Em construção e transformação, o ator Bruno Gagliasso é aliado de causas ambientais importantes

por | mar 1, 2021 | Entrevista, Pessoas, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Em 1999, com 17 aninhos, Bruno Gagliasso estreou na Globo, no episódio “Papai é Gay!” do programa interativo “Você Decide”. Hoje aos 38 anos, Bruno é quem decide seu próprio destino. Após participar de mais de 20 novelas e séries da emissora, resolveu sair da Globo e assinou com a Netflix.

A mudança, além de dar um refresh em sua carreira de ator, abre espaço para que ele se dedique também a outras de suas paixões: a família, o empreendedorismo e a preservação ambiental.
Sempre com sua esposa, Giovana Ewbank, e seus filhos Titi (de 7 anos), Bless (6) e Zyan (1), ele divide seu tempo entre a casa que a família mantém na cidade do Rio de Janeiro e o sítio na serra fluminense, onde Bruno está implantando um bonito projeto ecológico.

Como empreendedor, ele atua como sócio na vodca orgânica e artesanal Voa, como anjo-investidor da start up CredPago e como proprietário de duas pousadas em Fernando de Noronha – a Maria Bonita (aberta em 2015) e a recém-inaugurada Maria Flor.

 

Bruno Gagliasso - (Foto Thiago Bruno)

(Foto Thiago Bruno)

 

Sua saída da Globo teve a ver com uma necessidade de fazer coisas diferentes, de ter mais tempo para investir no seu lado empreendedor?
Eu digo sempre que não foi uma saída, são novos tempos. Fui e sou muito grato a tudo que vivi na Globo, foi lá que amadureci como ator. Mas hoje sou muito feliz na minha nova casa. A Netflix me traz a possibilidade do novo. Eu sou um ator que fez de tudo em novelas e elas sempre terão um lugar especial no meu coração. Só que, nesse momento, meus olhos brilham por outras coisas. Digo que estou respirando a liberdade, então, sim, foi para ter mais tempo como empreendedor, como pai, marido, como ser humano ligado às causas ambientais e, acima de tudo, como artista inquieto que sou.

Em quais projetos você está envolvido, nessa área de teledramaturgia?
Estarei em uma série que é uma produção internacional e que, assim como tudo no mundo, acabou sendo afetada também pela pandemia. Não posso falar muito sobre ela ainda, mas seu lançamento está previsto para 2022. Tenho estudado bastante e estou muito empolgado. E tem outro lançamento muito esperado por mim – e acredito que pelos brasileiros também – que é o filme “Marighella”, que vai estrear aqui no Brasil este ano, finalmente.

 

Foto divulgação - Filme Marighella

Foto divulgação – Filme Marighella

 

Voltando à sua porção empreendedora, gostaria que você falasse um pouco da sua associação ao grupo que produz a vodca Voa. O que despertou o seu interesse nessa bebida?
Fico muito feliz em doar um pouco da minha essência para um produto totalmente brasileiro, feito com o nosso talento. Mas como tudo em minha vida é sempre sobre relações, meu envolvimento se deu por causa do Mario Bulhões, que fundou a Voa e é meu amigo há 20 anos. Isso é essencial para mim. Quando ele me apresentou a Voa eu fiquei empolgado porque acredito em produtos que tenham alma, e a Voa tem. Foi a primeira coisa que me atraiu. Acho que a gente tem tudo para quebrar esse preconceito que ainda existe nesse segmento, de que destilados nacionais não são excelentes.

 

O ator com a vodca orgânica Voa, da qual é sócio - Foto Thiago Jenne

O ator com a vodca orgânica Voa, da qual é sócio – Foto Thiago Jenne

 

Com esse investimento, você se junta ao time de artistas que possuem marcas de bebidas premium, como George Clooney (sócio da tequila Casamigos), o cantor Bruno Mars (do rum Selva Rey) e o ator Ryan Reynolds (do gim Aviation). A que tipo de marcas você gosta de ver o seu nome associado?
Que responsa estar nesse time, hein? Gosto de me associar a marcas que eu consumo, mas principalmente a marcas que eu acredito. Não é a quantidade que me interessa. Hoje, além da vodca Voa, sou sócio da Credpago e tenho duas pousadas em Noronha, que são meu orgulho. Está bom por enquanto, se não o ator não pode criar mais. E estou em ebulição.

Você parou de comer carne após ter visto de perto a devastação causada por pecuaristas na Amazônia e, em consequência dessa mudança de hábito, saiu da sociedade das hamburguerias Burger Joint. Esse é um exemplo da sua preocupação de ligar seu nome a marcas que tenham a ver com o seu estilo de vida?
Hoje eu não consumo mais carne vermelha. E sair dessa sociedade foi uma consequência dessa escolha alimentar. Defendo o consumo consciente, mas não sou radical. O que desejo é que a gente saiba a origem do que a gente come. Nesse caso da hamburgueria eu não poderia manter um negócio em que o produto principal é a carne vermelha, seria totalmente incoerente com as minhas escolhas. Ainda tenho muito a aprender, digo que estou em um processo de aprender e entender como eu, Bruno, posso ser parte de um mundo mais saudável. Estou em construção, em transformação. Nesse processo eu já aprendi muito, mas sei que ainda falta muito também.

 

Bruno Gagliasso com os painéis de energia solar em seu rancho - Foto Thiago Jenne

Bruno Gagliasso com os painéis de energia solar em seu rancho – Foto Thiago Jenne

 

A casa onde você vive com sua família no Rio é uma residência energeticamente autossuficiente. Você participou da elaboração do projeto dessa casa? Você tem um interesse especial por arquitetura?
Sou completamente apaixonado por arquitetura e muito curioso também. Meu sogro é arquiteto, tenho alguns amigos e sócios arquitetos e aprendo muito com eles. Se não fosse ator, com certeza, eu seria arquiteto ou engenheiro. Mas o grande segredo da minha casa é como ela foi projetada. Moro na casa que Cláudio Bernardes fez para ele próprio viver e respeito muito sua arquitetura. Sempre fui fã dele, do pai e do filho. Tudo começa neste projeto. Tenho placas solares no teto que comecei a usar na minha casa e agora também tenho no rancho. Tento ser sustentável em tudo o que posso. Saber que minha casa é movida a energia limpa e através do sol me enche de orgulho.

A propósito, me fale sobre as suas duas pousadas em Noronha. A sustentabilidade foi uma prioridade no projeto das duas, não?
Eu invisto em coisas que eu acredito. Sempre fui muito fã de Noronha, vou para lá há mais de dez anos, tenho grandes amigos ali e foi assim que nasceu o desejo de fazer a Maria Bonita. Deu tão certo que agora construímos a Maria Flor. Nosso sonho, porque tenho sócios diferentes nas duas pousadas, quase foi adiado por causa da pandemia e da crise, mas com muita convicção e resiliência, ela foi inaugurada. A Maria Bonita e a Maria Flor são lugares de contemplação de tudo que há de mais perfeito na natureza, são lugares para a gente se conectar com o interior, curtir e ficar em paz. Os dois projetos são no estilo rústico contemporâneo, sempre prezando a sustentabilidade, os materiais de design nacional e o artesanato local.

 

Pousada Maria Flor - Fotos Carol Sabio

Pousada Maria Flor – Fotos Carol Sabio

 

Já em Paraíba do Sul, no Rio, você mantém o Rancho da Montanha, onde toca um grande projeto de reflorestamento e um santuário de reabilitação de espécies resgatadas das mãos de traficantes de animais. Conta para a gente quais são os seus objetivos com essas duas iniciativas.
O Rancho é o meu projeto de vida! Era um simples terreno em Membeca, mas quando a gente começou a projetar, eu logo entendi que não queria que fosse uma casa na serra, mas uma casa com propósito, um lar, um lugar onde quero estar com minha mulher e meus filhos. A ideia é que ela seja inteira sustentável e por isso vai ter selo de sustentabilidade. Além disso, lá as árvores frutíferas vão ser para os pássaros, para os animais… Já plantamos seis mil árvores. A meta era plantar 40 mil, mas agora já estou sonhando em ter 100 mil árvores lá! Vamos cuidar de animais maltratados, ter horta orgânica… O Rancho da Montanha se tornou também uma área de soltura de animais silvestres. Sou patrono do Instituto Vida Livre e lá nós reabilitamos animais silvestres que são apreendidos de traficantes, animais que são atropelados ou maltratados. Cuidamos e soltamos. Entende por que é tão especial pra mim? Sempre que posso estou lá não só para acompanhar tudo de perto, mas para fazer parte dessa construção com a mão na massa.

 

Bruno plantando uma muda em seu rancho, na região serrana do Rio de Janeiro - Foto divulgação

Bruno plantando uma muda em seu rancho, na região serrana do Rio de Janeiro – Foto divulgação

 

Você acredita que a pandemia do coronavírus é uma consequência da emergência ambiental que o planeta está vivenciando?
Acredito que tudo o que a gente faz influencia no funcionamento do planeta. Exatamente tudo. E, se continuarmos desse jeito, essa não vai ser a única “pausa” que teremos que dar no mundo. Dessa vez foi por causa de um vírus, são milhões de mortos no mundo, mas o planeta já está gritando de diversas outras formas.

E, na sua opinião, qual seria a solução para isso? O que deveria ser prioridade na política ambiental brasileira?
A minha visita com a Gio ao Amazonas a convite do Greenpeace, recentemente, foi assustadora. Pessoas que defendem o meio ambiente sendo ameaçadas de morte. Deveríamos, entre muitas outras coisas, diminuir o desmatamento o máximo que pudermos, mas o que está acontecendo é justamente o contrário. Hoje, qualquer ação positiva é importante e vai impactar o meio ambiente.

Até alguns anos, você era um jovem focado exclusivamente na sua bem-sucedida carreira de ator. Quando foi que você teve um clique e decidiu valorizar mais o seu lado empreendedor? A paternidade te deixou mais consciente e preocupado com a preservação da natureza?
Percebi ainda novo que eu poderia ser muitas coisas. Minha mãe é empreendedora, então sempre tive essa curiosidade e vontade de empreender. Não me considero um empresário, mas sim um empreendedor. Hoje em dia me sinto mais focado em me aliar a empresas, produtos e causas que eu acredito e, que, de alguma forma, pode me ajudar a ajudar. Na Credpago, por exemplo, é muito bacana porque é como se fosse uma linha de crédito para quem não tem fiador, temos ajudado muitas pessoas. Isso sem falar no rancho, que talvez seja o maior exemplo de um sonho realizado. Hoje eu posso ter um espaço para reflorestar e plantar milhares de árvores, para fazer a soltura de animais. Por causa desses negócios, posso me aliar e ajudar em causas que acredito como a CUFA (Central Única das Favelas), de quem eu sou parceiro e muito mais.

Qual o legado que você quer deixar para os seus filhos e seus admiradores?
Um dos motivos pelos quais estou tão envolvido nessa luta e nesse desafio é despertar esse sentimento nos meus filhos. Esse é o meu legado principal. E o Rancho é parte desse legado, saber que vamos poder motivar nossos amigos, familiares, os vizinhos do rancho, os alunos da escola lá de perto. Quando o corona passar quero levá-los lá também. Motivar quem me vê nas redes, na televisão, nas entrevistas a entender que somos parte da natureza e a partir disso ser um agente de transformação. Se eu conseguir deixar esse legado, já vou me considerar um cara realizado.

Por fim, como você imagina que será o “novo normal”, a vida em tempos pós-pandemia e pós-vacinação?
Eu tento manter a esperança nas pessoas. Espero que elas acordem e entendam a importância do voto, se conscientizem politicamente, que finalmente entendam a importância que temos no meio ambiente e como somos agentes transformadores.

 

Bruno_fotodivulgação

Foto divulgação

 

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