Projetos para admirar e conhecer a multiplicidade artística da música brasileira

Projetos para admirar e conhecer a multiplicidade artística da música brasileira

Tirei o título dessa coluna da canção de Adriana Calcanhotto (capa Rio de Janeiro desta edição da 29HORAS) que canta a obra do artista plástico Hélio Oiticica. O parangolé é uma instalação usável, um retângulo de pano que se pode vestir. Oiticica também assina a instalação Tropicália, que deu nome ao movimento que revolucionou a música brasileira no final dos anos 1960. E começo com ele porque quero falar dessa capacidade tão brasileira de misturar linguagens e criar coisas novas, originais, justamente com a sobreposição das artes. Música, artes plásticas, cinema, teatro, fotografia, dança… é sem fim.

A Casa de Francisca é um exemplo lindo. Instalada em um casarão histórico do centro de São Paulo, a Francisca é uma casa de música. Agora nos tempos da pandemia sofreu como todas as casas de shows com a ausência de público. Rubens Amatto, proprietário e curador, ele mesmo um artista, um designer incrível, teve a brilhante ideia de usar a Francisca como cenário para uma dessas invenções a la Oiticica. Criou o projeto “Até o Fim, Cantar”. Um deleite para se apreciar em casa, como deve ser. Com todos os protocolos, a Casa de Francisca recebe artistas para uma apresentação musical dirigida por profissionais do cinema. Cada diretor com um olhar diferente.

Cada músico com sua proposta. Siba filmado por Lô Politi, Lirinha por Bárbara Paz, Metá Metá por Heitor Dhalia, Mariana Aydar por Vera Egito, e na estreia Tulipa Ruiz por Lais Bodanzky, a curadora cinematográfica da empreitada. São lives com cara de cinema, com corte feito ao vivo por profissionais da montagem como a premiada Helena Maura, com equipe de fotografia e câmeras coordenada por Thais Taverna, que fazem parte do coletivo DAFB, Coletivo de Mulheres e Pessoas Transgênero do Departamento de Fotografia do Cinema Brasileiro.

O projeto tem ainda a preocupação de nutrir o tão maltratado ecossistema da cultura, por isso é importante a contribuição, pagar para assistir é bonito, digno e nada caro. Tem ainda opções de ingressos populares, de apoio ao espetáculo e uma cota de ingressos gratuitos. A programação fica disponível sob demanda e já tem um acervo muito bom e diverso na linguagem, nos gêneros e estilos musicais. Lirinha é teatral, Siba é festa de rua pernambucana, Tulipa é filme noir…

 

 

E peço licença para dar um outro exemplo, esse feito por mim. Desde março, no início do isolamento, tenho colocado no ar o podcast “Peixe Voador”. Já são mais de 50 episódios de conversa sobre literatura, poesia, cultura brasileira, ferramentas para superar a ansiedade, a angústia, o medo do que estamos vivendo coletivamente. Conversa como no rádio. Fluída, leve, espontânea. A música aparece em citações, é inspiração, mas não o tema principal. Já tive dois convidados ilustres, o poeta Antônio Cícero e Adriana Calcanhotto, que não por acaso abre e fecha essa coluna. O Peixe Voador é o meu parangolé.

 


Links para escutar e ver:

www.radiovozes.com

www.casadefrancisca.art.br