Após pausa, Fernanda Gentil volta às telinhas com o programa “Se Joga”

por | mar 31, 2021 | Entrevista, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Ela já foi amada, já foi cancelada, fez tudo o que quis e resolveu mudar os rumos de sua carreira quando estava no auge do sucesso. Fernanda Gentil é intensa, é uma pessoa que não tem receio de se jogar.

Depois de ficar fora do ar durante praticamente toda a pandemia – período no qual até contraiu a Covid-19 e manifestou sintomas leves da doença – agora ela está de volta. Nesta nova fase, seu programa, o “Se Joga”, não é mais uma atração diária na programação da Globo. Ele ressurgiu em março com edições semanais, nas tardes de sábado, totalmente reformulado.

Em entrevista à 29HORAS, a apresentadora carioca de 34 anos fala um pouco de seu estilo de comandar ao vivo um programa na TV aberta, de sua bem-sucedida trajetória na cobertura esportiva, de sua relação com o amor e o ódio que vêm das redes sociais, do prazer que sente ao cuidar de seus filhos e de crianças em situação de vulnerabilidade e dos ensinamentos que tirou dessa incômoda e interminável “visita” do coronavírus, que virou nossas vidas do avesso. Confira a seguir os principais trechos dessa conversa.

 

Foto - Glin+Mira

Foto – Glin+Mira

 

Como é voltar ao ar com o “Se Joga”?

Está sendo muito bom, muito gostoso. Estou matando as saudades da TV, de me comunicar com uma grande audiência. Considero um privilégio e um trabalho muito importante esse de ser uma válvula de escape, com um conteúdo leve e divertido em meio a este caos em que estamos vivendo.

Olhando para trás, por que o formato original do programa não emplacou? Qual a principal mudança nesta nova configuração semanal da atração?

Não dá para comparar um com o outro. Só o nome permaneceu o mesmo, os formatos são muito diferentes. O primeiro ficou apenas seis meses no ar. Detectamos muita coisa que precisava ser ajustada, mas nem tivemos tempo para implementar as mudanças que queríamos. Aí veio o coronavírus e o mundo virou do avesso. Até por causa da pandemia, acredito que nem faria sentido termos hoje em dia um programa alegre e animado como aquele. Essa nova versão é mais calma, mais conversada, em uma vibe dois tons abaixo daquela que a gente trabalhava no final de 2019. Esse vírus fez com que tudo e todos tivessem que se reinventar, e com o “Se Joga” não foi diferente.

 

Fernanda apresentando o programa "Se Joga" - Foto João Miguel Jr

Fernanda apresentando o programa “Se Joga” – Foto João Miguel Jr

 

Analisando em uma visão “lumênica”, arquetípica e desconstruída da sua trajetória de vivências televisivas enquanto apresentadora fenotipicamente exuberante, qual é o papel de cada um dos apresentadores no programa? Você diria que sua dupla com o Érico está mais para Chitãozinho & Xororó ou mais para Tom & Jerry? Você é a princesa, o Érico é o clown e a Tati Machado é a fada? Você é a Mônica, o Érico é o Cebolinha e a Tati é a Magali?

Que pergunta maravilhosa! Embarcando na validação desse B.O. coletivo que você usa a seu favor nessa posição de entrevistador/opressor, gostaria de ressignificar a afirmação feita nessa jornada. A verdade é que cada um é o que é: a Fernanda é a Fernanda, o Érico é o Érico e a Tati é a Tati. O Érico faz mais reportagens gravadas e links ao vivo, a Tati é mais aquela coisa bem própria do GShow (cobertura do “BBB”, spoilers das novelas e fofocas dos artistas) e eu me encarrego mais da ancoragem, no estúdio, apesar de eventualmente aparecer também em um ou outro quadro gravado ou entrevista. Cada um abraça um dos pilares daquilo que é a essência fenotípica do “Se Joga”.

Você sente saudades do tempo em que trabalhava nas coberturas esportivas?

Eu sinto saudades porque foi muito bom, mas não sinto falta. Fiz tudo que poderia ter feito – só faltou entrevistar a craque Marta. Ri, chorei e realizei todos os sonhos que eu tinha. Trabalhei por dez anos em todos os programas esportivos da Globo, cobri três Copas do Mundo e duas Olimpíadas. Nada jamais vai ocupar o espaço que está reservado ao esporte no meu coração. Mas eu sou uma pessoa movida a desafios. Um dia decidi que precisava fazer coisas diferentes, me reinventar e partir para outra.

Foi esse trabalho no departamento de esportes que catapultou a sua carreira. Quem foi a sua maior inspiração e referência ao “se jogar” nesse jeitão descontraído de comandar uma atração do Jornalismo da Globo?

Cresci vendo a Glenda [Kozlowski], o Tadeu [Schmidt], o [Alex] Escobar e até o Tiago [Leifert], que tem mais ou menos a minha idade. Eu assistia e aprendia, cada programa dessas feras era uma aula e um prazer para quem queria trabalhar com esporte. E eu sempre digo que faço a TV que eu gosto de assistir. Então apostei na naturalidade que esses grandes apresentadores introduziram nessas coberturas. Gosto de ser vista pela audiência como uma pessoa normal, e não como um personagem ou uma boneca que vive em um pedestal.
Mas a naturalidade também abre espaço para as gafes, e nisso eu sou especialista: já estendi a mão para cumprimentar uma pessoa cega, já apareci jogando meu celular no chão, chorando no 7×1…se é esse o preço que eu tenho de pagar para ser uma pessoa mais descontraída e relax, tudo bem, eu estou mais do que disposta a pagar essa conta.

 

Foto - Glin+Mira

Foto – Glin+Mira

 

Nas redes sociais você também é muito presente e muito atuante. Como lida com os “haters”? Tem como permanecer gentil diante de tanto ódio?

Para mim, essa interação é muito importante. Gosto de estar perto das pessoas que acompanham o meu trabalho. E as redes sociais são uma ferramenta excelente para encurtar essa distância, para a gente trocar uma ideia diretamente, sem intermediação. Mas, como nem tudo é perfeito, tem também os haters. Mas eles são uma minoria numericamente insignificante. E eu, francamente, não perco minha energia com esse tipo de gente que destila raiva e desrespeito o tempo todo. Sigo plena e serena. Graças a Deus eu não tenho tempo a perder com esse tipo de radicalismo.

Vivemos em um mundo em que o cancelamento nos espreita a cada esquina. Você já foi cancelada? O que fez para reverter a situação?

É complicado julgar e condenar ou absolver alguém, e as redes sociais não são um tribunal adequado para esse tipo de veredicto. Eu já fui cancelada por ter me expressado mal e ter a minha frase transcrita de uma forma ainda mais confusa em uma entrevista que dei à “Folha de S. Paulo”. Foi tudo um mega-mal-entendido. Como resultado, fui chamada de racista. Normalmente eu não me importaria, mas isso mexeu com os meus valores. Postei um textão e fiz uma live para me explicar e me corrigir, falando diretamente com quem me julgou. Não sei se eu consegui mudar 100% a interpretação que as pessoas fizeram do que eu falei, mas eu garanto que na verdade penso muito parecido com as pessoas que me cancelaram. Se eu visse alguém dizendo a bobagem que ficou parecendo que eu havia falado, eu também cancelaria essa pessoa.

E quanto ao espetáculo “Sem Cerimônia”, ele tem novas apresentações previstas ou é um projeto “adormecido”?

Está no modo pausa. Em março do ano passado, tínhamos várias sessões totalmente vendidas, com lotação total, mas aí veio a pandemia e tudo infelizmente teve de ser colocado em stand by. Não temos nenhuma previsão de retorno, ao menos no curto prazo.

 

Fernanda no espetáculo "Sem Cerimônia" (Foto - Juliana Hilal)

Fernanda no espetáculo “Sem Cerimônia” (Foto – Juliana Hilal)

 

Em 2019, tivemos a oportunidade de conferir seu talento como atriz no filme “Ela Disse, Ele Disse”. Tem alguma novidade sendo gestada nessa área?

Quando eu saí do Esporte Espetacular, quis fazer de tudo. Fiz filme, fiz o “Sem Cerimônia” no teatro, fiz palestras motivacionais, fiz publicidade, fiz o que apareceu pela frente. E gostei muito de tudo que fiz. Neste exato momento, não tenho nenhum projeto novo nessa área, mas um dia posso voltar a atuar, sim, por que não? Não costumo fechar as portas para nenhuma possibilidade – até porque, quanto mais portas e janelas abertas a gente mantém, mais iluminada a gente fica!

Por falar em gestação, você tem um filho de seu casamento com o empresário Matheus Braga e, em 2009, adotou Lucas, que perdeu a mãe quando tinha apenas um ano de idade. Agora, casada com a jornalista Priscila Montandon, pretende ter mais filhos e povoar ainda mais a sua casa?

Minha missão nessa vida é “criar gente”. E eu faço isso com um prazer enorme. Nesse processo de ensinar, de nutrir e de educar, quem ganha mais é a gente. É uma evolução conjunta que não dá para mensurar e explicar. E ainda tem o amor, os sentimentos envolvidos. Se eu tiver condições geográficas (espaço) e financeiras (dinheiro) vou ter mais filhos, sim, claro! Pelo menos mais um eu e a Priscila vamos incorporar em breve à nossa família.

 

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon - Foto Arquivo Pessoal

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon – Foto Arquivo Pessoal

 

Qual a sua ligação com a ONG Mundo Caslu e o que te levou a se engajar nesse trabalho tão bonito que a entidade faz com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social?

Sou uma das fundadoras da entidade, que nasceu em 2013, inspirada justamente na história do Lucas. A propósito, “Caslu” é “Lucas” ao contrário. O Lucas perdeu a mãe dele muito cedo, foi uma dor imensa. Mas ele foi acolhido e hoje tem uma vida muito feliz. Iniciamos os trabalhos na Caslu para ajudar os outros Lucas que não têm ninguém. A ONG se sustenta apenas com a venda de camisetas. Fazemos quatro campanhas de arrecadação por ano e ajudamos várias instituições beneficentes dedicadas a crianças abandonadas. Nunca doamos dinheiro, entregamos o que essas entidades precisam: alimentos, roupas, remédios, móveis, obras etc. Em 2020, vendemos muitas camisetas. A solidariedade é muito mais contagiosa do que esse vírus!

O que mudou na sua vida com essa pandemia? Do “velho normal”, o que você não quer mais que volte, que hábito não quer mais retomar?

Mudou simplesmente tudo: a maneira de viver, de amar, de pensar, de agradecer… Não dá para alguém permanecer do mesmo jeito depois que tudo isso passar. Não faz sentido ter lutado tanto para sobreviver e não tirar nenhuma lição dessa fase tão difícil. Quando essa loucura acabar, eu quero abandonar a correria, quero desacelerar. Meu espetáculo, “Sem Cerimônia”, falava um pouco disso: de valorizar as pequenas coisas, de aproveitar cada momento. É para isso o que eu quero ter mais tempo.

 

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon e os filhos - Foto Arquivo Pessoal

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon e os filhos – Foto Arquivo Pessoal

 

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