Músicas para nos distrair, educar e embalar

por | ago 25, 2020 | Coluna | 5 Comentários

Foto Divulgação | Murilo Alvesso

Músicas feitas dentro de casa: lançamentos de discos brasileiros na pandemia para nos distrair, educar e embalar.

Uma das questões que temos nos feito quase diariamente é como se manter produtivo durante essa temporada de isolamento. Estamos vivendo tempos extremos, difíceis. No mundo da música, muitos estão sem trabalho remunerado, os shows foram adiados e o que resta ao artista é se manifestar no mundo digital. Para alguns, a situação é opressiva a ponto de levar à inércia e, para outros, a saída é justamente produzir, compor, gravar, escrever. A arte tem nos salvado, a nós consumidores. E também aos artistas. Trago aqui dois exemplos de criação em tempos de Covid.

Adriana Calcanhotto lançou um trabalho que pode ser considerado um diário desses tempos dentro de casa. As canções vêm com data, como se estivessem dentro de um caderno de anotações. Foram compostas no dia a dia, a partir de estímulos internos ou dos acontecimentos no mundo. O disco se chama “” e foi gravado com a colaboração de músicos de várias partes do país, cada um em sua casa ou no estúdio com o jovem compositor paraense Arthur Nogueira, arregimentando o time.

Por isso mesmo as canções ganham novas cores e novos sotaques, é um trabalho brasileirismo, diverso ritmicamente, cheio de camadas como é o nosso tropical e antropofágico país. “Ninguém na Rua” é um batidão, no pensamento, no peito. É a música que abre o disco. Composta em 27 de março às 19 horas. Para quem, como eu, que gosta desses detalhes em uma ficha técnica, essa informação tem um sabor especial. A segunda canção é um clássico de Calcanhotto, uma dessas para tocar no rádio. “Era Só” é emocionante, romântica, fácil sem ser e com o belíssimo piano de Zé Manoel, compositor e músico pernambucano.

Assim segue o disco. São nove faixas, cada uma com a verba das vendas revertidas para um coletivo, para a favela da Maré, Rocinha, Ação Cidadania. Um trabalho absolutamente necessário e assertivo. Dá alento para quem ouve e traz em si a ação, o movimento, a responsabilidade social e comunitária. Um novo mundo.

O outro trabalho que acaba de sair é obra de uma dupla longeva, o casal Pato Fu, Fernanda Takai e John Ulhoa. É um lançamento que sai agora, enquanto escrevo essa coluna. Fernanda Takai em carreira solo é dessas delícias que o Brasil nos dá. As duas primeiras músicas são recados aos que vão melhorar o mundo, nossos filhos e filhas. “Terra Plana”, escrita por John, é uma mensagem de confiança na criação. Diante de tantas inverdades, teremos feito um bom trabalho? A segunda é de Nico Nicolaiewski, “Não Esqueça”. De ser feliz, de se apaixonar, de querer ser feliz, é linda… São dez canções com aquele astral que vem desse casal mineiro, delicado, irônico, maduro. Fernanda cantando lindamente e John compondo cada vez melhor. Participações de MakiNomiya, direto do Japão , e Virginie Boutaud, da França.

Maravilhas que a internet nos proporciona. O disco se chama “Será Que Você Vai Acreditar?” e, assim como “Só”, traz os temas que nos atravessam nesses dias. A solidão, a incerteza, o negacionismo que é preciso combater. E, claro, aquela que é uma das funções maiores da arte, nos distrair daquilo que nos desorienta. Quando você ouvir a faixa “One Day in Your Life”vai entender exatamente o que estou dizendo. Com arranjo delicioso, meio música de brinquedo levada muito a sério, voltei aos 14 anos em uma matinê de bailinho Motown. Ouça bem alto. Duvido que não balance o corpo…

A arte nos salva. A cultura traduz nosso tempo, distrai, embala e educa.

Boa audição!

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5 Comentários

  1. Tiago Fernandes

    Ótima matéria!

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    • Cainã Marley

      Trampo foda!!
      Parabéns

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  2. Ygor

    Muito interessante, vou até pesquisar sobre os albuns citados para apreciar nossa música !
    Parabéns pelo ótimo trabalho.

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  3. Renato

    Muito bom ter a arte como uma certeza em meio tantas incertezas que essa pandemia nós trouxe.

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  4. Luana Alquimim

    Texto perfeito!

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