experiência, conhecimento e vontade para trabalhar, acredito nessa mistura de idades e na diversidade.”

Luiza é prática, direta e assertiva. “Não fico intelectualizando, eu sento e faço.” Por isso é clara para dizer, mais uma vez, que não quer se candidatar a cargos políticos, muito menos à presidência do país, como tem sido especulado. “Jamais pensei nisso e nunca me filiei a partido político algum. Nunca falo ‘dessa água eu não bebo’, mas não tem sentido isso agora nesse momento.”

Assumida apaixonada pelo Brasil, ela já faz política com seu Mulheres do Brasil e tem uma incrível facilidade de articulação: “Eu tenho esse lado positivo, quando ligo para os políticos para falar de vacina, em dois minutos eles me atendem”.
Para 2022, o grupo começou uma campanha muito forte, para aumentar os 12% de mulheres na política. “É importante abrir essas portas, estamos muito defasadas! Acredito que qualquer nação muda quando a sociedade civil se organiza e envolve as pessoas a entrarem em movimentos apartidários e que tenham como bandeira a evolução do país.”

 

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Luiza Helena em evento do Mulheres do Brasil – Foto @angelarezefotografia

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1 Comentário

  1. Suzana Elias Azar

    Sensacional a entrevista. Luiza é uma pessoa incrível e usa sua influência para contribuir com as grandes questões sociais

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