A psicanalista Maria Homem propõe reflexões em meio às angústias da pandemia

A psicanalista Maria Homem propõe reflexões em meio às angústias da pandemia

Este ano foi difícil. A pandemia e a consequente crise econômica impactaram a saúde mental dos brasileiros. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nos meses de maio, junho e julho revelou que 80% da população brasileira se tornou mais ansiosa com o novo coronavírus. “O que não quer dizer que antes estivéssemos muito bem, mas sem dúvida vemos um aumento do sofrimento psíquico em tempos de incerteza, ameaça e risco”, analisa Maria Homem.

Como lidar com isso? A psicanalista vê duas linhas principais: ou se conversa mais sobre tudo o que vivemos – e o aumento da busca por espaços terapêuticos variados exemplifica isso – ou embarcamos na linha de comportamentos agressivos, e o ódio nas redes sociais mostra esse outro lado. “Como estamos sob a ameaça de um vírus e na miragem da morte, não é de se estranhar que as polarizações fiquem mais cruas e cada vez mais delirantes”.

Formada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) com mestrado pela Universidade de Paris VIII, Maria também é professora na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Com olhar atento e sensível, transpôs algumas das reflexões da sala de aula e das sessões de terapia para o mundo digital. Falando sobre desejo, medo e tudo o que envolve a subjetividade contemporânea, seu canal no Youtube já tem 140 mil inscritos e quase 4 milhões de visualizações.

Para Maria Homem, as redes sociais replicam as relações humanas, no que podem ter de destrutivo e clichê, e no que podem ter de descoberta e circulação de ideias. “Poder falar é uma aposta nessa segunda vertente. A vida de modo geral ficará cada vez mais híbrida, on e offline. A próxima fonte de ansiedade será: como se equilibrar nessa corda bamba, entre real e virtual?”.

 

 

 

Cantinhos seguros: restaurantes distantes de aglomerações em São Paulo

Cantinhos seguros: restaurantes distantes de aglomerações em São Paulo

O medo da muvuca e aglomerações é consenso. Entrar em filas e se sentar em mesas muito coladas não é mais admissível. Por isso, descobrir “cantinhos” na cidade com o maior número de restaurantes do país é uma jornada saborosa e interessante para aqueles que já se sentem à vontade em sair para comer.

Um bom começo é o Bistrot Venuto, nos Jardins, que agora conta com o premiado Chef Wagner Resende – e renova o cardápio presencial com suas criações da culinária francesa. “Elaborei um cardápio na medida certa, com boas entradas, pratos principais leves e clássicos da cozinha francesa revisitados e com preços acessíveis ao público”, explica o chef. As vieiras com lentilhas são excelentes pedidas para a entrada; já entre os pratos principais, o camarão ao molho de Champagne se destaca. A rabanada quente fecha o menu como uma sobremesa suave.

 

Vieiras com Lentilhas do Bristot Venuto – Foto Artur Bragança

 

Rabanada quente do Bristot Venuto – Foto Artur Bragança

 

No mesmo bairro, o recém-inaugurado Altruísta oferece uma variedade de pratos entre massas, carnes, peixes e risotos feitos artesanalmente com ingredientes selecionados de sua horta orgânica própria – localizada no topo do estabelecimento. Entre os diferenciais da casa está a seleção de cerca de 500 rótulos expostos em uma adega vertical, parte da decoração elegante e sofisticada da casa.

 

Altruísta Osteria

 

É possível degustar vinhos em doses, que compõem a carta Coravin – sistema que possibilita a degustação de vinhos em taça, sem a necessidade de abrir a garrafa. A carta é composta por 60 rótulos que variam mensalmente. As doses servidas pelo restaurante vão de R$17,90 a R$211 a taça, como a do Chardonnay francês e o Mersault, da região de Borgonha.
Entre os pratos, o Fiori di Brie e Albicocca – uma massa verde recheada com queijo brie e geléia de damasco, servida na manteiga de sálvia da horta própria – e o Risotto Al Limone e Frutti di Mare, com limão siciliano, lula, polvo e camarão são boas opções para um almoço italiano, mas ainda sim leve e sempre longe das aglomerações.

 

 

 

 

As mil e uma formas de Marcelo D2

As mil e uma formas de Marcelo D2

MARCELO MALDONADO PEIXOTO, o D2, está com 53 anos, apesar de não aparentar. Este ano, casou-se com a produtora Luiza Machado, vinte anos mais jovem. É o seu quarto matrimônio. Pai de Stefan, 29, Lourdes, 20, Luca, 18, e Maria Joana, 16, avô de Giovana, 7, e Calki, de dois meses, o músico carioca que ganhou fama à frente do Planet Hemp agregou mais números à sua história. Depois de encarar 150 horas de lives em seu canal da plataforma Twitch, trocando ideias com duas dezenas de artistas e milhares de anônimos, ele lançou “Assim Tocam os Meus Tambores”, seu oitavo trabalho solo. Gestado de forma colaborativa, ao vivo, como nunca houve na história da indústria fonográfica nacional, o álbum multimídia veio ao mundo no fim de setembro. “Todos me influenciaram, apontando ideias”, diz o cantor.

Foi no estúdio de sua casa, ao lado da esposa, diretora executiva do projeto todo – que envolve também um filme no YouTube – que D2 se libertou de uma prostração inicial causada pela pandemia e que o fez odiar, em um primeiro momento, o Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criado. Bastou, porém, começar a rimar e sentir o abraço virtual de quem o quer bem que tudo se desenrolou. “Comecei a fazer música e aí percebi que, na real, estava com raiva de certas pessoas da cidade”, diz ele, direcionando a fala principalmente à classe política.

A experiência deu tão certo que o músico e sua esposa já estão trabalhando em um segundo volume do álbum. Além dessa revelação, o carioca conta, na entrevista a seguir, como o samba o influencia e o leva à sua ancestralidade, e reflete sobre sua porção avô.

 

FOTO RONALDO LAND

 

Como foi a experiência de produzir o novo álbum por meio de lives a partir da participação de músicos e anônimos que acessavam o seu canal na Twitch?

Foi o (DJ) Zegon, do Tropikillaz, quem me chamou para fazer lives na Twitch, que eu não conhecia até então. Aí fui trocar uma ideia com o meu filho, Luca, quem me disse: “Pai, a Twitch é o futuro”. Ele me explicou como funcionava a coisa e foi avassalador. É um outro mundo, um universo de comunidade. Vivi algo parecido na época do My Space. Na Twitch, rola o sentimento de que todos estão fazendo algo juntos de verdade. Por isso o disco deu tão certo. Eu fiz um disco com mil, cinco mil pessoas, dentro de uma sala virtual. Todos me influenciaram, apontando ideias. Foi uma descoberta e muito confortável, porque eu estava
dentro do estúdio da minha casa e não me desloquei para outro fora dela. Eu tenho uma alma inquieta. A procura vale mais do que a batida perfeita e é isso que tem me movido. Levantar e procurar algo novo.

 

Quais foram os pitacos de anônimos que você mais se recorda durante o processo?

Eu não estava contente com a faixa “Malungoforte” e pensava em descartá-la. Aí uma garota, no chat, disse que a música era foda e outras pessoas insistiram que eu chamasse o Russo Passapusso, do BaianaSystem. Mandei o som para ele, que acabou encontrando a energia da música. Foi a galera quem o escolheu! E, olha só, essa é a música que está tocando nas rádios.

 

FOTO RONALDO LAND

 

O samba é muito presente em seu repertório. Qual é a memória afetiva mais marcante em relação ao ritmo?

Meus pais ouvindo samba no terreiro, em casa. Meu pai era contra música gravada. Achava que música tinha de ser ouvida ao vivo. Minha família é do candomblé e todo final de semana, então, havia os cantos do candomblé. Não tinha churrasco para pobre, porque a carne era cara. Era, então, feijoada, rabada, mulherada na cozinha e a rapaziada tocando, aquele cheiro de comida em meio aos vizinhos. Lembro de correr para lá e para cá com as crianças enquanto o pessoal tocava percussão. Isso permeou a minha infância. Quando eu tinha 10 anos, meu pai comprou um (aparelho de som) 3 x 1 e aí a gente ouvia muito João Nogueira. Meu pai o amava. Ouvi tanto João Nogueira que digo que sou filho bastardo dele. Também escutávamos um pouco de música americana, James Brown, Aretha Franklin. Mas, cara, a gente era uma família de subúrbio e a música, também. Então, era samba, samba rock do Bebeto, Jorge Ben. Eu tenho orgulho de ser suburbano. Isso é importante demais para o quanto eu amo a minha história, a cidade de onde eu vim.

 

O que o samba entrega ao som que você faz?

A minha ancestralidade. Quando eu sambo dentro de mim, são os meus ancestrais, a história da minha vida se manifestando. Meus parentes têm uma história muito obscura. A minha avó materna veio do Maranhão trazida por uma família da zona sul do Rio com a promessa que estudaria aqui. Chegou com 13 anos e virou empregada doméstica e se casou com o meu avô, um cara super violento, malandrão. O samba traz esse lugar, cutuca essas coisas obscuras. Nesse disco, eu fui deixando ser levado. No próximo, irei atrás da ancestralidade, do meu Cacique de Ramos, do Jongo da Serrinha, Maracatu, Tambor de Crioula do Maranhão.

 

FOTO ALEX CARVALHO

 

Você se criou no Andaraí e em Madureira. Mais tarde, mudou-se para a zona oeste. Que Rio de Janeiro é esse, hoje, que você enxerga?

Eu comecei a quarentena odiando a cidade do (prefeito Marcelo) Crivella. No Rio de Janeiro, existe um certo apartheid: do túnel para cá e do túnel para lá. Nesse sentido, é uma cidade meio suja, pesada, saquaé? Eu estava com raiva da cidade. Aí comecei a fazer música e percebi que, na real, estava com raiva de certas pessoas. Eu sou do Rio de Janeiro do Zeca Pagodinho e não do Bolsonaro. Sou do Rio de Janeiro do Paulinho da Viola. Do Luiz Antonio Simas. Da Teresa Cristina. Sou desse Rio de Janeiro. O Rio tinha uma coisa tão legal, da malandragem no bom sentido, do saber viver com pouco. O espírito carioca vem se perdendo.

 

Você já disse que pessoas sensíveis sofrem mais com a pandemia, o isolamento. Poderia explica melhor?

A Maria Joana, minha filha de 16 anos, fica tocada com tudo que acontece no mundo. Esse momento abala, mexe com ela, machuca. Eu sou um cara sensível e descarrego tudo na arte. É a minha maneira de balancear tudo e não sofrer tanto. Quando faço uma música, um filme, clipe, me livro um pouco das minhas frustações. Eu estava envolvido com o disco do Planet Hemp, que é crítica social, e ia a fundo nesse problema. E cair na realidade onde o país se encontra, na mão de milicianos, dessa galera que representa o que há de pior no ser humano, fez eu pensar que deveria sair do Brasil. Há muitos anos, tenho vontade de morar na California. Sempre que inicio um movimento de ir para lá, algo faz eu permanecer aqui. Ainda é difícil entender como o Brasil entrou nesse estágio. O que fez o país acreditar em um plano perverso? É falta de valores.

 

FOTO ALEX CARVALHO

 

Como a arte tem resistido em meio à pandemia?

Curioso que o meu empresário, um dia, me disse que um governo como o nosso seria melhor para mim, argumentando que eu criaria coisa para caralho, sairia do conforto e iria para a batalha. E foi exatamente o que aconteceu. Em um primeiro momento, eu não entendi que o combate era por meio da arte. Porque o que esse tipo de política quer é levar o embate quase para o lado físico, igualar lá embaixo. Não existe ciência, cultura, intelecto nenhum (para o Governo Federal). E o papel da arte é, ao contrário, fugir desse baixo nível. Uma sociedade sem intelecto não é vida, transforma todos em zumbis. Olhando para trás – hoje, é mais fácil perceber –, eu estava há mais de um ano em um processo de briga, luta, raiva, contra esse governo. Ele representa tudo o que eu venho lutando contra no Rio de Janeiro, há vinte e cinco anos: políticos milicianos que constroem um clã familiar. Quando chegou a pandemia, eu comecei a entrar em pânico, porque o país estava pegando fogo e eu, preso dentro de casa. Até que chegou esse convite da Twitch para fazer lives. Isso me tirou daquele lugar e me colocou em outro, criativo. Aí surgiu a ideia do álbum, a cereja do bolo, para me resgatar daquele lugar de ódio e raiva e me transportar para o da empatia e do amor, que é onde me encontro.

 

Você escreveu e dirigiu a produção de “Assim Tocam os Meus Tambores”, inclusive o média-metragem, filmado em preto e branco, que acompanha o álbum. Quando essas outras facetas, além de rapper, passaram a se manifestar?

Eu sou oriundo do hip-hop, punk rock e skate. A cultura do do it yourself do punk rock é muito forte. E o hip hop é amparado em quatro elementos, a dança, o DJ (trilha sonora), o MC, que é a verbalização de tudo, e o grafite, que é o visual. Quando eu mergulhei na cultura hip-hop, abriu-se uma porta e vi que tudo era possível. Eu podia usar Picasso e Monet e transformá-los em uma arte minha, uma arte de apropriação. Como o Marcel Duchamp, que pegou um mictório e o expôs em uma galeria. No hip-hop, eu posso lançar mão de uma entrevista e transformá-la em um rap. Ou seja, a coisa sempre foi muito mais do que cantar rap para mim e não tem mais volta. Eu abri uma produtora coma Luiza, a Pupila Dilatada, e estamos embrenhados nisso. Já tinha feito um filme do álbum “Amar é para os fortes” (2018), que irá virar uma série comigo na direção. E, agora, tem esse do Assim Tocam os Meus Tambores, em PB. A minha filha, Maria Joana, deu a melhor definição de preto e branco. Ela diz que gosta de PB “porque a gente imagina as cores”. Eu não sabia, mas era isso que eu queria para o filme.

 

FOTO WILMORE OLIVEIRA

 

Muita gente acha que se casar, hoje, é caretice. Você está no quarto matrimônio. Por que essa é a sua opção?

Terceiro! Peraí, terceiro? Não, quarto, perdi uma no caminho (risos). Casar tem muito a ver com a vontade e disposição de fazer outra pessoa feliz. Eu sou muito egocêntrico. Dividir a vida com alguém me ajuda muito a confrontar o meu lado egoísta. E a compartilhar, dizer que amo a pessoa com quem, então, irei dividir as coisas. E sou um sonhador, cara. Como diz o Raul Seixas, “quando você sonha sozinho, é só um sonho; quando sonhamos a dois, é a realidade”. Sonhar a dois é transformar tudo em realidade. Eu sou um cara romântico e apaixonado. Por tudo. Pela vida. Pela música. Pela minha mulher. Pelos filhos. Hoje, chamei a minha mulher para a gente tomar café em um lugarzinho aqui perto que a amamos. E isso, cara, é muito maneiro! Dividir a vida com alguém, ter alguém para dividir os sonhos é muito importante.

 

O que você aprende na condição de avô?

Quando os netos nascem – eu tenho dois agora – a gente não tem essa responsabilidade de criar. Só precisa amar! E isso é muito bom. Muita gente encontra isso em uma relação com os pets. Pessoa que tem amor por cachorro, cavalo, gato, que não precisam me dar nada. E com neto é meio parecido no sentido que você só quer amar aquela pessoinha. E tem o legado também. Quando vejo o meu filho sendo um bom pai, é o meu legado, é o que eu sou, o que eu fiz nessa vida. Minhas sementinhas estão em outras hortas.

 

Marcelo D2 com a esposa, Luiza Machado; e a equipe Cochi Guimarães, Cauã Csi, Maria Trinidad Godoy, Luca Peixoto (filho), Marina Frejat, Ronaldo Land, Luan Maldonado

 

Revista Online: Edição 131 – RJ

Revista Online: Edição 131 – RJ

Sabrina Parlatore aposta na carreira musical e é voz ativa na luta contra o câncer de mama

Sabrina Parlatore aposta na carreira musical e é voz ativa na luta contra o câncer de mama

Sabrina Parlatore nasceu em São Paulo, há 46 anos. Na adolescência, viveu em Campinas e, aos 16, iniciou sua carreira profissional como modelo, com direito a várias viagens ao Japão. De volta ao Brasil, tornou-se uma das mais queridas VJs da MTV Brasil. Esse trabalho foi a concretização de dois dos sonhos dessa linda garota de rosto enigmático e corpo esguio de 1,68m: atuar na TV e trabalhar com música.
Depois passou pela Band, onde chegou a apresentar três programas ao vivo, no horário nobre, e pela TV Cultura, comandando o “Vitrine”. Na TV por assinatura, participou de grandes coberturas dos canais TNT (na transmissão das cerimônias do Oscar) e Glitz (que acompanhava os desfiles da SPFW).

Nos últimos seis anos, vem deixando sua porção formiga em modo “pause” para colocar sua faceta de cigarra no modo “on”. Nessa nova fase, investe na sua carreira de cantora. “É um caminho difícil, mas é o que eu quero para a minha vida. No fundo, acho que eu sempre quis isso”, diz.

Romântica, delicada e elegante, tem também um lado forte e guerreiro. Foi com essa valentia e com muita determinação que ela enfrentou o câncer de mama que detectou em 2015. Após superar a doença, Sabrina Parlatore decidiu compartilhar sua história para ajudar e inspirar outras mulheres que também passam por esse doloroso tratamento. Na conversa a seguir, ela fala um pouco disso tudo: de música, de TV e, como não poderia deixar de ser nesses tempos, de pandemia.

FOTO VALERIO TRABANCO

 

Há poucos meses, muitos ex-VJs celebraram os 30 anos da estreia da MTV Brasil. Do que você mais sente falta daquele tempo em que trabalhou na emissora?
Tenho saudade daquele grupo que pensava e criava coletivamente. A gente trabalhava e produzia tudo muito junto, fisicamente junto. Tínhamos um acesso muito direto aos shows, aos artistas… A troca de experiências e de ideias era muito intensa e produtiva. Foi uma época boa demais. Hoje cada um fica muito na sua, os relacionamentos são quase todos virtuais.

 

Na sua opinião, está faltando música na TV?
A TV, hoje, é quase uma mídia obsoleta. A televisão não é mais um veículo aberto aos músicos e a quem busca por música. Claro que ainda existem alguns raros programas musicais – como o “The Voice”, que é uma competição que eu adoro assistir – mas a verdade é que o jeito de consumir música mudou. A TV não é mais o local onde as pessoas vão ouvir aquilo que querem. A internet revolucionou completamente o mercado fonográfico. As gravadoras e as TVs viraram coisas do passado. Hoje em dia os músicos produzem seu próprio conteúdo e são também o meio de comunicação, pelas suas redes sociais e por meio das plataformas de streaming.

 

Cantando em 2017 na
competição musical “Popstar”, da TV Globo (Foto divulgação | TV Globo)

 

Na MTV, sempre que podia, você cantava em programas como o “Luau”. Antes dessas “brincadeiras”, você já havia cantado, teve uma banda na adolescência? Quando cantou profissionalmente pela primeira vez?
Eu gostava mesmo de dar umas cantaroladas… Mas essas foram as minhas primeiras “performances” como cantora. Nunca tive banda. A minha estreia em um palco foi numa curta temporada de shows que fiz no bar do Terraço Itália, em 2014. Foi ótimo, apesar da minha total inexperiência. Tive muito medo, estava insegura quanto à reação da plateia, não tinha nenhuma certeza sobre o meu talento. Mas no final acabou tudo bem. A receptividade foi ótima, tive excelentes feedbacks. Me senti estimulada a continuar.

 

E hoje, como está a sua carreira musical? Algum show ou lançamento no horizonte?
Comecei a acreditar e investir com mais dedicação nessa minha nova carreira a partir de 2017, depois de participar do programa “Popstar”, da Globo, e conseguir chegar à final. Trabalhar com música não é fácil. É um caminho difícil. Recentemente, lancei dois singles no Spotify e gravei um dueto com a Márcia Tauil para um álbum em homenagem à obra do Roberto Menescal. Agora em 2020, durante o auge do confinamento por causa da pandemia, produzi mais um clipe, com a música “Quero Você”. Eu mesma filmei a minha parte aqui em casa, e os bailarinos que dançam enquanto eu canto também gravaram suas participações em seus lares.
Enfim, tenho vários projetos, mas nada muito definido, tudo meio em “pause”. O que eu sei é que vou começar a produzir mais para o YouTube e para o Spotify. Como eu já disse, hoje em dia cada artista é quem gera seu conteúdo e comanda sua divulgação. O digital é o futuro, ou melhor, já é o presente! É onde o público está, é onde os investimentos estão, é onde eu pretendo ter uma maior presença.

 

Sabrina entrevistando Caetano Veloso nos estúdios da MTV

 

Além da música, a que outras atividades você tem se dedicado?
Atuo como Mestre de Cerimônias para os mais variados eventos corporativos e também participo de muitas campanhas e trabalhos para ajudar e inspirar as muitas mulheres que passam pelo doloroso tratamento do câncer de mama. Em 2015, descobri que era uma delas, que eu também era uma vítima dessa terrível doença. As mulheres gostam de ouvir os meus testemunhos, querem saber como eu fiz para superar essa doença horrorosa. E não são só elas que gostam – eu também me sinto bem, fico feliz em saber que, de alguma forma, estou auxiliando na batalha delas.

 

Você trabalhou muito neste Outubro Rosa?
Sou uma ativista dessa causa já há alguns anos e percebo que o engajamento das empresas e de várias entidades ligadas à Saúde vem crescendo bastante. Acho que nunca trabalhei tanto como neste Outubro Rosa de 2020. Por causa da pandemia, foi tudo bem diferente. Cheguei a comandar da minha casa eventos acompanhados por mais de 2.000 pessoas! Essas lives são uma loucura. Fiz um montão de palestras, dei dezenas de depoimentos, gravei mensagens para campanhas de grandes marcas… Foi intenso.

 

Essa doença foi um grande choque em sua vida, não? Você ficou mais de dois anos sem menstruar, viu cair 40% do seu cabelo e ainda perdeu cílios e sobrancelhas. De que formas o câncer alterou a sua rotina?
O diagnóstico foi uma descoberta muito impactante. Eu estava com 40 anos, tranquila, não esperava isso. Ninguém espera, aliás. Tive a sorte de detectar o tumor ainda em um estágio inicial, com 95% de chances de cura, mas a desconfiança e a incerteza são sensações duras de superar: por que 95% e não 100% de chances? Mudei todos os meus planos. Parei tudo para me cuidar. Duas semanas depois da detecção, fiz uma cirurgia para a retirada do tumor e dei início à parte mais hardcore do tratamento: passei por 16 sessões de quimioterapia e 33 sessões de radioterapia. O tratamento é pesado, a recuperação é demorada e eu ainda tive sequelas. Na 11ª sessão de quimioterapia, achei que o meu corpo não estava aguentando mais. Tive falta de ar, não tinha energia para nada. Fala-se muito da queda de cabelo e dos enjoos, mas tem coisa pior. São mais de 30 sintomas…

 

FOTO VALERIO TRABANCO

 

Você se sente 100% curada?
Hoje eu me sinto curada, sim, mas é impossível dizer que estou 100% livre da doença. Toda mulher precisa estar permanentemente alerta para o câncer de mama. Ele ataca de adolescentes a idosas. Todas estão sujeitas, ninguém está imune.

 

Qual a mensagem que você gostaria de dar às mulheres que estão sofrendo com esta terrível doença e que estão encarando a batalha contra o câncer?
Digo que elas precisam ser fortes. Física e psicologicamente. Como na música, é preciso estar atenta e forte. Peço que todas estejam sempre atentas – esta é uma tarefa para o ano todo, não só para o Outubro Rosa. É importante fazer o autoexame com frequência e fazer consultas regulares com ginecologistas e mastologistas. Eu sempre estou com os meus exames em dia, sou muito disciplinada. A prevenção e o diagnóstico precoce são os melhores remédios.

 

E quanto à pandemia, ela alterou muito a sua vida? Qual vai ser a primeira coisa que você fará depois da vacina?
Passei por maus momentos. O pior foi a perda do meu grande amigo Rodrigo Rodrigues, que morreu da maldita Covid (o apresentador do SporTV foi colega de Sabrina Parlatore no comando do “Vitrine”, na TV Cultura). O distanciamento social e o isolamento foram muito desconfortáveis. Eu tive medo, me senti frágil e vulnerável. Durante a fase mais aguda da quarentena, minha meta era apenas sobreviver. 2020 foi um ano terrível, de muitas perdas para muita gente. Mas assim é a história da Humanidade. Certamente já houve períodos até piores, com mais guerras, mais catástrofes climáticas, mais mortes. Esta não é primeira pandemia e, infelizmente, não será a última.
Aguardo ansiosamente pela vacina. Venha logo! Não vejo a hora de reencontrar amigos e familiares, de viajar sem receio, de sair à rua e respirar sem temor. Quero voltar a me sentir totalmente livre!

 

Sabrina em seu primeiro show, no bar do Terraço Itália, em São Paulo


Non Stop

Quatro das músicas prediletas de Sabrina Parlatore para você ouvir enquanto lê esta matéria da 29HORAS

“What’s Going On”
Marvin Gaye, 1971
Adoro o “pacote completo” desta música: a letra questionadora (que fala da Guerra do Vietnã), a melodia linda e a interpretação deste cantor que é tudo de bom.

“Não Sei Dançar”
Marina Lima, 1991
“Para mim, a Marina é uma das maiores artistas que este país já teve. Ela é sempre moderna e surpreendente. Tem uma coisa estética ímpar, um timbre de voz único, uma interpretação contida e, ao mesmo tempo, eloquente.”

“Superwoman”
Stevie Wonder, 1972
“O jeito que o Stevie Wonder construiu esta canção, com duas partes totalmente diferentes e uma mais linda do que a outra, é algo de outro mundo. Como ele próprio, um ET maravilhoso!”

“For All We Know”
Johnny Hartman, 1947
“É romântica, é perfeita. Já foi gravada por artistas como Billie Holliday e Nina Simone, mas esta versão, da trilha do filme “As Pontes de Madison”, é a mais linda. Toda vez que eu a escuto, me apaixono novamente.”