Musa grandiosa: Claudia Raia empodera mulheres

por | ago 3, 2020 | Entrevista, Pessoas, Pessoas & Ideias | 3 Comentários

Atriz, bailarina, cantora e empresária, Claudia Raia empodera e defende as mulheres e confessa que sua filosofia de vida é plantar o amor em tudo o que faz.

Claudia Raia sentada sorrindo

FOTO TATO BELLINE

CLAUDIA RAIA É SUPERLATIVA. Não só no tamanho (1,79 m de altura, sendo 1,10 m de pernas), mas também nos atributos de sua personalidade. Nascida em Campinas há 53 anos, ela é uma atriz conhecida por sua exuberância, intensidade e versatilidade: além de atuar, cantar, dançar e sapatear lindamente, Maria Claudia Motta Raia é empreendedora, palestrante e produtora de seus próprios e concorridos espetáculos. Pioneira na produção de musicais no Brasil, Claudia é símbolo da mulher forte e que se reinventa a cada ano.

Está sempre envolvida em novos projetos. Um de seus trabalhos, hoje, é um canal de vídeos no Instagram para valorizar a mulher com mais de 50 anos, injetando poder e autoestima na parcela feminina que está no seu auge. Sua missão, como ela mesma diz, é “transformar a vida das pessoas”. E é isso mesmo: Claudia move diferentes públicos, nas mais diversas esferas.

No início de julho, Claudia conversou com a 29HORAS, falou de seus planos na pós-pandemia e relembrou a gostosa infância passada em Campinas, cidade natal e morada até os 13 anos.

Como tem sido esse período de isolamento?

No começo do ano, eu estava em Portugal com o espetáculo “Conserto para Dois“. Com a pandemia, eu e o Jarbas (seu marido, o ator Jarbas Homem de Mello) acabamos voltando antes do previsto porque os teatros fecharam. Voltamos e ficamos em casa direto, porque dias depois foi decretado o isolamento no Brasil. O período tem sido em casa, com a família. Fiz minha autobiografia com a Rosana Hermann, agora estamos vendo quando será o lançamento. Tenho também uma fotobiografia para ser lançada. Estou fazendo ioga, meditação, mantenho uma rotina de exercícios físicos, faço aula de balé, de canto. Tudo à distância.

O que descobriu nesse período tão difícil? O que essa experiência coletiva está nos mostrando e alertando?

Para mim, essa experiência está nos lembrando exatamente isso: que somos um coletivo, uma sociedade. Precisamos olhar para o lado, para o próximo, para continuarmos avançando. Nesse sentido, a pandemia é um momento de rever muitas coisas, de pensar mais no próximo, de ajudar. Acredito que quem continuar com uma postura egoísta não terá vez. Vamos melhorar porque estamos aqui para isso. Vejo com muita alegria tantas iniciativas para ajudar. Participei do “Festival Ao Vivo Pela Vida” e do “Bazar Ao Vivo Pela Vida”, que ainda está no ar, em que arrecadamos doações para o Fundo Emergencial para a Saúde e para a Ação da Cidadania, uma organização comprometida com o combate à fome. Quero muito que o sentimento de empatia e solidariedade seja o que levemos desse momento.

 

Que mudanças pretende fazer no dia a dia após a quarentena?

A pandemia me fez questionar algumas práticas. Antes eu tinha uma vida muito corrida, sempre pensando no próximo compromisso. Isso eu não quero mais. Onde eu estava querendo chegar, gente?! Costumo dizer que a gente deita na pretensão de que vai acordar no dia seguinte. Então, todo dia, quando abro os olhos, agradeço ainda mais por estar viva. Nesse momento, mergulhei na medicina Ayurveda e quero mergulhar cada vez mais nela, além de continuar com a prática de ioga e meditação – que intensifiquei também.

FOTO VINÍCIUS MOCHIZUKI

Quais são os projetos para o segundo semestre e para 2021?

Tenho um projeto de apresentações de teatro, tanto adulto quanto infantil, e de shows em drive in. Por enquanto, ainda não sabemos quando poderemos estar de volta a uma sala de teatro. Então, como produtora, estou pensando em alternativas. Eu e Jarbas apresentaríamos o espetáculo “Conserto para Dois”, que teria sua segunda turnê nacional quando voltássemos de Portugal. Mas com a pandemia os planos foram adiados.

Fale um pouco sobre Campinas, onde você nasceu…

Eu vivi em Campinas até os 13 anos. Passei minha adolescência em Nova York e na Argentina e depois vim morar em São Paulo. Mas a infância foi toda em Campinas. A academia da minha mãe (Dona Odette Raia, que faleceu aos 95 anos há um ano) era na rua Barão de Jaguará com a Ferreira Penteado, um lugar bem no centro, maravilhoso. Eu vivia dentro da academia de dança da minha mãe, fazendo aula, dançando, participando de eventos e desfiles. Minha mãe era muito enaltecida na cidade, nós éramos responsáveis por tudo que era relacionado a evento de cultura, de música e de dança. Foi uma infância muito feliz.

O que você aprendeu de mais valioso com a sua mãe, a dona Odette?

Aprendi a ser uma pessoa que busca seus sonhos, que corre atrás do que quer. Aprendi a respeitar os outros e saber que há espaço para todo mundo. Ela nunca quis cortar minhas asas, me limitar, pelo contrário. Sempre me deu suporte: abriu a porta da gaiola para que eu voasse. Tanto que permitiu que eu fosse para Nova York estudar balé quando tinha 13 anos. Eu perturbei tanto, que ela percebeu que não conseguiria me conter e me incentivou. E eu busco fazer o mesmo com meus filhos (Enzo, de 23 anos, e Sophia, de 17). Minha mãe é minha grande inspiração na vida.

Como nasceu o projeto de vídeos sobre a mulher 50 +?

Pouco se fala no Brasil sobre a mulher com mais de 50 anos. Lá fora é comum elas estarem nas capas de revistas, produzindo, atuando… Aqui nós caímos em uma espécie de ostracismo e ressurgimos como fênix aos 70, 80 anos. Mas eu não quero isso. Estou no meu auge, produzindo, trabalhando com o que amo, realizada pessoal e profissionalmente. Eu sentia essa lacuna. Então, pensei: por que não começar eu mesma a falar sobre essas coisas? E foi o que eu fiz. (Confira aqui!)

Como tem sido o resultado?

Maravilhoso. Muitos dos vídeos ultrapassaram a marca de 200 milhões de visualizações. As mulheres ficaram felizes de ver essas questões postas ali. Me deu uma sensação boa de dever cumprido, sabe?!

São muitos os estereótipos para as mulheres, inclusive de padrões de beleza. Na Europa, é mais elástico, como no caso de assumir os cabelos brancos. Você o usaria?

Eu acho justamente que não tem regra. A gente precisa mostrar cada vez mais que a idade é um número e não deve ditar a maneira como a gente se veste, como corta o cabelo, como usa maquiagem… O grannyhair, que é como chamam a tendência do cabelo branco, é algo que vai além da idade. Acho charmoso, acho lindo. Se você quer usar dessa forma, vai lá e usa, não importa o que vão dizer. Eu não deixo essas coisas me limitarem, imagina! Sinto que as pessoas, às vezes, ainda ficam presas a esses estereótipos.

 

Claudia Raia

FOTO TATO BELLINE

“Eu costumo dizer que nasci com o chip da felicidade, acho que a energia vem daí. Eu amo a vida, amo viver. Isso é um combustível incrível”.

 

Antes da pandemia você vinha fazendo muitas palestras sobre empreendedorismo. Me conta um pouco sobre isso?

Eu comecei a empreender desde muito nova. Quando percebi que ninguém investiria no meu sonho como eu, fui entender como se produzia um espetáculo e comecei a enveredar por esse caminho. De lá até agora, produzi todos os meus espetáculos e outros projetos. As palestras são uma outra forma de compartilhar a minha experiência, ajudando as mulheres a trilhar essa estrada. Podemos ocupar qualquer espaço. Que a gente tenha mais mulheres como CEOs, mais personagens femininas plurais e de idades diversas, mais jogadoras de futebol, apresentadoras, escritoras, cineastas, diretoras….

Você comentou que congelou seus óvulos porque pensa na possibilidade de ter um terceiro filho. Existe esse projeto?

Eu não me fecho para nenhuma possibilidade. Justamente por isso, congelei meus óvulos. Há sim a vontade de ser mãe mais uma vez. Hoje estamos desconstruindo essa idade ideal de maternidade. Eu tenho essa vontade de aumentar a família, mas ainda não tenho uma data para isso acontecer. Por enquanto, é mesmo uma vontade.

De onde vem toda a sua energia?

Eu costumo dizer que nasci com o chip da felicidade (risos). E é isso, eu sou feliz. Acho que a energia vem daí. Eu amo a vida, amo viver. Isso também é um combustível incrível.

Qual é a sua filosofia de vida?

Eu sou budista e influenciada por essa filosofia. O meu mantra é o mantra do budismo “Nam-myoho-rengue-kyo”, que quer dizer “Peço perdão de todas as minhas causas passadas, harmonia com o Universo e fusão com Deus.” Sou uma pessoa muito grata, que sempre olha o copo meio cheio, sabe!? Planto amor em tudo o que faço, busco um olhar atento para o outro, cuido das pessoas, estendo a mão e também aplaudo o momento do outro. Saber ajudar, enaltecer e se alegrar pelo outro é uma das belezas da vida.

 

Claudia Raia

FOTO REPRODUÇÃO

Falando em ajudar, li que você sempre gostou de levar marmita, uma mania sua, também para os colegas de trabalho nas novelas. Você tem esse lado mãezona?

Tenho esse lado, adoro cuidar de quem está ao meu redor. Falo que é importante levar a comida, dou conselhos, dou colo… Eu cuido em todos os aspectos, me apego, trago para debaixo da minha asa.

Quando você começou a ficar conhecida como a rainha da marmita?

Eu levo marmita desde sempre. E para todos os lugares. Eu levo porque assim eu sei o que estou comendo e evito comer qualquer coisa na rua. Além de essa ser uma maneira de criar uma rotina de alimentação, né? Como estou sempre com minha comida, respeito os intervalos das refeições e me alimento bem. Brinco com minha nutricionista, Gabriela Ghedini, que sou o orgulho da nutri. E sou mesmo (risos).

Como é sua dieta? E quando chuta o balde?

Na hora de montar minha dieta, a Gabriela respeita o meu paladar. Por exemplo, se ela coloca uma fruta, coloca também algo salgado, como uma castanha-do-pará salgada. Eu chuto o balde com salgado. Amo massa, gente! Mas eu bebo muita água, que ajuda a evitar a retenção de líquido, assim como chá de hibisco, chá verde. E se em algum dia eu chuto o balde, uso a lei da compensação.

 

Claudia Raia

FOTO TATO BELLINE

Jogo rápido

Quem é Claudia Raia?

Uma mulher brasileira, lutadora, empreendedora, que acredita no ser humano, positiva e fundamentalmente sonhadora e realizadora dos seus próprios sonhos.

Qual é a sua missão?

Transformar a vida das pessoas. Eu costumo dizer que os artistas são médicos da alma. A pessoa que entra no seu teatro sai de lá transformada. Essa é a minha missão: levar o sonho, a alegria, a elevação da alma de cada pessoa que está ali ouvindo a história que estou contando.

Seu sonho maior…

Que o mundo entenda que não é mais um dia. E sim menos um dia. E que tudo gira em torno do amor. Não do ódio, da ganância. Só o amor vai trazer paz, serenidade, paciência, resiliência.Meu sonho é encontrar esse mundo mais cheio de amor.

 

 

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3 Comentários

  1. Sônia Meireles

    Deliciosa a maneira que a Chantal conduz este bate papo, tão leve e agradável, com gostinho de quero mais, sempre…, Entrevista cheia de energia, claro!!!

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  2. Sonia Gandra

    Por favor, me ajudem a mostrar meu musical infantil pra Claudia, sei que ela vai gostar mas não faço a menor ideia de como mostrar. Sejam minhas fadas madrinhas. O meu musical e baseado no encontro de Kafka com uma criança que perdeu sua boneca. Uma história de solidariedade e fantasia!

    Responder
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