Rádio Vozes: Férias? Festas? Verão? Nos perguntamos o que vai ser deste fim de ano

por | dez 16, 2020 | Coluna, Música | 0 Comentários

Em tempos de ameaça invisível, entre a promessa da vacina e o medo sensato das aglomerações nas férias, nas festas e no verão, o melhor é não nadar contra a corrente. Vamos curtir com nossos amores da melhor maneira. Eu, como sempre, recomendo que a música esteja ao seu lado.

E volto a falar daquela deliciosa experiência de ouvir discos inteiros prestando atenção aos detalhes. É como beber uma bela taça de vinho e saber de onde ele vem. Se o vinho é muito bom, pode ser gostoso saber de que uva, ou uvas, ele foi feito. Envelheceu em ânforas? Onde fica o vinhedo?

Bom, abra sua garrafa geladinha e experimente esta playlist fresquíssima de verão. Ainda que em emergência climática no planeta redondo que habitamos, vamos nos nutrir. Que tal começar com Erasmo Carlos nos anos 1970 para entrar no clima paz e amor? Nunca é demais. O LP “Carlos, Erasmo” foi lançado em 1971 e abre com a deliciosa “De Noite na Cama”, escrita por Caetano Veloso especialmente para o Tremendão da Jovem Guarda, que aos 30 anos buscava novos ares musicais. E, de fato, o disco é o primeiro de uma série que leva Erasmo para outros lugares dentro da canção brasileira. “É Preciso Dar um Jeito, meu Amigo” é atualíssima. Ouça prestando atenção nessa letra, parceria com Roberto Carlos, que já nos anos 1970 falava que “descansar não adianta…”.

 

Foto Divulgação

 

Temos ainda no disco um incrível Jorge Ben com “Agora Ninguém Chora Mais”, uma composição de Taiguara, outra de Marcos e Paulo Sergio Valle. Na banda dois ex-mutantes, Dinho e Liminha, e arranjos do maestro Chiquinho de Moraes. Arthur Verocai, que lançou seu primeiro disco no ano seguinte, assina o arranjo de “Ciça, Ceçilia”, de Roberto e Erasmo, que foi feita para uma novela da época. Se você prestar atenção vai perceber as diferenças entre os dois maestros. Combina com um vinho gelado e uma tarde de verão com desejos de tempos melhores, sem dúvida.

Agora um outro muito recente, lançado no finalzinho de 2019. Esse você pode ouvir no cair da tarde e começo da noite para combinar com o lirismo do jovem Martins, compositor de destaque da novíssima música pernambucana. Antes do disco de estreia, ele já fazia parte dessa linda cena que para mim tem como marca a poética nordestina dos cantadores, dos repentistas, da ligação com a natureza. Como disse Manuel Bandeira, “lá faz calor também, mas lá tem brisa…”.

Por coincidência, ou não, Martins tinha 29 anos quando lançou esse álbum com produção do mago Juliano Holanda (outro grande compositor), e o disco tem o seu nome na capa. Juliano é parceiro em três canções, entre elas “Vértebra por Vértebra”, que tem arranjo e flauta de Amina Mezaache em uma gravação feita na França. Minha canção preferida do disco é “Queria ter pra te dar”, em que se pode ouvir versos como “tua voz ornamentava o meu juízo” … Eu ouço repetidas vezes! Preste atenção nos violões, nas sutilezas dos arranjos, nas letras preciosas e na voz de Martins! Uma beleza!

Assim como Erasmo deixou a Jovem Guarda por seu trabalho autoral, Martins segue adiante depois de passar por várias bandas e coletivos em Recife. Não que ainda não faça parte, mas é lindo de ver que a chegada dos 30 anos traz algumas definições também na música, não é? Tempo, compositor de destinos!

Aproveite o seu verão com saúde e boa música.

 

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